Marco Saravalle é analista CNPI-P e sócio-fundador da BM&C e da MSX Invest. Foi estrategista de Investimentos do Banco Safra, estrategista de Investimentos da XP Investimentos, analista e co-gestor de fundos de investimentos na Fator Administração de Recursos e GrandPrix e analista de ações na Coinvalores e Socopa. Formado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, Pós-graduado em Mercado de Capitais pela USP e Mestrando em Economia e Finanças pela FGV/EESP. Iniciou sua carreira no programa de Trainee do Citibank. Atualmente é Diretor Administrativo/Financeiro da Apimec Nacional, membro do comitê de
educação da CVM e presidente do Conselho da ONG de educação financeira,
Multiplicando Sonhos.

Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras

Marco Saravalle

Poder de compra: como a inflação contribui para a desigualdade social

Em um horizonte de 10 anos, de 2012 a 2022, reajuste salarial obteve um crescimento menor a cada ano até 2019

O brasileiro sofre com a não reposição do seu poder de compra há algum tempo. Foto: Pixabay
  • O poder de compra não se limita apenas à comparação de valores nominais, ou seja, preço escrito na etiqueta: ele é a capacidade de adquirir bens e serviços com determinada unidade monetária, sempre levando em conta o efeito da inflação presente nos dois valores de períodos distintos
  • Ao se falar sobre inflação, podemos analisá-la através de diversos indicadores, como o IPCA e o IGP-M., O mais utilizado para discutir sobre poder de compra é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)

No Brasil é comum ouvirmos comparações sobre preços de bens, principalmente alimentícios, entre períodos diferentes. Porém, o poder de compra não se limita apenas à comparação de valores nominais, ou seja, preço escrito na etiqueta: ele é a capacidade de adquirir bens e serviços com determinada unidade monetária, sempre levando em conta o efeito da inflação presente nos dois valores de períodos distintos.

Para começar uma linha do tempo, vamos comentar brevemente sobre o motivo pelo qual esse efeito acontece. Entende-se que uma inflação controlada é algo natural para uma economia, incentivando a população a investir seu dinheiro, visto que o efeito inflacionário é justamente a desvalorização da moeda, seja por meio de investimentos, em renda fixa ou variável, até abrindo uma empresa própria com seu capital.

Ao se falar sobre inflação, podemos analisá-la através de diversos indicadores, como o IPCA e o IGP-M., O mais utilizado para discutir sobre poder de compra é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado para observar tendências de inflação a partir de um conjunto de bens de consumo e serviços no País comparado com períodos anteriores.

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No entanto, a desvalorização da moeda não se traduz diretamente na perda do poder de compra do cidadão. Assim, outro fator importante nesse cenário é o reajuste salarial, visto que esse é o acréscimo que garante, pelo menos, a manutenção da quantidade consumida para manter-se inalterado o bem estar do indivíduo em relação a gastos mensais.

Levando em consideração um horizonte de 10 anos, de 2012 a 2022, o reajuste salarial obteve um crescimento menor a cada ano até 2019, desconsiderando pequenas variações maiores em alguns períodos.

O índice INPC é definido no final do ano vigente para ser aplicado no ano seguinte. Dessa forma, utilizam o valor acumulado do indicador de janeiro até novembro e realizam uma previsão do valor para o mês de dezembro. É comum não acertarem a variação de dezembro e essa diferença ser incorporada no ano seguinte. Vale ressaltar que o aumento do salário mínimo para proteção contra inflação é assegurado pela Constituição.

Agora, vamos analisar o índice frente à inflação de cada período. O INPC de janeiro de 2012 foi de 6,08% com reajuste salarial nominal de 14,13%. Sabendo que o salário mínimo era de R$ 622, o aumento real sentido pela população foi de 7,59%.

O INPC foi de 6,20% em 2013, com aumento real de 2,64%; em 2014 foi de 5,56%, frente a 1,16% de aumento real. Apenas em 2017 e 2018 não houve nenhum crescimento real: os anos foram marcados por um decréscimo de -0,10% e -0,25%, respectivamente.

Já o ano de 2020 foi atípico para o mundo com a pandemia de covid-19. Naquele ano, o INPC foi de 4,48%. Com o salário mínimo em R$ 1.039, o reajuste real foi de 4,1%, também não sendo o suficiente para proteger o poder de compra da população.

Entretanto, em fevereiro uma medida provisória fixou o piso do salário mínimo em R$ 1.045 para recuperar a diferença. Em 2021, o INPC para reajuste foi de apenas 0,14% (10,02% estipulado -10,16% que fechou o ano), menor que o valor efetivo. Assim, pode-se perceber que em 2022 essa diferença foi em parte restituída, chegando em um valor para o salário mínimo de R$ 1.212,00.

Acima estão valores brutos das variações salariais e o impacto da inflação. Mas essa diferença é percebida de forma muito diferente pela população. De forma geral, produtos básicos essenciais são mais afetados pelo aumento de preços. Assim, a população de baixa renda acaba sendo mais impactada.

Somado a isso, também percebe-se uma diferença entre salários e reajustes dos mesmos em empregos informais, formais e de cargos públicos. Vale lembrar que durante o período pandêmico, o auxílio emergencial foi positivo, porém restrito aos empregos formais, fator que contribuiu ainda mais para o aumento da desigualdade de renda.

O brasileiro sofre com a não reposição do seu poder de compra há algum tempo, como descrito pelos cálculos acima, e por causa do não reajuste salarial conforme os níveis de inflação através dos anos. A importância de se ter consciência sobre essa situação é fundamental para entender a complexidade da distribuição de renda no Brasil e tentar aplicar formas de aumentar seu rendimento no longo prazo para proteger seu capital da corrosão inflacionária.