O que este conteúdo fez por você?
- O melhor título hoje pode não ser o melhor título amanhã, e carregá-lo até o vencimento poderá te trazer retornos inferiores ao que todo o resto do mercado está recebendo
- Gestão ativa é comprar o melhor título para o momento, e vendê-lo, possivelmente antes do vencimento, a partir do momento que o título não for mais o melhor
No meu livro “Renda Fixa não é Fixa!”, expliquei como obter retornos de 20, 30 ou 50% em um ano, apenas utilizando títulos do Tesouro Direto, mesmo com a Selic baixa.
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Recebi muito feedback impressionado com essa forma diferente de operar esses ativos. Hoje, vou dividir com todos vocês, leitores, o principal capítulo do livro, que é a chave para conseguir essa proeza.
Muita gente não conhece, mas existe uma forma de operar esses títulos sem ser o “compra e carrega até o vencimento”. Esta é, na verdade, a forma menos produtiva de se investir.
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O melhor título hoje pode não ser o melhor título amanhã, e carregá-lo até o vencimento poderá te trazer retornos inferiores ao que todo o resto do mercado está recebendo.
A forma que os gestores profissionais investem em renda fixa é o que eu chamo de “gestão ativa”.Gestão ativa é comprar o melhor título para o momento, e vendê-lo, possivelmente antes do vencimento, a partir do momento que o título não for mais o melhor.
Como assim?
O Tesouro Direto possui três tipos de títulos diferentes. Os prefixados, indexados à inflação e os pós-fixados. Cada um deles se comporta de uma maneira distinta.
Quando compramos esses títulos no site do Tesouro Direto, temos uma taxa de compra, que será a rentabilidade que vamos obter se (e somente se) carregarmos o título até o vencimento.
Se optarmos por vender o título antes do vencimento, o preço de venda sofrerá a marcação a mercado. Isto é, será vendido pelo preço atual que um investidor consegue comprar este mesmo título no mercado hoje.
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A marcação a mercado faz com que você consiga vender um título obtendo um retorno muito maior, ou muito menor do que o contratado.
Vamos ao exemplo para facilitar?
Imagine que você comprou em 2019 uma LTN com vencimento em 2024, a uma taxa de 7%.
Como a LTN é um prefixado que não paga cupom, ela sempre irá valer R$ 1.000 no futuro. Então, trazendo esses mil a valor presente pela taxa de 7%, por 5 anos, tenho:
1.000 / ( 1 + 0,07 ) ^ 5 = 712,98
Logo, vou pagar hoje por este título R$ 712,98.
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Depois de 2 anos, rendendo 7 por cento ao ano, essa mesma LTN teria que valer:
712,98 x (1 + 0,07) ^ 2 = R$ 816,29.
Agora imagine que depois de 2 anos, em 2021, a taxa do Tesouro Prefixado 2024 tenha caído para 6%. Ou seja, quem quiser comprar este mesmo título hoje, receberia apenas 6% caso segurasse até o vencimento.
Fazendo a mesma conta de valor presente:
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1.000 / (1 + 0,06) ^ 3 = R$ 839,61
Quem comprar a LTN 2024, agora, terá que pagar R$ 839,61.
Mas e eu que já tinha o título?
Se eu quiser vender esse título antes do vencimento, só posso vende-lo pelo valor atual de mercado, pois ele sofre “marcação a mercado”. Ou seja, vou vende-lo pelos mesmos R$ 839,61 que ele vale hoje.
Note que R$ 839,61 é mais do que os R$ 816,29 que este título “deveria” valer se tivesse rendido 7% ao ano, como já calculamos.
Isso significa que, por conta da marcação a mercado, eu rendi muito mais do que deveria!
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Para calcular meu retorno, basta eu dividir o PU final pelo inicial e anualizar:
( 839,61 / 712,98 ) ^ (1/2) -1 = 0,085
Logo, em dois anos obtive uma rentabilidade de 8,5%, ao invés dos apenas 7% acordados.
Isso acontece apenas se eu vender o título antes do vencimento?
Sim, pois se eu mantiver o título até o final, ele vai render os 7%. Terá rendido 8,5% em dois anos, e depois terá caído para 6%, dando 7% de média.
Mas, se eu vender antes, além da rentabilidade maior, eu terei a chance de investir esse dinheiro em algum outro título que me permita render mais que 6% ao ano.
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Ao longo de 2019 recomendei que meus assinantes (que tinham comprado LTN 24 a taxas altíssimas em 2016) vendessem seus títulos e trocassem por outro ativo.
Lembro de ter recebido inúmeras perguntas do tipo:
“Mas Marília, eu comprei esse título a 16%! Tem certeza que vale a pena vender? Se for recomprar outro título hoje, vi no Tesouro que só conseguiria uma taxa de 7%. Por que eu trocaria um título que rende 16 por um que rende apenas 7? ”
A minha resposta era sempre a mesma: Pois agora você não rende mais 16%! Seu título já foi reprecificado pela marcação a mercado, de forma que você já recebeu o benefício de ter comprado o título por uma taxa mais alta. Hoje você tem muito mais na conta do que seu investimento inicial carregado por 16. Em compensação, a partir de agora sua rentabilidade será os mesmos 7% de todo o mercado.
Olhando essa resposta, depois de ter feito as contas lá em cima, fica claro pra vocês o racional? Espero que sim. E que tenha ficado simples entender o que é marcação a mercado e o que é gestão ativa.
Se você se utilizar de ambas essas estratégias, seus retornos podem ser enormes, mesmo investindo em títulos supostamente “conservadores”.
Essa é a forma que todo grande gestor de multimercado opera renda fixa. E agora você, pequeno investidor, poderá se utilizar do mesmo segredo.
Vamos juntos investir em renda fixa de uma forma que você nunca imaginou.
Afinal, a renda fixa não é renda fixa!