Tudo sobre Renda Fixa

Marilia Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro. Trabalhou como gestora de renda fixa e câmbio em gestoras como Itaú, Mauá e Kondor, em fundos de até R$ 2 bilhões, com operações nacionais e internacionais. Na Empiricus, ela foi a analista fundadora e responsável pelos relatórios: Tesouro Empiricus e Empiricus Renda Fixa. Marilia é mestre em Economia pelo Insper e autora do livro “Renda Fixa NÃO é fixa!”
Twitter: @mariliadf2

Escreve na terceira sexta-feira de cada mês

Marilia Fontes

A reunião do Copom deixou claro o que antes era impossível

O Banco Central anunciou uma redução na taxa Selic para 11,75%, trazendo otimismo ao mercado financeiro

Copom divulga ata de reunião. Foto: Beto Nociti/Banco Central
  • O Banco Central anunciou uma redução na taxa Selic de 12,25% para 11,75%, trazendo otimismo ao mercado financeiro
  • A reunião do Copom revelou uma mudança de cenário desde a última discussão, marcada por incertezas globais
  • Devido à melhoria nos dados de inflação dos EUA, o BC reconheceu que o cenário externo está menos adverso, proporcionando maior tranquilidade para prosseguir com a redução da taxa Selic

Na última semana tivemos reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O Banco Central anunciou uma redução na taxa Selic de 12,25% para 11,75%, trazendo otimismo ao mercado financeiro. No mesmo dia o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) também teve sua reunião e esboçou otimismo quanto a inflação.

O Ibovespa subiu 2,5%, a taxa de juros brasileira caiu 25 pontos base e o destaque foi a queda nos juros de longo prazo. O real se valorizou 1% em relação ao dólar, refletindo o clima positivo do mercado. O petróleo também registrou um aumento de cerca de 2%, beneficiando a bolsa.

A reunião do Copom, realizada a cada 45 dias, revelou uma mudança de cenário desde a última discussão, marcada por incertezas globais. Em uma perspectiva anterior, os Estados Unidos estavam indecisos sobre a direção de suas taxas de juros, com sinais mistos de inflação e uma atividade econômica robusta. Contudo, os dados agora mostram melhorias tanto no Brasil quanto nos EUA, especialmente em relação à inflação americana.

O Copom sempre começa seus comunicados abordando o ambiente externo e contextualizando a situação macroeconômica. Desta vez, destacou que o ambiente externo permanece volátil, mas menos adverso em comparação à reunião anterior, com a redução das taxas de juros nos EUA e sinais de queda nos núcleos de inflação em diversos países.

É essencial ressaltar a preocupação do Banco Central brasileiro em manter uma distância apropriada das taxas de juros dos EUA. Afinal, se os EUA não alteram suas taxas, o Brasil deve seguir a mesma diretriz. Uma mudança nas taxas americanas poderia resultar em ajustes aqui, o que seria desastroso para o cenário doméstico.

Mas, devido à melhoria nos dados de inflação americana, o BC reconheceu que o cenário externo está menos adverso, proporcionando maior tranquilidade para prosseguir com a redução da taxa Selic.

Quanto ao cenário doméstico, o Copom mencionou que a inflação ao consumidor continuou em trajetória de desinflação, com destaque para as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta nas divulgações mais recentes. Se confirmado o cenário esperado, os membros do Comitê preveem, de forma unânime, uma redução de magnitude equivalente nas próximas reuniões, indicando pelo menos mais duas quedas de 50 pontos base, levando a Selic para 11,25% e depois para 10,75%. Isso demonstra um Comitê mais tranquilo e confiante em sua estratégia de redução da Selic.

Além dessa boa notícia, a reunião do Fed também trouxe um tom mais suave em relação às perspectivas futuras nos Estados Unidos. Os “dots”, que indicam as projeções dos membros do Comitê para as taxas de juros ao longo de 2024, mostram a previsão de três quedas de 25 pontos base, além da redução na projeção de inflação. Essa notícia gerou impacto positivo no mercado brasileiro.

Acredito que está se tornando evidente que a inflação está finalmente sob controle, permitindo começar a considerar taxas de juros mais moderadas globalmente ao longo de 2024. Isso é muito positivo para a bolsa brasileira e ativos de risco em geral. No entanto, é importante ressaltar que essa perspectiva é para aqueles que já estão posicionados. Quem esperou até que o cenário ficasse claro perdeu uma boa parte do movimento de alta.

Essa é a realidade da bolsa. Ela anda de forma não linear e dá saltos. Quem espera o cenário estar claro e cristalino, não ganha dinheiro. Quem se posiciona enquanto todos os outros estão com medo de entrar, aí sim ganha um bom dinheiro.

Se você não se posicionou enquanto os preços estavam deprimidos, não se preocupe. Neste ciclo de alta você deve ganhar menos, mas terão diversos outros ciclos de alta pela frente. O mais importante é entender o racional e seguir a estratégia. No próximo ciclo, você já vai estar atento.