Disputa entre Estados Unidos e China pode definir o futuro das empresas de tecnologia. Foto: Adobe Stock
A disputa tecnológica entre Estados Unidos e China deixou de ser um debate de especialistas e virou um eixo central da política global. As duas maiores potências do mundo entenderam que inteligência artificial e computação quântica não são apenas tecnologias, mas instrumentos de poder econômico, militar e político. Nesse novo cenário, IA generativa e quântica se tornaram prioridades nacionais, com orçamentos bilionários e um nível de competição que cresce ano após ano.
Nos Estados Unidos, o ambiente é marcado por uma corrida interna entre grandes empresas. Google, Meta, Microsoft, OpenAI e Amazon ampliam investimentos de forma agressiva, construindo data centers gigantescos, comprando hardware especializado e contratando talentos a preços cada vez mais altos. A IA generativa virou o centro da estratégia de negócios dessas companhias. O efeito colateral é que os valuations sobem rápido demais, sustentados por expectativas de lucro que ainda não chegaram. Muitas startups captam milhões com promessas vagas e modelos que não têm receita clara. Há exagero no ar e os investidores sabem disso, mas continuam apostando por medo de ficar de fora.
A China encara esse jogo com outra lógica. O país reduziu custos de desenvolvimento tecnológico usando três fatores que nenhum país ocidental consegue replicar: descentralização industrial em escala nacional, baixa rigidez em regras de propriedade intelectual e um Estado que subsidia praticamente tudo o que considera estratégico. Empresas chinesas conseguem treinar modelos com custos menores, usando dados que não passariam pelos filtros legais ocidentais. O governo injeta recursos diretamente, financia pesquisa básica, barateia energia para data centers e oferece vouchers para computação em nuvem. É um modelo pragmático, rápido e sem grandes preocupações com retorno imediato.
Desequilíbrio alimenta a possibilidade de uma bolha de IA nos EUA
Isso cria uma assimetria importante. Enquanto os EUA queimam bilhões pressionados pela competição privada e pela necessidade de provar liderança tecnológica, a China avança com uma estrutura de custos mais baixa e um ritmo constante, porque o risco é socializado. Isso pressiona ainda mais as empresas americanas, que precisam gastar para acompanhar. No final das contas, esse desequilíbrio alimenta a possibilidade de uma bolha de IA nos Estados Unidos. Um mercado que cresce rápido demais, com expectativas exageradas e pouca clareza sobre quem realmente conseguirá transformar essas tecnologias em lucro está sempre sujeito a correções bruscas.
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Se essa bolha estourar, o impacto não seria homogêneo. Os gigantes da tecnologia continuariam firmes. Eles têm escala, caixa e influência para absorver qualquer ajuste. Os vulneráveis seriam os projetos médios e pequenos, que dependem de capital constante e não conseguem competir em custo ou infraestrutura. Isso aceleraria a consolidação do setor, deixando a inovação concentrada nas mesmas empresas que já dominam o mercado hoje. Para os EUA, vira um problema estratégico: menos diversidade tecnológica significa menor capacidade de competir em ritmo e escala com a China.
Na área de computação quântica, o cenário é semelhante. A China investe mais, subsidia mais e coordena melhor. Criou laboratórios enormes, investiu em redes de comunicação quântica e formou um grupo de cientistas com foco exclusivo na agenda nacional. Os EUA têm bons laboratórios privados, mas dependem do mercado e de ciclos de financiamento. A diferença entre uma política de Estado e uma política empresarial fica evidente no ritmo de avanço de cada lado.
A mensagem geral é simples. IA generativa e computação quântica se tornaram ferramentas centrais de poder. A China trabalha com foco, agressividade e custos baixos. Os EUA trabalham com capital privado, velocidade e uma pressão constante por resultados. A combinação desses fatores cria um ambiente instável, com risco real de bolha no mercado americano e com uma trajetória chinesa mais previsível no médio prazo. Não significa que os EUA vão perder a liderança, mas significa que a disputa ficou mais apertada e que o custo para mantê-la será cada vez maior.
O futuro da tecnologia será definido por essa disputa. Não é mais apenas sobre inovação. É sobre vantagem estratégica, poder global e controle de cadeias produtivas. E, gostemos ou não, IA e computação quântica são as novas fronteiras desse jogo.