O que este conteúdo fez por você?
- No início do ano, um IPCA+ com vencimento em 2035 estava valendo R$ 1.528,34 e pagava uma taxa de 3,38% além da inflação
- Hoje, este mesmo título vale R$ 1.242,91, uma queda de 18,67% em relação ao início do ano
Se você andou passando pelo seu Tesouro Direto, deve ter percebido que os títulos indexados à inflação andaram perdendo valor.
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No início do ano, um IPCA+ com vencimento em 2035 valia R$ 1.528,34 e pagava uma taxa de 3,38% além da inflação. Hoje, este mesmo título vale R$ 1.242,91, uma queda de 18,67% em relação ao início do ano.
“Mas, Marília, como isso é possível? Como o título indexado a inflação, que deveria te proteger em momentos de alta da inflação, está perdendo valor? A inflação não está subindo?” Essa é a pergunta que eu mais recebo, e hoje vou explicar em detalhes o que está acontecendo com esses títulos.
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A inflação de fato está subindo no Brasil. O IPCA acumulado em 12 meses chegou a bater 9,68% em agosto.
Muitos investidores foram procurar títulos atrelados à inflação para proteger o poder de compra de seus investimentos. A maior preocupação era que o retorno do Tesouro Selic estava rendendo menos do que a alta do IPCA.
Embora esse seja o comportamento padrão dos investidores, usar o título IPCA+ para se proteger da inflação não é necessariamente uma boa estratégia. Nas minhas colunas anteriores, procurei alertar sobre a característica desses títulos e do efeito negativo de marcação a mercado que um amento nas taxas poderia gerar.
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O título IPCA+ não é apenas um título de atualiza o seu investimento pela inflação. Ele tem de fato esse componente pós-fixado, que atualiza o preço do seu título pela inflação do momento, subindo mais quando a inflação sobe, e subindo menos se a inflação for mais baixa.
Além desse componente pós-fixado, o IPCA+ tem também um componente prefixado, que é o juro real. O juro real é essa taxa paga pelo título, como os 3,38% que o IPCA+ 2045 pagava no início do ano.
Essa taxa varia todo dia no Tesouro Direto, a depender das condições de oferta e demanda, e dos acontecimentos macroeconômicos. Quando a demanda por esses títulos aumenta muito, os investidores tendem a aceitar taxas menores para investir no título. Se a demanda cai, o Tesouro precisa subir as taxas para conseguir se financiar.
Se o mercado está mais preocupado com inflação, eles tendem a achar que o Banco Central terá que ser mais agressivo na elevação da Selic. Esse cenário faz com que o mercado suba as taxas de juros reais exigidas para comprar um título.
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Veja o que aconteceu com as taxas do título IPCA+ 2045 ao longo de 2021, quando o mercado viu a inflação subir e o Banco Central ser cada vez mais agressivo no aumento da Selic.
Quando a taxa desses títulos sobe, ocorre um efeito muito importante que chamamos de marcação a mercado. Ela faz com que o seu título seja reprecificado, para render exatamente a taxa de hoje. Como no caso a taxa de hoje é maior, para que o título passe a render mais, o preço dele hoje tem que cair.
Assim, o que vimos durante este ano foi uma reprecificação constante do valor deste título para baixo:
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Quem comprou este mesmo título no início do ano, hoje tem um patrimônio quase 20% menor. Se o investidor precisar vender este título antes do vencimento, irá amargar grandes prejuízos.
Caso o investidor opte por manter o título até o vencimento, ele receberá exatamente a taxa de 3,38% + IPCA inicialmente contratadas. Mas ele poderia ter comprado o exato mesmo título, com mesmo vencimento, a uma taxa muito maior se esperasse alguns meses a mais.
O investidor que quer se proteger contra a inflação precisa ter em mente que, se a inflação subir tanto que faça com que o mercado reprecifique a necessidade de juros para cima, os títulos prefixados ou que possuem componentes prefixados (como o IPCA+) poderão ter prejuízo de marcação a mercado.
Embora isso seja contra intuitivo para o investidor iniciante, é um efeito bem conhecido do investidor profissional. Inclusive, os chamados “tubarões” de mercado utilizam frequentemente essa falta de informação para ganharem muito dinheiro com esse efeito em anos de alta da inflação.
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Mas agora, leitor, você já sabe disso!
Entender exatamente como funciona cada título público e quando é o momento macroeconômico de usar cada um deles é crucial para uma carteira de renda fixa próspera no longo prazo.