Descomplicando os investimentos

Luis Cláudio é Diretor Geral da Ágora Investimentos. Pós-graduado em mercado de capitais, ele soma mais de 35 anos de experiência no mercado financeiro. O seu objetivo é ajudar as pessoas que querem investir para concretizarem seus objetivos financeiros por meio da educação, análise e acesso à produtos de maneira acessível e descomplicada.

Escreve na primeira quarta-feira de todo mês.

Luis Cláudio Freitas

Renda fixa: qual a melhor opção em tempos de juros em alta?

Antes de mais nada, é preciso observar e respeitar seu perfil de investidor

Como selecionar as alternativas mais adequadas para proteger e rentabilizar sua carteira de investimentos? (Foto: Envato Elements)
  • Como o investidor pode se beneficiar desse movimento de aumento da taxa de juros e escolher o melhor investimento para rentabilizar melhor seus recursos?
  • Entretanto, é preciso considerar que mesmo na renda fixa o investidor precisa se atentar a alguns riscos

Sob a ótica de descomplicar os investimentos, hoje vou falar sobre como investir em Renda fixa tendo em vista o cenário econômico atual. Temos sentido no bolso os efeitos da crise que se instaurou tanto no cenário local quanto internacional: elevação nas taxas de juros, aumento nos preços de produtos e serviços, novas variantes da covid-19 e instabilidades políticas e econômicas.

Diante de um cenário incerto, como o investidor pode selecionar, dentre tantas alternativas, as mais adequadas para proteger e rentabilizar sua carteira de investimentos?

Na última reunião do Copom, ocorrida em 16 de março, foi definido um novo aumento na taxa Selic, que saiu de 10,75% para 11,75% ao ano, tornando investimentos em renda fixa ainda mais atrativos. A grande questão é: como o investidor pode se beneficiar desse movimento de aumento da taxa de juros e escolher o melhor investimento para rentabilizar melhor seus recursos?

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Precisamos considerar alguns pontos. Antes de mais nada, é preciso observar e respeitar seu perfil de investidor. Na renda fixa as condições de rentabilidade são conhecidas logo no ato do investimento, o que concede certa previsibilidade no momento da aplicação. Entretanto, é preciso considerar que mesmo na renda fixa o investidor precisa se atentar a alguns riscos:

  • Risco de liquidez: é importante traçar quais são os seus objetivos/metas financeiras no curto, médio e longo prazo para buscar investimentos com prazos de vencimento que estejam em linha com a realização destes objetivos. Por exemplo, existem investimentos que só podem ser resgatados no vencimento ou mesmo títulos que são pouco negociados no mercado secundário. Nesses casos a liquidez poderá ser um obstáculo ao investidor e ele ficará travado até o vencimento do título que pode ser de 1, 2, 3 anos ou mais.
  • Risco de mercado: apesar das condições de rentabilidade pré-definidas no ato do investimento, a cotação do título poderá oscilar e isso acontece porque o mercado tende a ajustar suas expectativas diante de novos fatos e acontecimentos que interfiram na tendência da taxa Selic. Mas fique tranquilo, pois se você carregar o título até o vencimento a rentabilidade será igual a acordada. Somente poderá sofrer deságio caso tenha que resgatar antes do prazo e aí você estará sujeito as condições e preços de mercado.
  • Risco de Crédito: a maneira mais simples de explicar esse tipo de risco é relembrar que quando se investe em renda fixa o investidor está “emprestando” dinheiro para o emissor. Nesse sentido, deve levar em consideração a capacidade de o emissor do título honrar o pagamento, seja na data de vencimento ou na situação de uma venda antecipada. Nesse caso preste atenção ao rating atribuído ao título (sua classificação de risco calculada e informada por uma das agências de classificação de risco) e também se há cobertura do FGC-Fundo Garantidor de Crédito que, no caso de inadimplência do emissor, irá garantir a restituição até R$ 250 mil por CPF.

Supondo que as variáveis se manterão inalteradas, consideremos o cenário hipotético:

  • Taxa Selic em 11,75%
  • IPCA em 10,54%
  • Taxa pré em 12,09%
  • Valor a ser investido: R$ 1.000
  • Prazo de investimento: 12 meses
  • Desprezaremos o Imposto de Renda nos exemplos, mas este é um fator importante para você considerar na escolha do título.
  1. Investimento em renda fixa pré-fixada

Hoje podemos encontrar um ativo pré-fixado a uma taxa de 12,09% a.a., o qual no final de um ano irá render R$ 120,90. Pode parecer loucura, mas este mesmo título em janeiro de 2021 pagava uma taxa de 2,78%, ou seja, quem aplicou naquela ocasião teve após 12 meses rendimento de R$ 27,80!

Nesse caso, o investidor traçou seus objetivos a uma taxa determinada e pactuada naquele momento, sem se preocupar com a possível variação da taxa de juros até o vencimento. Em um cenário de aumento da taxa de juros ele não surfou nessa onda, mas também em um cenário de baixa da taxa de juros e com uma taxa pré-fixada estaria protegido dessa baixa. É importante conhecer as projeções de mercado antes de aplicar seu dinheiro.

  1. Investimento em renda fixa em um ativo com taxa pós-fixada

Se você aplicou em um ativo a uma taxa pós-fixada atrelada a 100% do CDI, acompanhará tanto a alta como a baixa da taxa de juros, ficando exposto a oscilação de mercado. Quem investiu nessa modalidade no início de janeiro de 2021 iniciou com uma taxa de 2% que lhe rendia sobre R$ 1.000 apenas R$ 20 ao ano. Se a pessoa manteve esse mesmo investimento ao longo do tempo, esse título pela nova taxa Selic de 11,75% a.a. passa a lhe render R$ 117,50 ao ano.

Nesse caso, se o investidor carregou esse título até seu vencimento foi se beneficiando da alta da taxa de juros que foi ocorrendo ao longo de 2021 até o momento atual. Novamente, se o investidor tivesse verificado qual o cenário e as projeções de mercado, teria ainda mais razões para aplicar nesse tipo de investimento no começo de 2021.

  1. Investimento em renda fixa atrelado a um indexador de mercado + taxa pré-fixada

Existem títulos disponíveis atrelados a um indexador de mercado, como o IPCA, somado a uma taxa pré-fixada. Nesse caso o investidor está observando dois cenários: um na renda fixa, pela taxa pré-fixada, e outro na taxa pós-fixada, já que a inflação só será conhecida ao final do prazo de investimento.

Assim, entende-se que acompanhar o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor do IBGE) é o melhor cenário naquele momento pela projeção de um possível aumento da taxa. Por exemplo: um ativo indexado que tem como remuneração IPCA+5% a.a. retornará em um ano uma rentabilidade nominal de 16,07% (10,54% da taxa do IPCA + 5% da taxa pré-fixada acordada), ou R$ 160,70. Note que nesse caso, o cálculo não envolve apenas a “soma” das duas taxas e sim, sua capitalização.

O investidor escolheu um indexador que lhe garante um rendimento mínimo pela taxa pré-fixada e ainda o complemento com a taxa do indexador escolhido em um cenário de aumento de preços. Mais uma vez, observe a importância e se verificar as projeções de mercado para o indexador escolhido.

Você reparou na amplitude das variações das taxas em um espaço de apenas um ano? Pois é, a economia é extremamente dinâmica e seu principal aliado para navegar nestes mares, caro investidor, é justamente o conhecimento e informação de qualidade. Ainda assim, sempre teremos novas variáveis e fatos que influenciarão as perspectivas e projeções econômicas.

É essencial, através da diversificação, encontrar o equilíbrio e as melhores estratégias, de acordo com os seus objetivos, para garantir bons retornos em momentos de alta ou baixa de juros e inflação.

Espero ter ajudado com essa pílula de conhecimento. Muito obrigado e até a próxima!