Tudo sobre Renda Fixa

Marilia Fontes é sócia-fundadora da Nord Research e possui 12 anos de experiência de mercado financeiro. Trabalhou como gestora de renda fixa e câmbio em gestoras como Itaú, Mauá e Kondor, em fundos de até R$ 2 bilhões, com operações nacionais e internacionais. Na Empiricus, ela foi a analista fundadora e responsável pelos relatórios: Tesouro Empiricus e Empiricus Renda Fixa. Marilia é mestre em Economia pelo Insper e autora do livro “Renda Fixa NÃO é fixa!”
Twitter: @mariliadf2

Escreve na terceira sexta-feira de cada mês

Marilia Fontes

Quão baixa a Selic pode chegar? Uma análise do mercado financeiro

Embora pareça um enigma para os mortais, o mercado já tem suas apostas

(Foto: Envato)
  • Na última reunião do Copom começamos o nosso ciclo de queda nas taxas básicas de juros. Mas, a grande questão que paira no ar é: até onde a Selic pode realmente cair?
  • Segundo projeções recentes, a Selic pode atingir um patamar de 9% ao ano no próximo ano
  • No entanto, nem tudo são flores. Há preocupações no horizonte, principalmente com os recentes dados da inflação americana, que a princípio mostraram uma queda significativa

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) começamos o nosso ciclo de queda nas taxas básicas de juros. No entanto, a grande questão que paira no ar é: até onde a Selic pode realmente cair?

Embora pareça um enigma para os mortais, o mercado já tem suas apostas. A curva de juros futura nos dá uma pista, indicando as expectativas mensais da Selic e daí podemos derivar exatamente o que eles acreditam que vai acontecer em cada encontro do Copom.

Segundo projeções recentes, a Selic pode atingir um patamar de 9% ao ano no próximo ano. Isso se traduz em 0,72% ao mês, uma queda considerável em comparação com os atuais 1% mensais.

Os rentistas adoram essa faixa psicológica dos 1% ao mês, e a queda do retorno da renda fixa pode agitar os fluxos de mercado, desviando investimentos da renda fixa para o mercado de ações.

No entanto, nem tudo são flores. Há preocupações no horizonte, principalmente com os recentes dados da inflação americana, que a princípio mostraram uma queda significativa.

Mas, ao analisar mais profundamente, percebemos que enquanto a inflação de bens cai, a de serviços, especialmente aluguéis, permanece alta.

Vimos nos dois últimos números uma queda de 8% nas tarifas aéreas, que ajudaram muito o índice cheio. Mas, alguns especialistas acreditam que os próximos números podem surpreender negativamente, uma vez que esse efeito terá acabado, indicando o fim da desinflação de bens.

Além disso, a pressão salarial em um mercado de trabalho apertado é uma preocupação crescente. Caso a inflação reaqueça, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) americano pode manter as taxas de juros por mais tempo, contrariando as expectativas do mercado.

Outro ponto de atenção é a situação fiscal dos EUA, com um déficit primário de cerca de 6% do PIB e uma dívida pública crescente, ultrapassando 100% do PIB. A possibilidade de uma crise de crédito nos EUA não pode ser descartada, caso as taxas de juros fiquem altas por muito tempo.

Juros altos nos EUA podem influenciar a nossa Selic. Atualmente, há um diferencial de quase 8% entre a Selic e a taxa atual do Fed. Se a Selic cair para 9%, esse diferencial diminuiria para 3,70%. Isso poderia tornar os investimentos brasileiros menos atraentes, potencialmente desvalorizando o dólar.

Ou seja, o nosso ciclo de queda com Selic terminando em 9% ou até abaixo, depende muito de um início do ciclo que queda nas taxas de juros americanas ao longo do próximo ano.

Caso isso não aconteça, teremos que parar de cair muito antes! O que será um enorme problema, dado que teremos no Banco Central em 2025 uma nova gestão, com a provável entrada de Galípolo na Presidência do Banco Central.

Ele será o indicado do novo governo, que vem sendo bem vocal na imprensa com críticas aos juros altos brasileiros e a atuação conservadora do Roberto Campos.

Até o final desse ano, o jogo do BC é apenas interno, seguirá a desinflação interna e as expectativas de inflação. Mas a partir do ano que vem, o jogo fica muito mais difícil, com juro americano entrando no jogo, e nova gestão pressionando por mais cortes.