Interpretando dados que abalam o mercado

Rafael Paschoarelli é professor de finanças da FEA/USP e do Insper e diretor do ComDinheiro.
Twitter: @RafaelPaschoare

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Rafael Paschoarelli

O que garante a Primeira Divisão no mundo dos investimentos

Entenda por que não há menor chance de o Brasil recuperar o Grau de Investimento em um futuro próximo

O Brasil perdeu o Grau de Investimento em 2015. (Foto: Envato Elements)
  • Os países com nota melhor ou igual a BBB- possuem o selo de Grau de Investimento
  • Em comparação com países próximos ao Brasil, Chile tem Investment Grade ao passo que Colômbia, México, Peru e Uruguai possuem ratings melhores que o do Brasil
  • Note que os países que “ostentam” o Grau Especulativo emitem títulos de dívida pagando muito mais caro e são denominados High Yield, eufemismo criado para disfarçar o high risk da operação

As principais agências de rating do mundo atribuem ao Brasil a nota de crédito BB-. Esta nota nos coloca na “Segunda Divisão” do mundo dos investimentos. Os países da “Primeira Divisão” possuem nota de crédito soberano igual ou melhor que BBB-, conforme pode ser visto na Tabela 1 (abaixo).

No jargão do mundo das finanças, os países com nota melhor ou igual a BBB- possuem o selo de Grau de Investimento. Antes que alguém pergunte “E daí ter ou não ter o Grau de Investimento”, ter este selo abre muitas portas para o país receber investimentos internacionais de grande monta.

Não ter o selo, porém, fecha estas mesmas portas.

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O Brasil já teve o Grau de Investimento obtido em 2008 e, por conta de suas próprias decisões equivocadas, o perdeu em 2015. Não há menor chance de o Brasil recuperar este selo em um futuro próximo e a discussão deste tema sequer tem aparecido entre os formadores de opinião.

Em comparação com países próximos ao Brasil, o Chile tem Investment Grade ao passo que Colômbia, México, Peru e Uruguai possuem ratings melhores que o do Brasil.

Ratings considerando Grau de Investimento (A “Primeira Divisão” no mundo dos Investimentos)

Moody’s Standard & Poor’s Fitch
Aaa AAA AAA
Aa1 AA+ AA+
Aa2 AA AA
Aa3 AA- AA-
A1 A+ A+
A2 A A
A3 A- A-
Baa1 BBB+ BBB+
Baa2 BBB BBB
Baa3 BBB- BBB-

Ao observar a Tabela 2 (abaixo), nosso rating BB- sequer nos posiciona no primeiro lugar dentro das notas de investimento da “Segunda Divisão” do mundo de investimentos. Percebam que precisaríamos evoluir de BB- para BB e depois de BB para BB+ para termos o título de “Campeão da Segunda Divisão” do mundo dos investimentos.

Note que os países que “ostentam” o Grau Especulativo emitem títulos de dívida pagando muito mais caro e são denominados high yield, eufemismo criado para disfarçar o high risk da operação.

Alguns chegam a chamar os títulos High Yield de Junk Bonds. Seja como for, portas são fechadas quando o país não tem o selo de Grau de Investimento e isso é ruim. Também não devemos desprezar o custo extra a ser carregado pela população pelo fato de o país sem grau de investimento ter que pagar taxas de juros mais altas para se financiar.

Ratings considerando Grau Especulativo (“Segunda Divisão” no mundo dos Investimentos)

Moody’s Standard & Poor’s Fitch
Ba1 BB+ BB+
Ba2 BB BB
Ba3 BB- BB-
B1 B+ B+
B2 B B
B3 B- B-
Caa1 CCC+ CCC+ 
Caa2 CCC CCC
Caa3 CCC-  CCC-
Ca CC CC

Muitos investidores internacionais graúdos possuem políticas de investimento que permitem minúsculas posições de alocação em países que não possuam o Investment Grade. Algumas políticas são tão drásticas que vedam o investimento em países sem o Grau de Investimento.

Para um investidor institucional gringo, o Brasil representa uma fatia minúscula da sua carteira global de investimentos. Na cabeça do típico investidor financeiro estrangeiro, qualquer um que aloque 100% do seu capital no Brasil é muito arrojado ou até insano.

Por fim, a recuperação do Grau de Investimento pelo Brasil é um tema em absoluto esquecimento e que deve voltar ao debate econômico.