Interpretando dados que abalam o mercado

Rafael Paschoarelli é professor de finanças da FEA/USP e do Insper e diretor do ComDinheiro.
Twitter: @RafaelPaschoare

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Rafael Paschoarelli

Juros altos: bons para poucos, ruim para muitos

Atuais taxas de juros brasileiras fazem a alegria das entidades superavitárias e o pesadelo das deficitárias

Foto: Envato Elements

Em um curso de mercado financeiro é comum separar as entidades em superavitárias e deficitárias.

Uma entidade deficitária é aquela que não ganha o suficiente para pagar suas contas. Nela estão incluídas famílias, empresas e o governo. Aí se enquadram milhões de famílias que necessitam de empréstimos para terminar o mês.

Do outro lado do espectro estão as entidades superavitárias, aquelas que ganham mais do que gastam. Aí se encontram um pequeno número de famílias, empresas e governos.

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Os atuais níveis das taxas de juros brasileiras fazem a alegria das entidades superavitárias e o pesadelo das deficitárias.

Uma pessoa física superavitária no Brasil é duplamente felizarda: primeiro porque consegue ganhar mais do que ganha. Em segundo lugar, porque o Brasil é um dos melhores lugares do mundo para se aplicar dinheiro com baixo risco e elevada rentabilidade.

O Tesouro IPCA promete pagar mais de 5,50% ao ano acima da inflação de hoje até 2055. Isto indica que um camarada com alguns milhões em liquidez tem que ser muito audacioso para colocar seus recursos em renda variável ou investir diretamente na produção criando negócios e empregos, tendo em vista que é possível garantir mais de 5% ao ano acima da inflação e por um longo período de tempo bastando para isso comprar a letra do governo.

Se este felizardo e abastado investidor tiver alguma assessoria financeira, ele poderá constituir um fundo de previdência exclusivo, compor o fundo com Tesouro IPCA e ainda pagará depois de 10 anos menos impostos que a grande massa de assalariados que compram o mesmíssimo título via Tesouro Direto.

Mas o Brasil é cruel com as entidades deficitárias que se veem obrigadas a pagar taxas de juros elevadas para se financiar no cheque especial ou na taxa do crédito pessoal, entre tantas outras modalidades de crédito.

Veja as taxas praticadas pelas instituições financeiras no cheque especial: há banco controlado pelo governo que escalpela seus clientes cobrando mais de 7% ao mês!

O Brasil viveu um curto período de tempo com a taxa básica de juros abaixo de 5% ao ano, chegando a 2% ao ano no início de 2021. Mas aqui no Brasil ocorre um curioso e previsível exemplo: quando a Selic sobe, o repasse do aumento para os tomadores é quase imediato. Quando a Selic cai, o repasse da queda para os tomadores ocorre vagarosamente.

Por fim, se você for um dos felizardos superavitários, comemore: você está em um dos melhores lugares do mundo para investir em renda fixa com alto retorno esperado e baixo risco!

Se for uma entidade deficitária… Bom, acho melhor nem terminar a frase.