- A alta do dólar e a piora das projeções inflacionária estão diretamente ligadas à deterioração fiscal do Brasil
- Embora, o IPCA esteja dentro da meta, as projeções captadas pelo Focus seguem crescentes a cada divulgação
- Hoje, a inflação acumulada em 12 meses está próxima de 4%, e a projeção para o final do ano em 4,10%
O Brasil vive aquele momento de dúvida. De um lado, alguns índices de atividade econômica e o mercado de trabalho têm surpreendido positivamente. Do outro, há incertezas inflacionárias e fiscais sobre a mesa, e piora do cenário externo. Diante desse cenário, a pergunta é: o que vai mais pesar para afetar o preço dos ativos?
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Os leitores desta carta sabem que antes de virar moda entre gestores e analistas, falávamos que a Bolsa só iria decolar com sinalizações concretas com o comprometimento do governo com a política fiscal pelo lado de corte de gastos. Aqui na MSX nunca compramos a versão do Lula pragmático do 1º mandato e nem a ideia de que o novo arcabouço seria a solução para resolver os males fiscais do Brasil.
A alta do dólar e a piora das projeções inflacionárias estão diretamente ligadas à deterioração fiscal do Brasil. Inclusive, o próprio comunicado do Copom frisou isso para justificar a manutenção da Selic em 10,5%.
Hoje, a inflação acumulada em 12 meses está próxima de 4%, e a projeção para o final do ano em 4,10%. Embora, o IPCA esteja dentro da meta, as projeções captadas pelo Focus seguem crescentes a cada divulgação, confirmando o processo de desancorarem das expectativas inflacionárias.
Risco fiscal: mesmo com juros altos, mercado acredita que inflação vai subir
Na prática, o mercado acredita que a inflação vai piorar, mesmo com a política monetária contracionista do Banco Central. Como explicar que, mesmo com juros elevados, o mercado acredita que a inflação vai subir? A explicação está no lado fiscal.
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O elevado gasto público traz consequências para a inflação por três fatores. O primeiro é que o elevado gasto potencializa a demanda acima da oferta, causando pressões nos preços. O segundo é que a política monetária perde a sua eficácia no combate à inflação. Por fim, traz aumento do dólar pela elevação do risco.
A deterioração das contas públicas somadas à falta de medidas que ataquem os problemas estruturais do crescimento das despesas estruturais do Estado brasileiro são a causa principal da nossa bolsa não ter um desempenho melhor.
O Ibovespa fica num eterno ioiô de 120.000 a 130.000 pontos, apesar dos bons ventos da atividade econômica interna.
Segundo o IBGE, nossa taxa de desemprego atingiu 6,9% em junho e a produção industrial cresceu 4,1% no mesmo mês. Sem dúvida, esses números são bem positivos.
Este bom momento da atividade econômica trouxe otimismo nos índices de confiança calculados pela FGV. Houve aumento da confiança empresarial, da construção civil e do comércio.
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Essa dualidade entre bons indicadores de atividade e confiança, com a piora do lado fiscal, traz incerteza na direção do preço dos ativos, exigindo que o investidor faça uma boa seleção de ações para investir em renda variável. É claro que há boas oportunidades na bolsa. Mas não vivemos aquele momento de euforia em que qualquer ação sobe. Já na renda fixa, com a Selic a 10,5%, os ganhos são mais promissores.
Outro ponto que nos atrapalha para uma recuperação mais robusta de nossa bolsa é a piora do cenário externo. A China cresce menos que o esperado e a economia americana começa a dar sinais de recessão – payroll e índices de atividade abaixo do esperado. Somam-se a isso as incertezas geopolíticas no Oriente Médio. Este cenário eleva globalmente a aversão ao risco, levando os investidores a correrem para moedas fortes como o dólar.
Em suma, os efeitos da piora do cenário externo aliada às incertezas fiscais devem se sobrepor à melhora da atividade econômica no Brasil. Com este cenário, as oportunidades estão na renda fixa brasileira, empresas resilientes e boas pagadoras de dividendos nos EUA e companhias mais cíclicas no Brasil.
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