- Começamos o ano com uma taxa Selic em apenas 2% ao ano, e terminamos com a taxa em incríveis 9,25%
- Não era razoável achar que a taxa Selic permaneceria em 2% para sempre
O ano passado foi bem diferente para os investidores de renda fixa. Começamos o ano com uma taxa Selic em apenas 2% ao ano e terminamos em incríveis 9,25%. Quem poderia imaginar esse movimento, não é mesmo?
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Com isso houve várias consequências, boas e ruins, que vale a pena destacarmos nessa retrospectiva para que sirvam como ensinamento ao investidor que quer sempre melhorar seus retornos.
1 – A economia acontece em ciclos
É um erro bem comum do investidor achar que a taxa que está baixa continuará sempre baixa e a taxa que está alta será sempre alta. O ano de 2021 veio para nos lembrar que a economia se dá em ciclos, em ondas, e elas vão e vem, e sempre acontecem.
Não era razoável achar que a taxa Selic permaneceria em 2% para sempre. Muitos investidores mudaram completamente a composição de suas carteiras para tirar renda fixa e incluir outros investimentos mais arriscados, imaginando que a renda fixa tinha “morrido”.
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Eu sempre brincava que ela não tinha morrido, mas sim tirado um “sabático”. Passamos por um período de crise na economia, por conta do coronavírus, onde chegamos inclusive a ter deflação nos preços durante alguns meses. O Banco Central precisou estimular a economia através da queda nas taxas de juros, juntamente com os Bancos Centrais do mundo todo.
Talvez ele tenha ido longe demais na queda? Talvez. Embora a minha maior convicção ainda é que ele fez o melhor que ele acreditava, em condições dificílimas de uma pandemia nunca antes vista que paralisou o mundo. O medo maior era uma grande depressão, e ele reagiu a isso.
Independente dessa discussão, o fato é que o segundo impacto da pandemia foi inflacionário, com recuperação econômica no mundo todo, derivada de alto volume de estímulos nas economias além de quebra nas cadeias produtivas mundiais.
Frente a isso o BC teve que desfazer os estímulos com um dos ciclos de alta mais intensos dos últimos anos, levando a Selic de 2% para 9,25%. Com quase dois dígitos de juros, voltamos a ser o país do rentismo, e as carteiras de investimentos voltaram a buscar a renda fixa como principal fonte de retorno seguro.
2- Prefixados e IPCA+ podem dar prejuízo
No começo do ano, com a taxa Selic na mínima histórica, muita gente achou que era uma boa ideia alongar o vencimento dos seus títulos para obter um retorno um pouco maior. Esse é também o principal erro do investidor iniciante.
É importante lembrar que os títulos prefixados e indexados à inflação sofrem marcação a mercado. Isso significa que você só vai render aquela taxa acordada se, e somente se, você levar os títulos a vencimento e não sacar antes.
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Caso você tenha que resgatar antes do vencimento, você acaba rendendo muitas vezes uma taxa completamente diferente da taxa acordada. Se as taxas de juros para aquele título subirem, você pode inclusive ter prejuízo no investimento. Foi o que aconteceu em 2021.
No início do ano a taxa de um IPCA+ 2045 estava em torno de IPCA + 3,38%. Ao longo do ano, a taxa deste mesmo título foi subindo para IPCA+ 5,15%. Com isso, quem comprou o título no início do ano e precisou vender no final do ano, amargou um prejuízo de 25% nos seus investimentos.
Recebi inúmeros questionamentos de como era possível um título IPCA+ perder dinheiro no ano que a inflação mais subiu. Não era para render mais?
Acontece que se a inflação sobe tanto que faz com que o mercado precifique uma necessidade de Selic também bem mais alta, a taxa desses títulos vai subir, provocando prejuízo de marcação a mercado.
Ou seja, muito cuidado ao alongar os prazos dos seus títulos de renda fixa. Tenha certeza de que você não está próximo a um ciclo de alta nas taxas. Quanto mais longo o título, maior a chance de você não conseguir levar a vencimento, e quando isso acontece, você acaba não recebendo a taxa contratada.
3 – Pós-fixados controlam o risco da sua carteira
Muitos investidores evitam pós-fixados quando a Selic está nas mínimas daquele ciclo. Mas isso é exatamente o oposto do que os investidores profissionais fazem.
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A pessoa física geralmente compara a inflação de 12 meses passada com a Selic de 1 dia, e diz que o retorno real está negativo, e, portanto, não investe no pós-fixado.
Mas essa comparação não faz sentido. É como comparar o preço do abacaxi com o preço do minério de ferro.
Quando a inflação dos 12 meses anteriores surpreende muito o mercado e o BC, causando juros reais negativos de curto prazo, o Banco Central geralmente inicia um ciclo de alta na Selic para conseguir controlar essa inflação mais alta. Isso faz com que a perspectiva dos juros dos próximos 12 meses seja muito maior, enquanto a perspectiva da inflação dos próximos meses seja muito menor.
Além disso, esse aumento das taxas para controlar a inflação, causa um prejuízo de marcação a mercado para os títulos prefixados e IPCA+.
Ou seja, quando você é fortemente surpreendido por uma inflação mais alta, e um juro real negativo de curto prazo, é exatamente um excelente momento para se ter pós-fixados. Afinal, a alta futura da Selic vai abrir um juro real positivo no pós-fixado além de evitar prejuízos com outros títulos.
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Por fim, ciclos de alta de juros podem prejudicar a bolsa de valores. Além de a taxa mais alta atrair interessados em renda fixa e diminuir o interesse no risco da bolsa, ela pode indicar atividade mais fraca à frente, o que também prejudica o resultado das ações.
Resumindo, este ano pudemos ver na prática que a renda fixa não é tão fixa assim, e que saber escolher os melhores títulos para o momento macroeconômico atual pode te proteger de retornos negativos e potencializar os lucros da sua carteira.
Renda fixa pode ser um pouco mais complicada de entender no começo, pois tem muitos fatores contra intuitivos. Mas depois que você entende, percebe como estava investindo aquém do potencial. A boa notícia é que os ciclos se repetem, e teremos oportunidade de fazer essa gestão ativa várias vezes durante os próximos anos.
Um excelente 2022 para vocês e suas famílias!