Movimentos na curva de juros devem definir os ganhos (e as perdas ) da renda fixa em 2026 (Foto: Adobe Stock)
No imaginário do investidor brasileiro, a renda fixa ainda carrega uma aura de estabilidade absoluta. Um título é “prefixado”, outro é “pós-fixado”, e isso parece encerrar a conversa. Mas basta um olhar mais atento para os últimos ciclos de juros no País para perceber que a renda fixa está longe de ser tão fixa assim — especialmente quando o horizonte econômico começa a mudar de forma acelerada.
Nos últimos anos convivemos com uma Selic volátil, curvas de juros invertendo e depois abrindo violentamente, incertezas fiscais constantes e movimentos abruptos nas expectativas do mercado. Para quem investe em renda fixa, isso não é pano de fundo: é o próprio enredo. E 2026 tem tudo para ser mais um capítulo em que a dinâmica dos juros — e não apenas o cupom contratado — determinará boa parte dos resultados.
A pergunta que fica é: o investidor brasileiro entende de fato o que está por trás do sobe-e-desce dos preços dos títulos? Mais especificamente, sabe o papel que a duration (prazo médio para recuperar o investimento realizado na compra do ativo) terá nos próximos meses?
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O investidor costuma acompanhar a taxa Selic como se fosse a bússola definitiva da renda fixa. Mas, acima dela, existe uma outra referência que dita a maior parte dos movimentos de preço: a curva de juros a termo, aquela que reflete o que o mercado espera para a Selic nos próximos anos.
É essa curva que determina se um prefixado 2029 valerá mais ou menos amanhã. É ela que precifica as Notas do Tesouro Nacional — Série B (NTN-Bs, títulos públicos com rendimento atrelado à inflação) longas, as debêntures (títulos de dívida) indexadas e até o humor dos fundos de depósito interbancário (DI).
Quando essa curva se move — seja por causa de inflação, risco fiscal, câmbio, cenário político ou percepção de crescimento — todos os ativos de renda fixa se movem junto. E é aí que entra o conceito que mais deveria estar no vocabulário de qualquer investidor que pretenda navegar 2026 com segurança: duration.
A duration é, em essência, a medida de sensibilidade do preço de um título a variações na taxa de juros. Ela funciona como um multiplicador:
títulos de duration curta oscilam pouco;
títulos de duration longa vivem uma montanha-russa a cada fala do governo, a cada dado de inflação e a cada reunião do Copom.
Nos últimos anos, a duration longa foi desafiadora — e, para muitos investidores, dolorosa. A deterioração do risco fiscal e as revisões de inflação provocaram altas nos juros futuros e quedas expressivas nos preços dos prefixados e dos indexados ao IPCA.
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Mas o outro lado da moeda também existe: quando ciclos de queda de juros começam a se consolidar, são justamente os títulos longos que capturam os maiores ganhos. Por isso, entender duration não é um detalhe técnico — é a diferença entre antecipar o movimento e reagir tarde demais.
Se há algo que o mercado já precifica com razoável convicção é que 2026 será um ano de queda de juros. Mesmo com a volatilidade típica de eleições, o consenso dos economistas aponta para uma Selic descendo dos atuais 15% para algo próximo de 12%.
Ainda assim, os juros de longo prazo permanecem elevados, refletindo o risco fiscal. E é justamente no ano que vem que o país discutirá, de forma explícita, as propostas fiscais dos candidatos à Presidência.
Se as pesquisas apontarem para um candidato mais fiscalista, teremos o alinhamento de três forças relevantes:
juros caindo nos EUA;
juros caindo no Brasil;
sinalização de política fiscal mais responsável.
Esse trio é nitroglicerina pura para os títulos prefixados, especialmente os de prazo mais longo, que são os mais sensíveis à queda dos prêmios de risco.
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Claro, o contrário também vale: quanto mais longo o título, maior o risco. Se o próximo presidente der sinais de aumento expressivo de gastos, os prêmios podem subir ainda mais, gerando perdas relevantes para quem estiver posicionado em duration longa.
Diante desse equilíbrio delicado entre oportunidade e risco, minha recomendação é olhar com atenção para o que chamamos de meio da curva — vencimentos entre 2030 e 2040.
São títulos suficientemente longos para capturar bem o efeito da marcação a mercado em um cenário de queda de juros, mas não tão longos a ponto de perder liquidez ou se tornarem excessivamente vulneráveis a mudanças súbitas de percepção fiscal. É, em 2026, o ponto onde risco e retorno parecem se encontrar de forma mais harmoniosa.
No fim, investir em renda fixa é exatamente isso: alinhar estratégia, ciclo econômico e sensibilidade ao risco para construir retornos consistentes sem abrir mão da tranquilidade. E, como sempre, quem entende o ciclo chega primeiro.