Viagem financeira

Formada em jornalismo e com especialização em mídias digitais pela Universidade da Califórnia, Valéria Bretas já passou pelos maiores veículos de comunicação do País e hoje é editora-chefe do E-Investidor. Ao longo de sua carreira, também aperfeiçoou técnicas de planejamento financeiro aplicadas em viagens. Na coluna Viagem Financeira, escreve sobre experiências, organização financeira e notas exclusivas sobre turismo. Instagram: @valeriabretas

Com colaboração do jornalista @andersonfigo

Valéria Bretas

O que os blogs não te contam sobre viajar para a Grécia

Se você tem o país na sua lista de destinos, precisa ler essas dicas antes de embarcar

Ilha de Santorini, na Grécia (Foto: Valéria Bretas)
  • Há dois anos, quando a pandemia ganhou tração no Brasil, as operadoras de turismo passaram a oferecer pacotes de viagens pela metade do preço para gerar caixa e sobreviver ao lockdown
  • Comprei um pacote da Hurb de 9 dias em Atenas, Santorini e Mykonos por R$ 2,8 mil - com voo, hospedagem e transporte entre os destinos inclusos
  • A boa notícia é que o teste de aproveitar um dos famosos “pacotes com preços mágicos” funcionou. Mas há um outro lado da moeda que os blogs não te contam sobre a “viagem dos sonhos”

Sol, descanso, praias paradisíacas e imersão na terra dos grandes filósofos formam o imaginário de um paraíso turístico para quem tem planos de viajar para a Grécia. Mas a experiência não é exatamente essa.

Há dois anos, quando a pandemia ganhou tração no Brasil, as operadoras de turismo passaram a oferecer pacotes de viagens pela metade do preço para gerar caixa e sobreviver ao lockdown. Desde março de 2020, o setor acumula um prejuízo de R$ 515 bilhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

A estratégia deu certo e muitos brasileiros aproveitaram o período para programar férias visando o longo prazo. E eu faço parte dessa estatística!

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Comprei um pacote da Hurb de 9 dias em Atenas, Santorini e Mykonos por R$ 2,8 mil – com voo, hospedagem e transporte entre os destinos inclusos. Confesso que a insegurança bateu, já que somente a passagem aérea para a Grécia tem um ticket médio de R$ 7 mil. Veja dicas da especialista Ana Stier para economizar com passagens

A boa notícia é que o teste de aproveitar um dos famosos “pacotes com preços mágicos” funcionou. A data de embarque foi confirmada no prazo de 45 dias antes da ida, como preveem as regras da compra, e recebi todas as orientações sobre hotéis e transporte em um documento único via e-mail.

Aqui deixo um ponto de destaque: considerando o preço do transporte de barco entre as ilhas (aproximadamente 50 euros cada trecho / cerca de R$ 900 correspondente ao meu deslocamento total), o trajeto de ferry representou aproximadamente um terço do valor total do pacote Hurb. Em termos financeiros, portanto, o custo-benefício é alto e a compra foi um grande acerto.

Mas há um outro lado da moeda que os blogs não te contam sobre a “viagem dos sonhos”.

Tenha cuidado com furtos em Atenas

Viajo há mais de uma década e sempre faço questão de utilizar o transporte público das cidades. Na minha visão, se perder um pouco pelas estações de metrô ou nos terminais de ônibus é uma das melhores formas de conhecer mais sobre o destino, hábitos locais e sentir a cultura de outro país.

Em Atenas? Melhor evitar!

Antes de explicar, faço um disclaimer importante. Conversei com a polícia, taxistas, moradores locais e até pessoas em situação de rua para ter uma percepção mais correta sobre a segurança na cidade.

Viajei com a minha mãe e uma amiga que mora nos Estados Unidos. O nosso primeiro dia já ficou marcado: abriram uma das mochilas do grupo e furtaram uma quantidade significativa de euros. Passados quinze minutos, em frente a Ágora de Atenas, uma das principais atrações, percebo uma mulher abrindo o zíper da minha bolsa (não tinha nada, já que uso doleira no exterior e você deveria fazer o mesmo para evitar problemas). Deixei o local, mas observei de longe que ela repetia o comportamento com outros turistas.

Essa experiência acendeu um sinal vermelho e passei a conversar mais com as pessoas. Pelo menos cinco gregos foram firmes na orientação de não andar com mochilas nas costas e ter pouco dinheiro na carteira. Passaporte, nem pensar.

A recomendação geral foi de ficar longe das estações de metrô porque a polícia de Atenas perdeu o controle da segurança. Criminosos entram em bando nos vagões para roubar os turistas (um policial confirmou os relatos). É evidente que não paguei para ver, mas, com tantas pessoas alertando sobre o transporte público, ficamos longe e sem arriscar.

Se a cidade estiver no seu roteiro, portanto, lembre de andar com uma bolsa menor, sempre na frente do corpo e evite o metrô. Você não vai encontrar problemas em termos de assalto e roubo direto, mas o índice de furtos é alto. Atenção!

Vá preparado para gastar com transfer

A locomoção é o ponto mais complexo da viagem, mas já chego lá. De início, é importante saber que tudo o que é economizado com souvenirs e restaurantes baratos, será compensado nos transfers.

Em geral, o transporte público não é bom na Grécia (principalmente em Atenas, como citei). Isso significa que você precisa incluir o transporte de embarque e desembarque de cada cidade ou ilha no roteiro.

Não conte com uma linha de ônibus para chegar até o aeroporto ou para o porto de partida do ferry. Táxi e transfer são as melhores opções, mas são desembolsados de 30 a 40 euros por cada trecho. Quem vai sozinho tende a sofrer um pouco mais nesse aspecto.

Depois de comparar os preços, fica aqui uma boa dica. Há dois sites que oferecem serviço de transfer com cotação em tempo real: o Welcome Pickups e Get Your Guide.

Utilizei os dois durante a viagem e paguei mais barato do que a tarifa de um taxista local.

Além do preço, outra vantagem é ter a certeza de encontrar um motorista, que estará pontualmente no local com o seu nome sinalizado (os portos são extremamente desorganizados e o tempo de espera nas filas é alto).

O ferry é prático, mas exige atenção e muitos cuidados

É comum pensar que o trajeto de uma ilha grega para a outra é simples e prático, mas não é. Dependendo do seu roteiro, o deslocamento entre os arquipélagos pode ultrapassar oito horas de viagem. Você está disposto a perder um dia? É importante pensar.

Existem duas formas de chegar até as ilhas: voos e ferrys. E é aqui que o seu desafio começa. Mesmo como uma viajante experiente, por pouco não fiquei presa um dia a mais em uma das ilhas por falta de organização das empresas que oferecem as passagens.

Escolher o melhor horário de embarque e rota vai exigir paciência e muita pesquisa. Os pontos de parada dos ferrys são identificados por nome do porto, ou seja, a mesma ilha pode ter mais de um local de desembarque e esse detalhe faz a diferença se você não prestar atenção. Anote todos os nomes, horário de partida e a sua chegada no destino.

Existem diversas empresas que fornecem os tickets, como a Seajets, Blue Star Ferries, Golden Star Ferries e Ferries in Greece. A compra pode ser feita pelo site ou presencial em um dos balcões, mas aqui vai mais um ponto de atenção. Não deixe para comprar a sua passagem de última hora! Os portos são lotados, há muitos passageiros e você pode não conseguir embarcar no horário previsto.

Além disso, é extremamente importante acompanhar se há atualizações sobre o horário de embarque do seu barco. O Hurb facilitou metade do caminho ao emitir parte dos meus tickets de ferry, mas senti a necessidade de confirmar as informações, mais uma vez, no dia da viagem.

Para a minha surpresa, o trecho programado para às 15h mudou para às 12h – que seria a última embarcação do dia – sem aviso prévio. Por sorte, fiz esse acompanhamento de itinerário pelo site da companhia, mas poderia ter ficado presa na ilha e perdido um dia no outro local.

Avalie se há um aeroporto na ilha de destino. O ferry é confortável, as instalações são boas, mas você pode gastar mais tempo do que gostaria para se locomover.

Se locomover é mais difícil do que parece

A oferta de táxis em Atenas é suficiente para não depender do aluguel de um carro. Saiba, porém, que grande parte não utiliza taxímetro e a cobrança é feita sem padrão – isso significa que você só vai saber o preço no final do percurso. Em geral, os motoristas cobram um preço justo. Por lá, recomendo procurar um hotel próximo da região de Acrópole, o principal monumento da cidade, e fazer os passeios caminhando.

Por outro lado, em Mykonos e Santorini, a história é outra. Já fica o aviso que os aplicativos de transporte coletivo, como Uber, não funcionam bem e a opção de táxi é limitada, com poucos veículos disponíveis nas ilhas.

Há linhas de ônibus e seaboat (barco táxi), mas ambos com poucas paradas e horários definidos. Depois das 23h, por exemplo, a linha para de funcionar e dificilmente você vai encontrar um táxi para retornar ao hotel ou pousada.

A melhor saída é alugar um carro ou quadriciclo – o preço é o mesmo. Ao optar pela locação, escolha veículos menores porque as estradas são estreitas e as ruas bem apertadas. Vale destacar que dirigir na Grécia pode não ser tão simples para todo motorista habilitado, principalmente pelo volume de congestionamento, via estreita com passagem de mão dupla e a proximidade de precipícios perigosos. Alugamos por dois dias e as paisagens são indescritíveis.

E se você quer economizar, evite as locadoras globais. Há inúmeras empresas locais com promoções e o valor sai bem mais em conta. Pode confiar!

Simpatia? depende

Na minha opinião, o Brasil sempre será referência em termos de simpatia e acolhimento. Esperava pelo menos um pouco dessa tratativa nas cidades e ilhas gregas, principalmente pelo fato de a economia do país girar em função do turismo.

Neste ponto, os relatos são distintos. Um colega jornalista viajou na mesma semana que eu e passou pelos mesmos lugares, mas a experiência foi outra. Enquanto ele e a namorada viveram o excesso do bom atendimento nos hotéis e restaurantes, o meu grupo lidou constantemente com descaso e grosseria. A ilha de Santorini salvou a viagem, com humor e clima bem diferentes do que encontramos em Atenas e Mykonos.

É evidente que o tratamento é o menor dos problemas, mas saiba que Mykonos é um dos locais mais badalados do Mediterrâneo e os turistas são considerados notas de euros ambulantes. Prepare o bolso.

Algumas conclusões para quem chegou até aqui

A Grécia é um país esplêndido e singular, com paisagens de tirar o fôlego. Fato!

Mas não é um destino fácil para viajantes de primeira leva e vai exigir um roteiro bem planejado e feito com atenção. Talvez não seja o melhor lugar para uma lua de mel, por exemplo. Há muita dificuldade em termos de locomoção e o acesso aos hotéis exige pensar em malas menores – as principais hospedagens em Santorini demandam uma escalada superior a 100 degraus. Imagina subir e descer, sem ajuda, com uma mala de 23kg e outra de 10kg? Não é nada fácil.

Conversei com outros turistas que estavam de passagem via cruzeiro. Para quem tem intenção de relaxar e aproveitar as férias sem preocupação, essa pode ser uma escolha mais segura.

Se você for para a Grécia, não deixe de me procurar no Instagram e contar mais sobre a sua experiência.