Interpretando dados que abalam o mercado

Rafael Paschoarelli é professor de finanças da FEA/USP e do Insper e diretor do ComDinheiro.
Twitter: @RafaelPaschoare

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Rafael Paschoarelli

Futurologia: uma análise das expectativas sobre 2021

O Banco Central divulga periodicamente um relatório compilando as expectativas dos agentes de mercado

Não acreditem que os dados do Focus são profecias auto-realizáveis. O ano de 2021 é um ótimo caso a ser analisado. Foto: Envato
  • As instituições que enviam suas expectativas para o Banco Central compreendem praticamente 100% do que o Brasil tem de melhor em termos de análise econômica
  • A cada nova informação, os economistas mudam seus cenários e o investidor deve estar preparado para esse fato. A leitura do relatório Focus deve ser algo quotidiano e não eventual

O Banco Central divulga periodicamente um relatório compilando as expectativas dos agentes de mercado sobre as principais variáveis macroeconômicas brasileiras. Trata-se do Relatório Focus disponível aqui.

As instituições que enviam suas expectativas para o Banco Central compreendem praticamente 100% do que o Brasil tem de melhor em termos de análise econômica. Esta iniciativa do Banco Central é importante para os agentes de mercado darem transparência para as suas expectativas. Ademais, o mercado confere importância e credibilidade para este compilado divulgado pelo Bacen.

No entanto, não acreditem que os dados do Focus são profecias auto-realizáveis. O ano de 2021 é um ótimo caso a ser analisado.

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O primeiro Relatório Focus de 2021 é de 08/01/2021. Nele, projetava-se uma inflação medida pelo IPCA de 3,34% para o ano que estava começando, câmbio e taxa Selic para o final do período de R$ 5,00 e 3,25% ao ano, respectivamente.

Para refrescar a memória, no início de 2021 a meta da taxa Selic era de incríveis 2% a.a. Tem mais: nesse primeiro Relatório Focus de 2021, a expectativa para o IGP-M era de 4,60% para o ano de 2021!

A “bola de cristal” dos agentes econômicos falhou miseravelmente e os brasileiros foram brindados com um IPCA na casa dos 10%, um câmbio próximo de R$ 5,70, a Selic a 9,25% a.a. e ainda há expectativa de mais rodadas de alta dos juros pelo Copom.

Não atribuo isso a falhas dos economistas que mandaram suas previsões para o Banco Central. Quem acompanha o noticiário econômico sabe que as expectativas mudam no Brasil com relativa velocidade. Otimismo e pessimismo revezaram-se a cada medida econômica ou divulgação de dados macro.

O clima de moderado otimismo no final do primeiro semestre minguou dando espaço a um pessimismo ante a perspectiva de desaceleração econômica. A gota d’água para aprofundar o sentimento de que as coisas não iam bem foi o abandono do teto de gastos.

A cada nova informação, os economistas mudam seus cenários e o investidor deve estar preparado para esse fato. A leitura do relatório Focus deve ser algo quotidiano e não eventual.

Quem leu e acreditou no Focus de janeiro/21 pensou que a Selic estaria em 3,25% a.a. no final de dezembro/21. Diante da perspectiva de juro real negativo, o investidor não colocaria sequer um centavo em ativos indexados ao CDI ou à Selic. Além disso, seria natural sacar da renda fixa para aplicar na Bolsa.

E não foi isso justamente o que aconteceu?

As lições a serem aprendidas são várias:

  • A primeira delas é que as expectativas do Relatório Focus são frases escritas na areia. Elas se apagam a cada nova onda.
  • A segunda é que os portfólios de investimentos devem ser balanceados de forma que o resultado da carteira não seja trágico caso a expectativa traçada no cenário base não seja atingida.
  • A terceira delas é que até as mais azeitadas “bolas de cristal” falham.
  • A mensagem final é a necessidade de diversificar entre as várias classes de ativos e nunca adotar a estratégia de dar all-in em um ativo ou classe de ativos.