Marco Saravalle é analista CNPI-P e sócio-fundador da BM&C e da MSX Invest. Foi estrategista de Investimentos do Banco Safra, estrategista de Investimentos da XP Investimentos, analista e co-gestor de fundos de investimentos na Fator Administração de Recursos e GrandPrix e analista de ações na Coinvalores e Socopa. Formado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, Pós-graduado em Mercado de Capitais pela USP e Mestrando em Economia e Finanças pela FGV/EESP. Iniciou sua carreira no programa de Trainee do Citibank. Atualmente é Diretor Administrativo/Financeiro da Apimec Nacional, membro do comitê de
educação da CVM e presidente do Conselho da ONG de educação financeira,
Multiplicando Sonhos.

Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras

Marco Saravalle

O que falta para o Brasil e a Bolsa atingirem todo o seu potencial?

O crescimento da economia trouxe recuperação do mercado de trabalho, mas a queda de 3% no investimento preocupa

(Foto: Envato Elements)

O Brasil cresceu 2,9% em 2023. Do lado da oferta, o crescimento foi puxado pelo agronegócio, favorecido pela safra agrícola recorde, seguido do setor de serviços (+2,4%). Pela ótica da demanda, a variação do Produto Interno Bruto (PIB) é explicada principalmente pelo aumento do consumo das famílias, influenciado pelos estímulos de gastos públicos e crédito subsidiado pelo governo e pela recuperação do mercado de trabalho. Por outro lado, preocupa a queda de 3% no investimento, variável fundamental para atingirmos um crescimento sustentável de longo prazo.

O crescimento da economia em 2022 e 2023 trouxe recuperação do mercado de trabalho. De acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), a taxa de desemprego está em 7,6% no trimestre móvel terminado em janeiro deste ano.  A queda do desemprego aliado a estabilidade da inflação traz uma recuperação da renda real do trabalhador.

Essa recuperação impacta positivamente o fluxo de caixa das empresas, principalmente as mais cíclicas. Esse efeito combinado com a redução do custo de capital, por conta da queda de juros, tem impacto positivo no valor das ações.

Se há um pouco mais de otimismo na economia (o PIB cresceu bem acima do projetado por 2 anos consecutivos), então por que a Bolsa não reage de maneira mais significativa? A resposta está nos fatores internos e externos para explicar o fraco desempenho do Ibovespa.

Fonte: Bloomberg

Internamente, continuamos com nossos problemas fiscais. Apesar do superávit primário de janeiro de R$ 79,3 bilhões, o resultado deve ser visto com cautela. Primeiro, porque o resultado foi obtido pela elevação da arrecadação e não pelo corte de gastos. Segundo que, comparativamente ao mês anterior, o gasto aumentou bem mais que a arrecadação (6,8% contra 3%), principalmente nas despesas permanentes.

Com isso, persistem as incertezas fiscais dificultando uma queda mais expressiva da taxa de juros e uma melhora no ambiente de negócios para investimentos de longo prazo. Esta incerteza é refletida na curva de juros brasileira. A taxa pré cai para prazos mais curtos por conta das perspectivas de queda da Selic (inflação sob controle), mas se eleva para vencimentos mais longos, influenciada pela elevação do prêmio de risco fiscal.

Fonte: Anbima

Outro ponto que impede um crescimento mais robusto de nossa Bolsa é o atraso para a queda da taxa de juros nos EUA. A princípio, o mercado apostava no corte de juros em março, depois em maio; agora, a dúvida é se cairá em junho ou julho. A postergação para o recuo do Fed Fund Rate decorre principalmente do aquecimento do mercado de trabalho nos EUA. De acordo com a última ata, o Fed não quer correr o risco de cortar os juros precipitadamente e ocorrer um repique inflacionário, obrigando o Banco Central americano a ter que subir os juros novamente.

Com os juros americanos mais pressionados por mais tempo, os investimentos em renda fixa nos EUA se tornam mais atrativos, dificultando a migração do capital para economias emergentes de maior risco.  A maior taxa de juros nos EUA também dificulta a queda do dólar no Brasil. A redução do dólar poderia trazer impactos benignos sobre a inflação e no aumento dos investimentos das empresas brasileiras.

Fonte: Bacen

Por fim, a economia chinesa dá sinais de que o crescimento deverá novamente ficar em torno de 4% a 5%.  Ao contrário de outros tempos, agora o governo chinês não parece estar focado na geração de estímulos para aquecer a economia chinesa a todo custo. Aparentemente o foco agora é outro. Evitar problemas no mercado imobiliário – e consequentemente de crédito – está entre as prioridades do gigante asiático.

Em resumo, as ações no Brasil estão descontadas podendo ocorrer ganhos a curto prazo por conta da maior atividade econômica. Porém, para ganhos mais expressivo, é necessário que ocorra pelo menos uma destas condições: melhora do ambiente fiscal interno, maior crescimento chinês ou queda mais intensa dos juros nos EUA. Como seria bom se todas essas condições de concretizassem.

Cenário Base MSX

Brasil 2022 2023 2024
PIB Real (% a.a) 3,00 2,90 1,60
IPCA (% a.a, fim de período) 5,79 4,62 3,80
Selic (% a.a, fim de perído) 13,75 11,75 9,00
Câmbio – R$/dólar 5,29 4,85 5,10
Taxa de desemprego (%, fim de período) 7,90 7,40 8,00
Resultado primário Governo Central % PIB 0,55 -2,12 -0,90
EUA 2022 2023 2024
PIB Real (%, a/a) 2 2,6 1,5
CPI (%, a/a, fim de período) 6,4 3,4 2,5
Taxa de juros (Fed Fund Rate) 4,5 5,5 4,25
Taxa de desemprego (%, fim de período) 3,6 3,7 4,2
China 2022 2023 2024
PIB Real (%, a/a) 3,0 5,2 4,0
Inflação (%, a/a, fim de período) 1,8 -0,3 2,0
Taxa básica de juros 3,7 3,5 3,0
Taxa de desemprego (%, fim de período) 5,5 5,3 5,5