O ano de 2025 está mais perto do que acreditamos no mercado financeiro. Na verdade, dá pra falar que já entramos praticamente em 2025 ao analisar o comportamento dos juros futuros (aqueles contratos negociados em Bolsa) e agora, com cada vez mais peso, as mudanças que podemos ver no Banco Central (BC).
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Em 2021 o Banco Central se tornou independente, ou seja, não responde (nem deveria) sofrer interferência do governo e do presidente da República ou pressão sobre as decisões tomadas em relação à taxa básica de juros da economia (Selic), que precisam ser tomadas com base em estudos técnicos de modo a proteger um único bem: a moeda.
A inflação preocupa o brasileiro desde que nossos pais começam a contar histórias sobre momentos passados da economia, quando havia um descontrole do aumento de preços, falta de produtos nas prateleiras e alta desvalorização do dinheiro brasileiro.
A taxa de juros funciona como uma ferramenta muito importante na política monetária de um país inflacionário, pois a liquidez que ela pode trazer ao mercado (ou não) está totalmente ligada à inflação. Quanto mais baixa a taxa de juros, menos seus habitantes vão tirar o dinheiro de circulação para investir e mais vão gastar (aumento da demanda), o que, consequentemente, provoca aumento de preços.
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Basicamente, o BC deveria olhar se debruçar sobre inflação, contas fiscais, expectativa dos investidores do mercado financeiro e cenário de juros no mundo inteiro, principalmente nos Estados Unidos.
Ancoragem das expectativas dos juros
No artigo de hoje vou focar na questão sobre a expectativa do mercado financeiro versus o comportamento da taxa de juros – aproveito para trazer duas aulas para vocês, leitores no meu grupo de WhatsApp (o convite para participar está aqui: https://chat.whatsapp.com/IOo9EZJVAp95tq3WMa0kPL).
A expectativa que comento diz respeito ao que o BC chama de “ancoragem de expectativa”. A autoridade monetária não pode agir totalmente contra tudo aquilo que o mercado espera, pois o custo da incerteza, do descompasso e da falta de justificativa custaria muito caro para todos.
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O mercado financeiro existe como um meio para troca de dinheiro entre quem precisa e quem tem para emprestar. Nosso governo é deficitário, ou seja, todo ano precisa vender títulos de dívida de forma a pegar dinheiro emprestado para pagar as contas. E quem empresta são bancos e investidores que compram os títulos. Ou seja, o “mercado financeiro”, tão criticado pelo governo atual, é quem empresta e ajuda o governo a ter caixa para continuar investindo.
Quando o credor, aquele que empresta, vê que as contas do governo piorando e o cenário ficando mais duvidoso em relação à credibilidade e à situação financeira do devedor, é natural que ele queira mais juros para continuar emprestando. O mesmo conceito serve para aplicar quando você empresta dinheiro para dois amigos, um que tem uma situação confortável e responsável para pagar e outro um pouco mais duvidosa. Considerando que você emprestará para os dois, é natural que você cobre mais juros daquele que apresenta mais incertezas, pois maior risco significa maior possibilidade de retorno.
Aplicação prática da independência do BC
Isso entendido, vamos considerar um cenário em que os credores (aqueles que vão emprestar) esperam que o BC mantenha o juros em 11% para o ano de 2025, porque na visão deles a situação fiscal está piorando e por conta disso querem mais retorno para continuar financiando o governo. Essa expectativa do mercado pode ser definida como a “ancoragem” tão falada pelo BC.
Agora, imagina se o BC passa a ser menos independente, com mais influência do governo, e atendendo pedidos resolve baixar os juros (contrário ao que o credor espera) para 8%. Olhando simplesmente para o custo do dinheiro, poderíamos falar que tal medida seria boa para a economia, já que juros mais baixo oferecem um bom incentivo para o crescimento. Mas a história não é tão bonita assim.
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Considerando que o credor esperava juros em 11% para continuar emprestando dinheiro para o governo – e também para os habitantes do País e para as empresas por meio de financiamento imobiliário, crédito para construção, importação e exportação, entre outras formas –, a taxa abaixo do esperado pode levar a uma crise de crédito.
Bancos e empresas financeiras podem simplesmente parar de emprestar dinheiro considerando que os juros atuais não valem o risco frente ao cenário econômico. Ou poderíamos testemunhar um cenário em que emprestariam, mas com taxas muito superiores ao que vemos na Selic decidida pelo BC. Nesse cenário, o crédito secaria e o impacto na economia seria desastroso.
Crise de câmbio
Essa decisão que despreza a expectativa do mercado também poderia causar uma crise de câmbio, com forte valorização do dólar, já que os estrangeiros poderiam reavaliar manter dinheiro no País com juros tão baixos – e aí está mais uma peça do dominó.
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Se os investidores estrangeiros se assustarem com o cenário e junto de outros enviarem dinheiro para fora, desvalorizando o real, teríamos um alto impacto na inflação por conta da disparada do preço da divisa americana no mercado. Isso necessariamente pressionaria o BC por juros mais altos.
Lembram do caso em que 60% do trigo do pão francês é importado – logo, sofre influência do câmbio? Dólar mais alto significa custos mais altos e, consequentemente, mais inflação.
Como o BC poderia corrigir uma situação dessas? Subindo o juros de forma agressiva e, talvez, acima ainda do que o mercado queria antes, de forma a acalmar ânimos e manter o dinheiro no País e o crédito em circulação. Ou seja, o tiro pode sair pela culatra.
Preocupação para 2025
Pouco tempo atrás um país passou por isso, quando mesmo diante de dívida e inflação crescente o BC resolveu, na canetada, abaixar o juros: a Turquia. O resultado foi uma desvalorização impressionante da moeda turca, além da fuga de dinheiro e do aumento dos preços.
Essa é uma história real, recente e que me levanta preocupações com a mudança no comando do Banco Central brasileiro prevista para 2025. Na ocasião, está prevista a substituição dos atuais presidente e de mais dois diretores, o que devem levar o governo a ter sete dos nove votos no Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que toma as decisões sobre a Selic.
Eu já estou colocando na conta esse cenário e por isso que títulos atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são um dos meus preferidos tanto para 2024 quando para os próximos anos.
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Reforço meu convite para entrar no grupode WhatsApp, para eu possa abordar um pouco mais sobre esse assunto por meio de vídeos, com destaque para alocações para o ano que vem.
Afinal, como eu disse lá no começo, 2025 já está começando para investidores.