Tudo sobre Renda Fixa

Marilia Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro. Trabalhou como gestora de renda fixa e câmbio em gestoras como Itaú, Mauá e Kondor, em fundos de até R$ 2 bilhões, com operações nacionais e internacionais. Na Empiricus, ela foi a analista fundadora e responsável pelos relatórios: Tesouro Empiricus e Empiricus Renda Fixa. Marilia é mestre em Economia pelo Insper e autora do livro “Renda Fixa NÃO é fixa!”
Twitter: @mariliadf2

Escreve na terceira sexta-feira de cada mês

Marilia Fontes

O que esperar da renda fixa para 2021?

Em 2020 o mercado exigiu mais taxa para financiar um governo gastão por muito tempo. A consequência disso foi uma performance muito ruim de títulos IPCA+ longos, inclusive com retornos negativos

  • Saber o prazo correto para se investir e o que influencia a formação de preços de cada prazo é também extremamente importante na hora de escolher o seu título

No ano passado tivemos um choque importante na economia por conta do coronavírus. Variáveis como atividade e inflação, que influenciam profundamente a renda fixa, foram fortemente afetadas.

A queda na atividade fez com que o Banco Central reduzisse a Selic para 2% ao ano, patamar nunca antes sequer imaginado por nós. Com isso, títulos prefixados curtos acabaram performando muito bem.

Por outro lado, o choque da inflação de alimentos, assim como o aumento de gastos fiscais ampliaram os prêmios de risco dos mercados, fazendo com que a expectativa de inflação futura subisse, assim como as taxas de títulos longos. O mercado exigiu mais taxa para financiar um governo gastão por muito tempo. A consequência disso foi uma performance muito ruim de títulos IPCA+ longos, inclusive com retornos negativos.

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A performance dos títulos em 2020 representa bem o conceito que eu sempre reforço aqui: temos 3 tipos de títulos de renda fixa, e cada um desses títulos se comporta de uma maneira totalmente diferente, dado o cenário macroeconômico.

Saber qual título comprar é crucial para se ter uma boa performance na sua carteira de investimentos. Se você comprar o título errado, pode inclusive amargar prejuízos em um determinado ano. Mesmo que sua estratégia seja levar a vencimento, você certamente está deixando de ganhar um dinheiro enorme tendo que esperar um bom tempo para que o título volte ao preço anterior (o que na minha visão, não faz o menor sentido).

Dito isso, quais títulos devem se beneficiar em 2021?

Enquanto 2020 foi o ano das consequências do choque, este ano será o ano da acomodação do choque. Ou seja, com a economia um pouco mais normalizada, sem o efeito do auxílio emergencial, sem o efeito do choque de oferta e das mudanças de padrão de consumo, como irá se comportar a nossa economia?

Na minha visão, o auxílio emergencial foi absurdamente amplo: 67 milhões de pessoas receberam, em um país com uma população de 211 milhões. Ou seja, quase um terço da população foi contemplada. Além disso, o valor de 600 reais foi relevante: um estudo do Verde Asset mostra que o poder de compra das pessoas cresceu em 38%.

Esses fatores impulsionaram fortemente a demanda, nos dando a impressão errada de que nos recuperamos rápido e voltamos a consumir. A redução do auxílio para 300 reais já causou quedas importantes na demanda de supermercados, por exemplo. Tivemos o pior Natal desde 2015.

Por tudo isso, tendo a pensar que os números de atividade e de recuperação econômica estão inflados pela política de auxílio. Por um lado, ela foi extremamente positiva pois impediu que nossa depressão econômica fosse ainda maior este ano. Por outro, daqui para frente não teremos mais esta ajuda e isso deve desaquecer novamente a atividade.

Esta acomodação pode surpreender os analistas, da mesma forma que fomos surpreendidos positivamente pelos dados de 2020. Neste caso, teríamos que revisar nossas projeções de crescimento e demanda para baixo. A própria inflação poderia ter uma retração importante, principalmente nos preços de alimentos, que foram os itens mais demandados pelos recebedores do auxílio.

Com atividade mais fraca e inflação acomodada, ficaria difícil pensar que o Banco Central conseguiria retirar rapidamente os estímulos dados através de uma Selic muito baixa. O mercado está precificando que a Selic irá de 2% para 5% este ano. Mas acho razoável pensar que isso não vai ocorrer nesta intensidade.

Se a Selic acabar sendo mais baixa, quem se travou com taxas mais altas através de prefixados, pode acabar rendendo muito mais do que quem investiu em títulos atrelados à Selic.

Mas, cuidado! Não é apenas o tipo de indexador (prefixado, pós-fixado ou indexado à inflação) que importa na hora de escolher o seu título. O vencimento do título também é extremamente importante!

Um título de curto prazo pode se comportar completamente diferente de um título de longo prazo. Em 2020, por exemplo, do dia 01 de janeiro até 01 de dezembro, o IPCA+ 2024 rendeu 6,4%, enquanto o IPCA+ 2045 teve prejuízo de 9,2%. Olha que diferença brutal!

Saber o prazo correto para se investir e o que influencia a formação de preços de cada prazo é também extremamente importante na hora de escolher o seu título.

Investir em renda fixa não é tão simples assim como o seu gerente de banco faz parecer, não é mesmo?

Mas o intuito desta coluna é exatamente este, te explicar como investir em renda fixa da mesma forma que os profissionais investem. É possível, é rentável e é um conhecimento libertador!