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Vitor Miziara é sócio da Performa Ideias, empresa de análise de mercado. Atua desde 2008 no mercado financeiro com experiência em gestoras, assessoria, análises e mais. Além de empreendedor, atua como investidor ativo em empresas e no ramo imobiliário, sempre em busca de valorização e renda passiva. Entusiasta do mercado, ele discorre sobre cenários e investimentos, sem evitar assuntos polêmicos e críticas abertas.

Escreve quinzenalmente, às terças-feiras.

Vitor Miziara

O que a quebra da corretora FTX representa para o mundo cripto?

Notícias de crises no mundo cripto se tornaram cada vez mais comuns e isso pode exigir grandes mudanças

O impacto de quebras como a da FTX é sentido em todos os mercados do mundo. (Foto: Envato Elements)
  • Crises como a da FTX afastam investidores e jogam dúvidas sobre se isso é de fato um mercado que pode perdurar no longo prazo
  • O mercado cripto vive um momento de demanda por controle e regulação para evitar novas quebras
  • Sem algum tipo de regra ou fiscalização o mercado cripto pode demorar a crescer por desconfiança dos investidores

Nos últimos dias o mercado cripto se viu agitado com a quebra da FTX, até então uma das maiores corretoras de criptmoedas do mundo, após o pedido de “recuperação judicial”, a fuga do fundador para outro país e uma explosão memes de famosos que fizeram propagandas (como Tom Brady e Stephen Curry) para divulgar a companhia. Foram cenas dignas de novela, ou como se torna cada vez mais comum, dignas do mundo cripto.

Ah, não me entenda mal! Eu sou investidor de criptos faz pouco mais de três anos e tenho interesse em manter e até aumentar minha posição, mas ao longo dos últimos tempos notícias como essas se tornaram cada vez mais comuns e sinto que isso vai trazer mudanças drásticas para esse mercado já no curto/médio prazo.

Mas esse caso de fato vai entrar para a história. Além de tudo que já comentei, ainda houve fraude com dinheiro sendo sacado por “hackers”, uma janela de resgate para funcionários, famosos envolvidos, dinheiro de propina para membros da SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) aprovar ou não aprovar projetos e outros.

Na minha visão esse tipo de notícia enfraquece o mundo cripto e é aqui que mora a dúvida sobre o que vai acontecer com esse mercado nos próximos meses, já que essas notícias afastam investidores e jogam cada vez mais dúvidas sobre se isso é de fato um mercado que pode perdurar no longo prazo.

O grande argumento usado por muitos para justificar a criação do mundo cripto foi de que esse seria um mercado descentralizado, sem controle por país ou banco central, sem rastreamento, sem um responsável e livre, no máximo do que poderíamos chamar de “livre comércio” ou “globalização”.

Pessoas negociando, trocando, comprando e vendendo tudo em qualquer moeda, online, sem um órgão por trás olhando o que cada um está fazendo. É óbvio que esse mesmo ponto também levanta dúvidas em relação às atividades que podem ser financiadas por mercados assim, como terrorismo, por exemplo, mas isso é tema para um outro artigo.

Acontece que o momento atual é de demandas por controle ou que seja um mercado mais regulado à ponto de não acontecer mais quebras como essa que afetam o mundo todo. Mas se houver mais regras e controle, como fica aquele principal argumento para o “boom” desse mercado? Sabemos que há tempos a SEC tenta criar mecanismos para controle ou rastreamento das operações nesse mercado.

A lógica encontrada por eles já que não podem regular o mercado é regular o investidor, controlar e “auditar” os ativos em que ele investe, e ter respostas para onde o dinheiro está indo.

Sem algum tipo de regra ou fiscalização o mercado pode demorar a crescer por desconfiança dos investidores não apenas com os ativos negociados, mas também em relação aos players que possibilitam seu acesso ao mercado, como no caso das corretoras. Diferentemente do mercado de capitais, no qual as ações no geral são apenas custodiadas e facilmente transferidas, no mundo cripto muitas vezes esses ativos são perdidos pelo mundo, pois não há clareza sobre a custódia desses ativos.

O impacto dessas quebras é sentido em todos os mercados do mundo. Se uma corretora quebra os investidores acabam vendendo seus ativos em outros lugares para compensar o prejuízo. Em casos piores, liquidam seus investimentos porque muitas vezes esses ativos eram usados como garantia para outros investimentos.

Abordando um pouco mais esse ponto e trazendo para o mundo ”real” das ações, hoje é pratica comum muitas corretoras e bancos usarem ativos como ações, bonds e outros como garantia para que os clientes possam se alavancar em criptomoedas sem precisar de fato liquidar seus investimentos.

Acontece que em casos de prejuízos esses clientes precisam liquidar suas garantias para pagar a conta do mundo cripto e assim é possível ver uma relação com mercados à vista como S&P 500 e Nasdaq, entre outros. Clientes zerando ações e participações reais em empresas para pagar prejuízos de operações alavancadas de ativos cripto.

Esse cenário e correlação se mostra cada vez mais comum e por isso a preocupação da SEC e outros órgãos em relação ao mercado cripto. Essa demanda por algum tipo de controle não vem apenas de órgãos oficiais, mas também de boa parte dos investidores que querem um mercado um pouco mais seguro para que possam aumentar sua exposição nos ativos.

Enquanto permanecer a simples dúvida se esse mercado é seguro por parte de investidores, corretoras, dos projetos, de hackers e outros, sempre haverá algo segurando o potencial desse mercado.

Essa matéria continua com gráficos e estudos no Instagram @vmiziara. Espero que goste!