Comportamento

Com a reforma tributária, ainda vale comprar produtos nos EUA?

Dois Estados norte-americanos mostram que é possível fazer boas compras e aproveitar o turismo local

Com a reforma tributária, ainda vale comprar produtos nos EUA?
New Orleans, a capital da Louisiana, é um dos estados que oferecem "tax free" aos visitantes (Crédito: Chris Granger / Louisiana Office of Tourism)
  • Nas últimas semanas, a reforma tributária entrou nos holofotes e norteou as discussões em todo o Brasil. Mesmo que ainda não haja uma definição sobre o valor da alíquota para bens e serviços, especialistas projetam impactos negativos para o setor
  • Nos EUA, a carga tributária é mais vantajosa porque os impostos sobre consumo são menores, uma estratégia diferente do que é praticado aqui
  • Há, contudo, somente duas regiões no país norte-americano que oferecem a vantagem de receber os valores dos impostos de volta em dinheiro: Texas e Louisiana

Seja em uma viagem de trabalho ou de férias, os Estados Unidos costumam estar no imaginário do brasileiro com a intenção de fazer compras no exterior. No país, cada Estado define os seus impostos sobre vendas, que podem variar entre 0% a 9,55% por transação, considerando a soma dos tributos locais e estaduais.

Engana-se, porém, quem acredita que os destinos mais procurados pelos turistas, como Nova York, Califórnia e Flórida, estão entre os melhores lugares para encher o carrinho. Os dois primeiros figuram entre os dez Estados com o maior imposto sobre compras do país, com uma média de 8,52% e 8,82%, respectivamente. A Flórida aparece na 23º posição do ranking dos 50 Estados, com 7,02%.

Os valores podem assustar à primeira vista, mas por aqui a realidade tributária é ainda pior. O Brasil tem o título de segundo país com o iPhone mais caro do mundo, atrás somente da Turquia, segundo levantamento anual realizado pelo portal Nukeni. No total, cerca de 40% do valor do aparelho vem de impostos federais, estaduais e importação, segundo cálculos realizados pelo escritório Domingues Sociedade de Advogados (DMGSA).

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Nas últimas semanas, a reforma tributária entrou nos holofotes e norteou as discussões em todo o Brasil. Com a aprovação da proposta na Câmara dos Deputados, os brasileiros aguardam mais detalhes de como vai funcionar a mudança, que prevê unificar as alíquotas e simplificar o sistema. A substituição completa dos impostos só passa a valer a partir de 2027.

“Há décadas discutimos a necessidade de ter uma reforma para simplificar e trazer mais eficiência ao sistema. Quando isso acontecer, mais empresas e investidores estrangeiros virão e isso pode reduzir o valor do dólar e tornar o País mais competitivo”, diz Camila Tápias, advogada tributarista e sócia do Utumi Advogados.

O texto pode sofrer mudanças, portanto, não há uma definição sobre o valor da alíquota única de tributo que será considerada padrão para a maioria dos bens e serviços da economia. Os especialistas, no entanto, projetam impactos negativos no setor, com uma alíquota-base que pode ser superior a 25% sobre o consumo – se o cenário for concretizado, o Brasil estaria entre os países com um dos maiores Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) do mundo.

“A carga tributária nos EUA é mais vantajosa porque os impostos sobre consumo são menores, uma estratégia diferente do que é praticado aqui”, diz Cláudio Batista, sócio do escritório DMGSA e especialista em direito tributário internacional. “Por termos uma alíquota mais alta há um forte desincentivo do consumo.”

Vale comprar produtos nos EUA?

Quem costuma viajar talvez já tenha se deparado com o “tax free”, um sistema de reembolso de impostos por compras realizadas no exterior. O benefício é muito popular na Europa por devolver ao consumidor final o valor pago pelo imposto IVA, que pode chegar a 27% em alguns países.

Nos Estados Unidos, a política é outra. Há somente cinco Estados que não cobram a chamada “sales tax”: Delaware, New Hampshire, Oregon, Montana e Alasca. Isso significa que a cada US$ 1 mil gastos nesses lugares, o consumidor precisaria pagar US$ 88,2 a mais se os mesmos produtos fossem adquiridos na Califórnia, por exemplo.

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Ainda assim, turistas de todo o mundo escolhem o país para fazer compras, especialmente de produtos eletrônicos e um enxoval. E há fundamento na procura. Os dados levantados pelo Nukeni também revelam que o iPhone 14 mais barato do mundo é comercializado nos EUA, com preço médio de US$ 829.

E há somente duas regiões no país norte-americano que oferecem a vantagem de receber os valores dos impostos de volta em dinheiro: Texas e Louisiana. Por lá, todas as compras realizadas em lojas como Apple, Forever 21, Macy’s e Best Buy devolvem os tributos aos turistas. Para ter o dinheiro de volta na carteira, é necessário levar o passaporte e as notas fiscais em um dos postos de troca, instalados nas próprias lojas ou nos aeroportos.

Ou seja, se o seu objetivo é fazer compras, talvez você esteja escolhendo o destino errado. Afinal, aquele mesmo iPhone de US$ 829 pode sair até 10% mais caro em outros Estados americanos.

Além dos impostos

O “tax free” é somente uma das vantagens de viajar para a região Sul dos Estados Unidos. A Louisiana representa um dos lugares mais ricos do mundo do ponto de vista cultural, com influências que passam pelos franceses, nativos norte-americanos e espanhóis.

Foi na cidade mais populosa do estado, Nova Orleans, que o cantor e trompetista Louis Armstrong se destacou, transformando a cidade em um reduto lendário do jazz mundial. A culinária cajun e creole também foram eternizadas. E mesmo quem já conhece o país, ou vai pela primeira vez, se depara com uma atmosfera singular e sedutora ao caminhar pelas ruas de NOLA, como o local é popularmente conhecido.

Multicutural, a capital da Louisiana vai além da tradicional festa do Mardi Gras, similar ao nosso carnaval. O destino turístico vibra para quem aprecia uma culinária poderosa e se deixa levar pela musicalidade nos bares de rock, blues e jazz que rodeiam os bairros animados e o famoso calçadão de Bourbon Street. No DNA local, há muita natureza e o turista deve separar um dia para conhecer os pântanos e plantações históricas do local, que mostram um pouco da vida selvagem da cidade.

Depois de fazer as compras e viver um pouco da magia de NOLA, os visitantes podem aproveitar a viagem para explorar os outros Estados da região Sul. De carro, por exemplo, dá para fazer uma rota até Arkansas e planejar um roteiro por diferentes cidades, passando por Little Rock, Hot Springs, Ozarks e Bentonville. O Estado esconde um verdadeiro tesouro na América para quem gosta de experiências ao ar livre.

New Orleans, a capital da Louisiana, foi onde o cantor e trompetista Louis Armstrong transformou a cidade em um reduto lendário do jazz mundial. (Crédito: Chris Granger / Louisiana Office of Tourism)

Como organizar as finanças para viajar

A professora e pesquisadora Gisele Liseane mora em Portugal, mas decidiu aproveitar uma viagem de trabalho no Estado do Mississipi para comprar um novo smartphone. “Sou adepta do “tax free” desde 2008 nos pontos da Europa, mas nos Estados Unidos existe um programa da Apple que faz a troca de um produto antigo por créditos, reduzindo o valor final no trade [troca]”, diz. “Durante a viagem me avisaram sobre o imposto zero na Louisiana e esse foi um fator decisivo para mudar a rota e fazer a compra por lá.”

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A recomendação para quem decide viajar e ir às compras é começar um planejamento financeiro com antecedência. O primeiro passo é fazer como Liseane e pesquisar o valor médio do que se pretende comprar no exterior. O segundo, acompanhar o preço das passagens, comparar tarifas de hospedagens e projetar gastos aproximados com a alimentação. Para isso, o viajante deve monitorar a cotação do dólar de perto.

A moeda está mais atrativa nos últimos meses, mas segue na faixa dos R$ 5 e exige fazer a conversão para simular as despesas. “Um ponto importante consiste em avaliar o destino porque a incidência de impostos é diferente em cada lugar e isso pode pesar dependendo do volume de compras”, afirma Eliane Tanabe, planejadora financeira CFP pela Planejar (Associação Brasileira do Planejamento Financeiro).

Ela diz ainda que a melhor forma de se organizar financeiramente é entender o valor que deseja gastar em dólar com um enxoval ou o eletrônico. “Se a intenção é gastar US$ 1 mil, vale comprar a moeda aos poucos ou deixar o dinheiro em uma conta em dólar para se proteger da oscilação do câmbio“, afirma.

O último passo, e um dos mais importantes, fica com a definição da data da viagem para organizar a quantia mensal que deve ser separada até o dia do embarque. Se as contas não batem, a recomendação dos planejadores é olhar para o orçamento e entender se há gastos que podem ser cortados.

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