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Colunista

OPINIÃO: Banco Master, “grande demais para quebrar”?

Entenda os riscos para o investidor de CDBs e para o Fundo Garantidor de Crédito após a proposta do BRB que mexeu com o mercado financeiro

Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master. Foto: Reprodução/YouTube
Daniel Vorcaro, presidente do Banco Master. Foto: Reprodução/YouTube

Quem assistiu ao filme “Too Big to Fail” (“Grande demais para quebrar”, no Brasil) sobre a crise de 2008 deve ter associado na hora o título à compra do Banco Master pelo BRB (BSLI4), que vem junto com um leve frio na barriga – veja aqui o que se sabe sobre o caso.

Em 2008, quando tivemos a maior crise financeira desde 1929, a saída para a insolvência do sistema financeiro, como visto no filme, ocorreu por fusão, compras e vendas de bancos entre si. A ideia naquele momento era que um salvaria o outro e o governo pagaria parte da conta, já que dos males o menor seria uma quebra controlada do que falências de surpresa.

Nos últimos meses, muito se falou a respeito do Banco Master e a mágica que ele teria que fazer para remunerar os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) que eram vendidos a taxas que remuneravam o investidor muito acima da concorrência.

Basicamente, se você é um banco e vende um CDB seu, você está pegando dinheiro emprestado dos investidores para investir ou rentabilizar esse recurso acima da taxa que está pagando, certo? Logo, se você pega dinheiro emprestado a 15%, 16% ao ano, você teria que investir, e muito bem, para remunerar acima disso. E aqui que mora a grande dúvida do mercado: Como o banco Master consegue pagar tão bem para pegar dinheiro emprestado e ainda fazer esse dinheiro render?

O tamanho do impacto do Banco Master no sistema financeiro

A preocupação tem número, mais ou menos R$ 40 bilhões em depósitos a prazo. Para o leitor ter uma noção, esse número é dez vezes maior do que a fraude descoberta no Banco Panamericano, pouco tempo depois de eu entrar no mercado financeiro – e acho que uma das primeiras crises que vi junto do Banco Cruzeiro do Sul. Não preciso levantar mais argumentos sobre porque todos estão preocupados, certo?

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O problema não se limita a um rombo entre investidores de títulos do Banco Master, mas diz respeito também ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Se você tem assessor ou gerente de investimentos já deve ter escutado várias vezes sobre quão seguro e avançado é nosso sistema bancário – e sempre com destaque para o FGC, o fundo “protetor”.

Para relembrar rapidamente, o FGC é uma instituição privada, formada por bancos tradicionais que destinam parte do resultado para a criação de uma reserva que reembolsa investidores em caso de quebras de instituições financeiras. Assim, todos se sentem mais seguros e isso ajuda a evitar corrida de saques e até um efeito dominó, já que todo sistema está interligado.

Hoje, o FGC reembolsa o investidor em até R$ 250 mil por CPF por instituição (ou grupo) financeiro. Então, em parte, aparentemente está tudo certo para quem tem até este teto investido (considerando rendimentos) em CDBs do Banco Master. O grande problema, então, é exatamente o FGC!

Para o investidor, o risco é dele mesmo. Quem investe em CDBs tem que saber que está investindo na instituição financeira que, como todas no mercado, podem eventualmente quebrar. O FGC dá segurança adicional e “reembolso” em caso de falência. Quem passa dos R$ 250 mil sabe (ou deveria saber) do risco que está correndo, sempre.

Risco FGC e o sistema bancário

O FGC foi constituído em 1995 e desde então vem crescendo seu balanço com aportes muito maiores do que as quebras que vimos ao longo dos anos. Atualmente, o fundo tem mais ou menos R$ 107 bilhões em caixa. Muito dinheiro certo? Não!

Volte alguns parágrafos ou me responda: você lembra o tamanho da carteira de crédito do Banco Master? Eu te respondo, cerca de R$ 40 bilhões, quase 50% do valor total do Fundo Garantidor de Crédito.

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Entendeu agora o tamanho do problema?

É por isso que nas últimas semanas foi especulado que o Banco Master teria tentado fazer algum tipo de negociação com outros bancos privados e ninguém quis assumir a carteira até que na semana passada o BRB – Banco do Distrito Federal, público – fez uma proposta para a compra que deixou todo mundo sem entender a verdade intenção por trás da oferta no Banco Master.

O que o investidor deve fazer agora?

Vamos voltar um pouco ao “sistema bancário exemplar”. De fato, o Brasil – leia-se Banco Central (BC) –, tem normas e controles muito avançados do nosso sistema financeiro, mas, por algum motivo, o Banco Master acelerou tanto nos últimos dois anos que a maioria preferiu fechar os olhos. Nos resultados divulgados, aparentemente tudo certo, mas tudo que sobe demais…

Vou colocar lá no grupo do Whatsapp (clique aqui pra entrar) essa semana a lista de bancos, níveis de risco e uma explicação sobre o índice de Basileia. Recomendo a cada investidor rever sua carteira de CDBs e entenda quem é quem em riscos de crédito

A verdade é que o Banco Master ficou tão grande que é melhor uma venda para uma instituição pública que pode aguentar o tranco do que uma quebra não planejada que poderia levar a consequências desastrosas para o mercado, investidores e também para o FGC, que teria que arcar com boa parte do prejuízo.

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Na minha opinião, ser tão grande e alavancado é algo positivo nesse momento já que não interessa para ninguém, concorrente ou não, deixar o banco quebrar. Além disso, provavelmente quem se dará bem nessa história é o investidor que tem títulos do banco.

Quem paga a conta se algo der errado? O FGC, bancos privados e todos nós, contribuintes, caso o BRB de fato compre o Banco Master.

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