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Comportamento

Fitch rebaixa nota dos EUA: investidor brasileiro deve se preocupar?

Deterioração fiscal da maior economia do mundo motivou “downgrade”. Entenda os impactos

Fitch rebaixa nota dos EUA: investidor brasileiro deve se preocupar?
Foto Envato Elements)
  • Na terça-feira (1), a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida dos EUA de “AAA”  para “AA+” 
  • Isto significa que há um entendimento de que a maior economia do mundo tem, hoje, maiores dificuldades para honrar suas obrigações financeiras
  • A notícia estressou os mercados na manhã desta quarta-feira (2), mas não deve ter repercussões a longo prazo

Na terça-feira (1), a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota da dívida dos EUA de “AAA” (melhor avaliação de crédito da escala) para “AA+” (qualidade de crédito muito alta), com perspectiva estável.

Isto significa que há um entendimento de que a maior economia do mundo tem, hoje, maiores dificuldades para honrar suas obrigações financeiras. Ou seja, um risco de inadimplência maior.

A Fitch afirma que o rebaixamento dos ratings reflete a deterioração fiscal esperada para os próximos três anos, além de uma “piora contínua” dos padrões de governanças nas últimas duas décadas e risco de recessão.

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Em junho, o Senado dos EUA aprovou uma lei que suspende o teto de endividamento do país, de US$ 31,4 trilhões, até 2025. O objetivo era evitar um calote inédito do governo americano, que poderia ficar sem recursos até mesmo para realizar os pagamentos dos títulos públicos.

“Esperamos que o déficit do governo geral (GG) suba para 6,3% do PIB em 2023, ante 3,7% em 2022, refletindo receitas federais ciclicamente mais fracas, novas iniciativas de gastos e uma carga de juros mais alta”, diz a agência, em nota.

Como resultado deste downgrade, os mercados abriram esta quarta-feira (2) embalados a um aumento da aversão a risco. O Índice VIX, conhecido como “Índice do Medo”, subia 14% nesta manhã. Até às 12h46, os índices S&P 500, Dow Jones e Nasdaq também apresentavam quedas de 1,15%, 0,64% e 2%, respectivamente. O Ibovespa também registrava desvalorizações de 0,77%, seguindo os pares na Ásia e Europa.

“Os mercados globais abrem em queda moderada, mas sincronizada, processando o rebaixamento. A notícia serve de gatilho para uma realização de ganhos depois do rali dos últimos meses. Os papéis de tecnologia são os mais suscetíveis a uma correção maior porque lideram na alta”, afirma Alexandre Mathias, CEO da Kilima Asset.

Surpreende, mas nem tanto

Apesar do maior estresse dos mercados com a notícia do rebaixamento da dívida americana, os especialistas apontam que os efeitos devem se limitar ao curto prazo.

Mathias, da Kilima Asset, não vê razões para que essa mudança de rating tenha repercussões importantes ou permanentes sobre os mercados.

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Isto porque os argumentos utilizados pela Fitch para o downgrade, como deterioração fiscal e risco de recessão, já estavam no “preço” dos mercados. “O CDS (Credit Default Swap – seguro contra default que mede a percepção de risco) dos EUA não foi afetado, está estável em 35 pontos, mesmo nível do início do ano”, diz Mathias.

O investidor brasileiro, em especial, não deve ter motivos para se preocupar. Segundo ele, a mudança de rating nos EUA terá pouquíssimo efeito sobre a taxa de câmbio no Brasil. Isto significa que não é esperado uma mudança brusca na relação entre o dólar e o real.

“É uma notícia que tende a sair do cenário até o final da semana. Ficará como um ‘ruidozinho’, sem grande consequência”, afirma Mathias. “O dólar deve continuar em tendência de queda frente ao real, em direção a R$ 4,60, e a bolsa em tendência de alta, em direção a 130 mil pontos até o fim do ano.”

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, compartilha desta visão. Ele ressalta que a decisão da Fitch não reflete um evento isolado, mas uma sucessão de fatores que não novos para o mercado. Também não é a primeira vez que uma agência de rating rebaixa a classificação de crédito dos EUA. Em 2011, a Standard & Poor’s fez o mesmo, após um impasse sobre o teto da dívida americana.

“A Fitch baseia sua decisão em projeções acerca do gasto e crescimento americano, a dificuldade na redução estrutural do mesmo, e pontua o risco de recessão ao final de 2024. No principal ponto, a questão fiscal, o entendimento atual é que sim, esse é um tema crucial, mas que deve ser endereçado pelo novo governo em 2025”, afirma Alves.

Marcelo Cabral, CEO da Stratton Capital, também não vê um impacto significativo no médio prazo. Para o especialista, assim como em 2011, esse rebaixamento deve ser “ignorado” pelos mercados – apesar de gerar um movimento de realização de lucros nas bolsas.

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“Os resultados e o guidance das empresas vão determinar muito mais a direção do mercado que esta atualização na classificação”, diz Cabral, que aponta para efeitos bastante limitados no câmbio brasileiro. “Se o rebaixamento criar um cenário de incerteza com relação ao dólar, o real poderá se fortalecer. No entanto, o comportamento da taxa de cambio esta sendo determinado pelo diferencial de juros entra Brasil e Estados Unidos e essa dinâmica não deve ser afetada.”

No ano, o dólar cede 8,84% em relação ao real, aos R$ 4,81.

Nota do Brasil

O rebaixamento da dívida americana vem uma semana após o Brasil ter a nota elevada de “BB-” para “BB” pelo Fitch. A agência cita um desempenho acima do esperado para a economia brasileira e fez elogios à política monetária, conduzida pelo Banco Central.

Entenda mais sobre os impactos da revisão da nota do país nesta matéria.

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