Acho que todos sabem, mas é importante deixar claro: a Petrobras (PETR4) é uma empresa de capital misto, mas tem o controle estatal, da União. Por conta disso, muitas de suas decisões são frequentemente influenciadas por interesses políticos, especialmente em anos eleitorais ou quando a inflação está sob pressão – caso atual.
Desde que o governo atual assumiu o poder, a PPI – Política formal de Paridade de Importação – deixou de ser seguida de forma 100% rígida. Hoje, a empresa faz um “preço de mercado”, sem uma fórmula definida (ou transparente), abrindo espaço para a criação de debates e dúvidas por parte dos investidores a respeito dos preços praticados.
O que é possível verificar é o preço médio praticado ou divulgado no balanço em relação ao preço médio do período praticado no mercado internacional. Ou seja, a cada 3 meses, pelo menos na divulgação dos resultados, o mercado pode estudar se houve mais ou menos interferência do governo (veja que exclui a possibilidade de zero interferência).
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Hoje o problema tem um nome claro para o governo: inflação. O preço do petróleo pesa bastante na conta do IPCA, através de itens como gasolina, diesel, gás de cozinha e outros, e uma forte alta no petróleo pode gerar mais pressão sobre o IPCA e, consequentemente, pressão por juros maiores por parte do mercado.
A crise atual entre Irã e Israel já elevou o preço do barril de US$ 60 para US$ 80, e há previsões para preços acima de US$ 150, segundo o JP Morgan, em caso de um estresse maior ou uma entrada mais “formal” dos EUA nessa guerra em especial.
Como já mostrei no meu Instagram @vmiziara ou no grupo do WhatsApp, se o Irã decidir por fechar o Estreito de Ormuz, cerca de 20% da oferta global de petróleo será paralisada e, seguindo a lógica da oferta & demanda, o resultado parece ser um só.
Voltando para o Brasil e o cenário econômico: atualmente estamos com a Selic em 15% e inflação de 5,30%, bem acima da meta base de 3%. Caso o petróleo suba mais ainda, a expectativa de queda da inflação pode ir por água abaixo e pode forçar o Banco Central a subir mais os juros.
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Ou pode fazer com que a União interfira na Petrobras e segure um aumento de preços para que não haja o repasse para a população e para a cadeia como um todo. A fórmula de menor repasse = menor margem de lucro já é conhecida no histórico da Petrobras:
Entre 2012 e 2014, a empresa manteve preços artificialmente baixos e o resultado foi de prejuízos bilionários e perdas para os acionistas — inclusive para a União, que recebeu menos dividendos da empresa.
Como se o cenário atual macro e da Petrobras já não fosse complicado o suficiente, há ainda uma pressão do governo pela distribuição de dividendos extraordinários, diminuindo o caixa da empresa em um momento de incertezas, para ajustar parte das contas públicas.
Durante um tempo, o mercado pode até comemorar a divulgação de dividendos extraordinários, mas o ajuste no caixa e o controle de preços podem fazer com que os próximos resultados desapontem os investidores.
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A maioria das casas de análise ainda dá “compra” como recomendação base nas ações da empresa, citando principalmente o fluxo de caixa e os dividendos projetados… exatamente os dois pontos que ligam meu alerta para os próximos meses em relação à empresa.
Nos próximos dias, vou falar mais sobre petróleo e trazer os últimos relatórios da Petrobras lá no grupo! Aproveite para entrar e participar da discussão. Um abraço.