Tudo sobre Renda Fixa

Marilia Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro. Trabalhou como gestora de renda fixa e câmbio em gestoras como Itaú, Mauá e Kondor, em fundos de até R$ 2 bilhões, com operações nacionais e internacionais. Na Empiricus, ela foi a analista fundadora e responsável pelos relatórios: Tesouro Empiricus e Empiricus Renda Fixa. Marilia é mestre em Economia pelo Insper e autora do livro “Renda Fixa NÃO é fixa!”
Twitter: @mariliadf2

Escreve na terceira sexta-feira de cada mês

Marilia Fontes

A questão que realmente importa nos seus investimentos

Tentar antecipar dados é uma das formas de ganhar dinheiro no mercado.

Diversificar os investimentos proporciona mais segurança e ajuda o investidor a entender o mercado de forma abrangente. (Foto: Olivier Le Moal/Shutterstock)
  • Sentada na mesa durante os primórdios da minha fase de gestora de renda fixa, aprendi com meu chefe uma coisa que nunca mais esqueci
  • “Marilia, isso não importa, é notícia velha. Você tem que focar no que está acontecendo na margem.”
  • O conceito de margem a que ele se referia era o econômico. Olhar para o que acontece na margem é olhar para o que acontecerá a seguir, ou seja, daqui para frente

Sentada na mesa durante os primórdios da minha fase de gestora de renda fixa, aprendi com meu chefe uma coisa que nunca mais esqueci. 

Eu costumava notificáa-lo das notícias que lia diariamente nos jornais, com fatos do que estava acontecendo no mercado. Ele pouco prestava atenção, e repetia “Marilia, isso não importa, é notícia velha. Você tem que focar no que está acontecendo na margem.”

No começo eu não compreendia totalmente o que isso queria dizer. O que ele queria dizer com margem? Será como a margem do rio? Uma mensagem subliminar do tipo “não olhe para o rio, olhe para suas margens?” Será um ensinamento budista? Deveria eu iniciar um curso de meditação?

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Lembrava um pouco daqueles filmes de artes marciais japoneses, cheio de ensinamentos poéticos que faziam todo o sentido na prática. 

Mas não, não era nada disso! Ainda mais vindo de um engenheiro. 

O conceito de margem a que ele se referia era o econômico. Olhar para o que acontece na margem é olhar para o que acontecerá a seguir, ou seja, daqui para frente. Qual o próximo passo.

Até as noticias serem publicadas nos jornais, elas já foram divulgadas em uma série de outros meios, e suas consequências já estão completamente refletidas no mercado.

Se estamos no meio de uma tendência de dados econômicos bons, e naquele mês vem um dado ruim, o mercado vai cair em realização. Não porque a tendência agora será de atividade em queda, mas sim porque, na margem, a tendência do crescimento será um pouco mais fraca. 

Tentar antecipar esses dados é uma das formas de ganhar dinheiro no mercado. Mas é também a mais difícil. É preciso gastar milhares de horas programando modelos econométricos supercomplicados e muito pouco assertivos.

A outra forma é observar os exageros do mercado, quando deparado com um dado diferente da tendência, e operar contra, imaginando que no médio prazo teremos um retorno ao fundamento. 

Essa segunda forma é mais fácil que a primeira. Mas exige uma boa leitura e construção do cenário que embasa esse fundamento. E também paciência e estômago com as oscilações contrárias nos preços dos ativos. 

A maioria dos fundos multimercado misturam essas duas abordagens, e ora operam tentando prever o futuro e ora operam dos desvios exagerados dos preços. 

O meu ponto aqui é: não mude suas convicções e principalmente seus investimentos baseado apenas em notícias.

Apenas mude se você alterar suas convicções de cenário e fundamento, ou se você tiver uma opinião forte a respeito do que vai acontecer na margem com os dados econômicos. 

Por exemplo, imagine que sua convicção de fundamento econômico seja uma recuperação econômica forte no médio prazo (após se resolverem eleições). Essa recuperação faria o PIB subir acima do potencial e pressionaria a inflação, que retornaria para níveis mais altos com o passar do tempo. 

Então, imagine que durante alguns meses, juntamente com períodos de supersafra de alimentos, tenhamos alguns dados de IPCA bem abaixo do esperado. Como na margem o que aconteceu foi uma baixa da inflação, o mercado vai entrar numa onda de operar Selic continuando a cair para sempre (pois o mercado embarca na notícia da margem). Pipocarão artigos chamativos dizendo que ela vai para números anormalmente baixos, digamos 2 por cento. 

Se você entrar nessa onda, e ainda atrasado, pois a notícia de inflação baixa já saiu faz tempo e o mercado já reduziu juros por conta dela, correrá o risco de se posicionar para um cenário improvável, em linha com um “oba-oba” momentâneo do mercado, fomentado por uma notícia já velha. 

O próximo movimento não vai levar em conta os números baixos que já ocorreram, mas sim os novos números que ainda estão para acontecer.  

E se você estiver correto no seu cenário de retomada, uma hora a inflação irá voltar a dar as caras. Ou seja: seria melhor aproveitar os juros baixos exagerados do mercado para apostar contra do que entrar apostando que eles irão cair mais. 

Esse conceito de margem é crucial para não ser pego na contramão do mercado e não ser sempre o desavisado que “dá saída” para o gestor velhaco que já se posicionou pra essa notícia bem antes de você. Quando você entrar, ele vai realizar o lucro na sua cara. 

Então, caro investidor, não precisa meditar ou aprender conceitos budistas. Apenas siga o fundamento, ou antecipe tendências. E lembre-se que o que importa para o mercado é o que vai acontecer na margem.

Um abraço e bons negócios.