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Fundos se ajustam à variação e força do dólar; como ficam os retornos?

A flutuação cambial pode impactar significativamente os retornos dos investimentos, pelo bem ou pelo mal

Fundos se ajustam à variação e força do dólar; como ficam os retornos?
Imagem: Adobe Stock
  • Os fundos de investimento têm revisitado suas carteiras com ativos dolarizados e ficado mais atentos aos riscos
  • A flutuação cambial pode impactar significativamente os retornos dos investimentos, pelo bem ou pelo mal
  • Apesar da volatilidade do dólar ter subido nas últimas semanas, ela continua historicamente baixa

Em meio a um cenário de volatilidade cambial e a uma marcante alta do dólar frente ao real, os fundos de investimento têm revisitado suas carteiras com ativos dolarizados e ficado mais atentos a estratégias para mitigar riscos – com operações de hedge (proteção) – e reforçar suas teses. Até porque é consenso entre os especialistas ouvidos pelo Broadcast Investimentos que o dólar não deve ver uma queda relevante tão cedo.

“Os investidores como um todo tinham um cenário muito positivo para o câmbio neste começo de ano. Estava todo mundo estimando que o dólar poderia vir para baixo dos R$ 4,80, tinha gente até falando em R$ 4,50. Tínhamos um cenário de que o câmbio seria mais favorável aqui no Brasil, o que não aconteceu tanto por alguns fatores externos e quanto ‘alguma coisa’ interna”, avalia João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão.

Do lado externo, a deterioração das expectativas de queda de juros nos Estados Unidos deu apoio ao câmbio, enquanto no mercado local, a falta de tração dos preços das commodities agrícolas deixou o real mais fraco, avalia Piccioni. “Com isso, o mercado aumentou o target da moeda para o fim do ano. Nós esperamos algo entre R$ 4,90 e R$ 5,10”, diz.

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Por outro lado, apesar da volatilidade do dólar ter subido nas últimas semanas, ela continua historicamente baixa, na avaliação de Daniel Campanini, gestor e responsável pela área dos fundos multimercados da Western Asset. E, ao observar a economia americana e na expectativa por um “pouso suave”, a gestora vinha carregando há algum tempo uma posição vendida (que aposta na queda) em dólar contra moedas emergentes – como real e peso mexicano.

No entanto, quando o ano virou e os números de inflação passaram a vir piores no exterior, a Western passou a recolher o risco da carteira, reduzindo a posição vendida em dólar. Segundo Campanini, houve alguma migração para ficar vendido em moedas desenvolvidas, como euro e libra. “Ainda acreditamos no soft landing [nos Estados Unidos], mas a convicção é menor que num passado recente”, diz.

Além disso, a Western está aproveitando para adicionar opções à carteira, ou seja, negociar os direitos de compra e venda de instrumentos financeiros a um valor fixo. “As opções de proteção ajudaram a sofrer um pouco menos no curto prazo”, diz Campanini. E, mais recentemente, com o dólar mais forte, a gestora começou ainda a fazer opções com característica mais bullish (otimista), para caso o dólar volte a ficar abaixo dos R$ 5.

Na Empiricus Gestão, Piccioni conta que os fundos que investem no exterior não têm hedge, então a alta do dólar favorece os produtos. Segundo o gestor, é uma política que sempre foi adotada para investimentos internacionais, em especial ações, para que investidores tenham exposição cambial “dado que as empresas lá fora são remuneradas em dólar”. “É nossa tese.”

Já nos fundos locais que têm posições ativas em dólar, como os multimercados, a Empiricus Gestão está “deixando o barco correr”, sem alteração nos pesos, diz Piccioni. Não há posições vendidas, mas sim compradas (que apostam na alta) em dólar, para fazer um contrapeso à Bolsa brasileira. “Historicamente essa relação sempre funcionou, então usamos o mecanismo como uma balança”, afirma o gestor.

Variação cambial neutralizada

A flutuação cambial pode impactar significativamente os retornos dos investimentos, pelo bem ou pelo mal. Na Daemon Investments, o fundo multimercado quantitativo – que tem uma grande posição em moedas globais – possui hedge com contratos futuros de dólar em toda sua exposição internacional, justamente para evitar movimentos bruscos, segundo Sergio Rhein Schirato, sócio-fundador da gestora. “O que o cotista brasileiro recebe é o retorno das nossas posições, não da variação cambial”, diz.

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Como exemplo, Schirato observa que, em meados de abril, as operações do fundo estavam gerando ganhos em torno de 1,5%, valor que seria reduzido se considerada a desvalorização do real. “Seria difícil vender ao investidor a tese de que temos um conjunto de modelos que gera retorno, mas cujo resultado final está sujeito à variação do dólar. Então protegemos 100%”, afirma o gestor. Ele acrescenta que optar pela exposição cambial ou não é válido, mas depende do apetite do investidor.

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