A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos já movimenta os mercados. Entre os fatores mais relevantes está a reimplementação e ampliação de tarifas sobre importações, especialmente sobre China, México e Canadá. O próprio Trump confirmou que voltará a renegociar essas tarifas ao longo do próximo mês, deixando os investidores em um período de forte incerteza.
Além disso, o mercado de apostas já aponta uma probabilidade de 65% de que essas medidas sejam efetivadas até o final de fevereiro, o que significa que os impactos já podem começar a ser precificados nas próximas semanas.
Caso essa política tarifária avance, os efeitos podem ser profundos e um está totalmente ligado ao outro.
- Maior inflação nos EUA;
- Dólar mais forte globalmente;
- Taxas de juros mais altas por mais tempo;
- Impacto na política monetária do Brasil.
As tarifas podem elevar o custo das importações para os americanos, encarecendo produtos e pressionando a inflação. Se isso ocorrer, o Federal Reserve pode ser forçado a manter as taxas de juros elevadas por mais tempo, adiando os cortes que o mercado esperava para 2025.
A precificação atual do mercado para os juros nos EUA já começa a se ajustar, pois um cenário de inflação mais alta exigiria uma postura mais dura do Fed, que poderia manter os juros elevados ou até mesmo adotar um discurso mais agressivo nos próximos meses.
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O motivo é simples: os produtos ficam mais caros para importar – logo, ficará mais caro para o importador e na sequência para o consumidor OU o importador vai deixar de importar e terá menos produto no mercado e ai a entra na equação boa e velha “oferta x demanda”.
Caso a inflação volte a aparecer para o consumidor americano, o assunto juros deve voltar à tona, mesmo com as repetidas reclamações do Trump contra o Fed (o banco central americano).
No começo do ano o mercado precificava entre 3 a 5 quedas de juros, mas agora já tem gente inclusive apostando na alta. Na Polymarket (mercado de apostas online), há 13% de chance de alta de juros na reunião de março.
Se os juros americanos permanecerem altos por mais tempo ou subirem, o dólar pode se fortalecer globalmente, pois investidores tendem a buscar ativos de menor risco e maior rendimento nos EUA.
Efeito da tarifas de Trump no Brasil
É aí que vamos para o risco no Brasil!
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O real pode se desvalorizar frente ao dólar já que um diferencial de juros menor entre Brasil e EUA torna o real menos atraente para investidores estrangeiros. Já comentei algumas vezes nessa coluna sobre o “spread de juros cambial”, mas vamos relembrar.
Hoje o gringo investe no Brasil para ganhar 13,25% (taxa atual da Selic) deixando de ganhar 4,5% nos EUA ou seja, uma diferença de mais o 8,75% que pro americano ainda vale correr o risco de trazer o dinheiro para uma moeda mais fraca (real) e ficar por aqui.
Se o juros por lá demorarem para cair ou até subirem, vai ficando cada vez menos atrativo para os gringos virem pra cá ou isso pode obrigar o nosso Banco Central a deixar a taxa também mais alta por mais tempo para que não tenha fuga de capital estrangeiro, voltando para casa para aproveitar as taxas americanas.
Isso significa que o impacto das tarifas de Trump não se restringe apenas ao câmbio, mas também pode afetar a trajetória dos juros no Brasil, dificultando cortes mais rápidos e aumentando a incerteza sobre o custo do crédito e o crescimento econômico.
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Nos últimos dias comentei muito sobre o DXY (índice dólar) no grupo do whatsapp – clique aqui para entrar. Esse índice saiu de 107 para quase 111 – uma alta de quase 5% do dólar frente às principais moedas e as tarifas ainda nem começaram.
Caso o cenário piore, a gente pode ver uma alta mais agressiva do dólar e busca por proteção pré-implementação de tarifas.
Será esse o grande trigger para uma realização mais forte no mercado? Só nas últimas duas semanas (incluindo hoje) vimos um sell-off rápido nos principais índices dos EUA por conta, primeiro, da DeepSeek e ontem (segunda-feira, dia 3) pelo receio das tarifas.
A volatilidade está aumentando assim como a busca por dólar.
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A acompanhar.