Descomplica, invista!

Vitor Miziara é sócio da Performa Ideias, empresa de análise de mercado. Atua desde 2008 no mercado financeiro com experiência em gestoras, assessoria, análises e mais. Além de empreendedor, atua como investidor ativo em empresas e no ramo imobiliário, sempre em busca de valorização e renda passiva. Entusiasta do mercado, ele discorre sobre cenários e investimentos, sem evitar assuntos polêmicos e críticas abertas.

Escreve quinzenalmente, às terças-feiras.

Vitor Miziara

Chegou a hora de rever a sua carteira de investimentos. Veja como decidir

Último elatório Focus já trouxe uma redução significativa da taxa de juros para os próximos meses

Ações recomendadas pelo Itaú BBA (Foto: Shutterstock/NicoElNino/Reprodução)
  • Sem muito trabalho ou invenção a gente hoje ainda ganha quase 1% ao mês líquido no Brasil, mas esse cenário deve mudar nos próximos meses e por isso as carteiras de investimentos devem se ajustar também
  • A grande questão aqui é: para onde correr e manter meu rendimento alto com segurança?
  • Correr mais risco em um cenário deflacionário e com um governo expansionista não me parece a melhor opção

Investir no Brasil é um trabalho geralmente fácil tanto para os investidores quanto para os assessores de investimentos, isso porque aqui o nosso maior produto exportado é o juro, sonho de todos que possuem uma estratégia de longo prazo.

Sem muito esforço ou invenção a gente hoje ainda ganha quase 1% ao mês líquido, mas esse cenário deve mudar nos próximos meses e por isso as carteiras de investimentos devem se ajustar também. A grande questão aqui: para onde correr e manter o rendimento alto e com segurança?

Quando falamos em investimentos fazemos separação por classes de ativos, sendo renda fixa, crédito privado, ações, cambio e outros. Nessas “caixinhas” que devemos fazer conta de risco versus retorno e adequá-las ao nosso perfil de investidor para visualizar qual porcentual alocar em cada uma. Esse é o primeiro trabalho ao se investir.

O segundo, mas não menos importante, fica com o rebalanceamento de tempos em tempos, a depender do perfil.

Mudanças em curso

O relatório Focus – a pesquisa feita pelo Banco Central (BC) com diversos agentes de mercado – já trouxe nesta segunda-feira (7) uma redução significativa da taxa de juros para os próximos meses, terminando 2023 em 11,75%, enquanto 2024 tem previsão de 9% e 2025, perto de 8,5%. Ou seja, o “amanhã” parece piorar para a renda fixa e com isso já devemos prever o que fazer com nossos investimentos de médio e longo prazos.

O ajuste nas expectativas colhidas no relatório Focus reflete a percepção do do mercado de que a inflação está caindo e deve permanecer baixa por um longo tempo. A meta do BC para esse indicador é de 3%, algo que não me parece ser sustentável, já que o governo atual tem um perfil expansionista e isso resulta em aumento de custos para a cadeia como um todo (começando por impostos).

Hoje, ao olhar os títulos de renda fixa mais longos e prefixados, por exemplo, já vemos uma queda relevante nas taxas pagas pelo emissor, é logico. Todo titulo de longo prazo reflete e acompanha o que o mercado espera, mas nem por isso a renda fixa deixou de ser atrativa.

Daqui pra frente devemos começar a ver um fluxo de dinheiro migrando de investimentos de renda fixa para ativos de mais risco em busca de maior retorno, tentando sempre completar a renda esperada do sonho brasileiro, o “1% ao mês”. Agora, vale correr esse risco?

O juros atual ainda está em 13,25% e mesmo que caia para 9% em 2024 a média seria um número alto, provavelmente mais perto de 11% do que de 10%. Correr mais risco em um cenário deflacionário e com um governo expansionista não me parece a melhor opção.

E a renda fixa?

Li nesse último fim de semana diversos artigos com chamadas como “A renda fixa morreu?” e “Onde investir agora com a queda de juros?”. Calma lá, os juros ainda estão altos e vão continuar altos por muito tempo.

Olhar apenas o número bruto da taxa de juros pode nos cegar para o fato da inflação estar baixa mas, como resultado dessa situação, o juro real do nosso investimento aumenta.

O que vale mais? Ganhar 12% ao ano na renda fixa com uma inflação (aumento de custos) de 8% ou ganhar 9% na renda fixa com uma inflação de 4%?

A conta de juro real versus aumentar o risco na carteira é a pergunta que você deve se fazer como investidor. Até onde vai seu apetite por risco para aumentar o retorno? Até onde novas posições de risco estão de acordo com seu perfil de investidor?

Fato é que os juros vão cair acompanhando a queda da inflação e o mercado inteiro deve se ajustar à nova realidade, mas isso não quer dizer que você também precisa sair correndo e fazer mudanças.

Todo dia trago dados e indicadores macro no meu grupo de Whatsapp que corroboram uma visão mais pessimista de médio e longo prazos, com alertas sobre situações que podem fazer a inflação voltar a subir, os juros não caírem como esperado ou a economia andar mal e os ativos de risco performarem no campo negativo – tanto deixando de agregar retorno como tirando parte da rentabilidade que poderíamos obter caso ficasse quieto na renda fixa.

Pra mim a renda fixa não morreu. A inflação, talvez, no curto prazo sim, mas no longo prazo sabemos o histórico do Brasil e, por isso, correr risco nesse cenário ainda me parece desnecessário.

Perfil do investidor

Sabe aquele perfil do investidor que você preenche ao investir? Recomendo voltar a ler as perguntas e verificar se realmente você concorda com aquilo que preencheu um tempo atrás. Além disso – e para ajudar –, vou incluir algumas perguntas no meu grupo para fazer um “pente fino” e dar mais visibilidade sobre o que é realmente correr risco e se você está nessa fase ou não.

Lembre-se de que não fazer nada (ou manter a carteira como está em épocas de incertezas) também é uma tomada de decisão. O rebalanceamento ou a calma para os investimentos se provam muitas vezes mais eficazes para um retorno maior do que correr riscos apenas acompanhando as mudanças no cenário.

Se você estava esperando “a dica” para rebalancear sua carteira, me desculpe. No entanto, é a minha incerteza que faz eu ter um perfil mais conservador e tomar decisões mais assertivas no longo prazo.

Essa é a dica de hoje.