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O olhar do mercado internacional

Thiago de Aragão é diretor de estratégia da Arko Advice e assessora diretamente dezenas de fundos estrangeiros sobre investimentos no Brasil e Argentina. Sociólogo, mestre em Relações Internacionais pela SAIS Johns Hopkins University e Pesquisador Sênior do Center Strategic and International Studies de Washington DC, Thiago vive entre Washington DC, Nova York e Brasília.
Twitter: @ThiagoGdeAragao

Escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias

Thiago de Aragão

Acordos entre Brasil e China são oportunidades promissoras, mas é preciso tomar cuidado

A volatilidade política no Brasil pode afetar a continuidade e a eficácia dos projetos acordados

Acordos entre Brasil e China são oportunidades promissoras, mas é preciso tomar cuidado
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia oficial de chegada do presidente Xi Jinping, no Palácio da Alvorada (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
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  • A dependência crescente do Brasil em relação ao mercado chinês pode suscitar preocupações sobre a diversificação de parceiros comerciais
  • A implementação desses acordos requer um ambiente político estável e uma governança eficaz
  • A viabilidade desses compromissos dependerá da capacidade do país de superar desafios internos

Os recentes acordos firmados entre o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês Xi Jinping abrangem diversas áreas estratégicas, incluindo agricultura, tecnologia, comércio e infraestrutura. No entanto, é prudente adotar uma perspectiva crítica quanto à viabilidade e implementação efetiva desses compromissos.

Historicamente, o Brasil tem enfrentado desafios na execução de projetos de grande envergadura, frequentemente devido a entraves burocráticos, instabilidade política e limitações orçamentárias. A implementação eficaz desses acordos exigirá uma coordenação interministerial eficiente e uma visão estratégica de longo prazo, aspectos que nem sempre foram pontos fortes da administração pública brasileira.

Além disso, a dependência crescente do Brasil em relação ao mercado chinês pode suscitar preocupações sobre a diversificação de parceiros comerciais e a vulnerabilidade a flutuações econômicas externas. Embora a China seja um parceiro comercial vital, é essencial que o Brasil mantenha uma política externa equilibrada, evitando uma dependência excessiva que possa comprometer sua autonomia estratégica.

Outro ponto de atenção é a compatibilidade entre os interesses nacionais brasileiros e os objetivos estratégicos chineses. A China tem demonstrado interesse em setores estratégicos no Brasil, como energia e infraestrutura, o que pode gerar debates sobre soberania e controle de recursos naturais. A entrada de empresas chinesas em áreas sensíveis deve ser cuidadosamente avaliada para garantir que os benefícios econômicos não venham acompanhados de concessões que possam comprometer interesses nacionais a longo prazo.

Nova Rota da Seda: China pressiona Brasil

É importante destacar que a China vem pressionando o Brasil a integrar sua iniciativa da Nova Rota da Seda, um projeto que busca ampliar a influência econômica e geopolítica chinesa ao redor do mundo. No entanto, o governo brasileiro segue resistente, compreendendo que as desvantagens dessa adesão podem superar os benefícios. Entre os riscos estão o aumento da dependência estratégica da China, a perda de autonomia em setores-chave e potenciais impactos negativos sobre a capacidade do Brasil de diversificar suas parcerias internacionais.

Por fim, a implementação desses acordos requer um ambiente político estável e uma governança eficaz. A volatilidade política no Brasil pode afetar a continuidade e a eficácia dos projetos acordados. É fundamental que haja um compromisso institucional sólido para que as iniciativas não sejam interrompidas por mudanças de governo ou por pressões políticas internas.

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Em suma, embora os acordos entre Brasil e China representem oportunidades promissoras para o desenvolvimento econômico e tecnológico, é imperativo que o Brasil adote uma postura cautelosa e estratégica. A viabilidade desses compromissos dependerá da capacidade do país de superar desafios internos, manter sua autonomia estratégica e assegurar que os benefícios sejam equitativamente distribuídos entre a população brasileira. A resistência à Nova Rota da Seda demonstra uma estratégia alinhada à preservação da soberania e dos interesses nacionais de longo prazo.