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- Algumas noites atrás, o empreendedor de criptomoedas Justin Sun anunciou no Twitter que havia pagado meio milhão de dólares pela foto de uma rocha com olhos de raio laser. Não era sequer uma foto boa de uma pedra.
- Alguns dos assinantes da minha newsletter contaram-me histórias a respeito de seus filhos terem cunhado NFTs de US$ 20 e chegar a vendê-los por US$ 1 mil. Isso está se repetindo milhares de vezes em todo o país, à medida que adolescentes habilidosos com tecnologia tentam entrar no jogo.
(Jared Dillian*, WP Bloomberg Opinion) – Algumas noites atrás, o empreendedor de criptomoedas Justin Sun anunciou no Twitter que havia pagado meio milhão de dólares pela foto de uma rocha com olhos de raio laser. Não era sequer uma foto boa de uma pedra. A imagem tinha pouco ou nenhum mérito artístico, como a maioria dos tokens não fungíveis, ou NFTs. Seja os cryptokitties originais, ou os pinguins que usam chapéus ou as rochas, tudo não passa de cafonagem on-line de criptocomunidades, uma grande piada interna que nenhum de nós deveria entender, exceto a descolada criptogalera.
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Os geeks que compram e vendem esses “ativos” fazem aumentar seu preço a alturas insustentáveis, enquanto o restante de nós apenas se resigna. Simplesmente não entendemos, dizem eles. Eu entendo sim, muito bem.
Primeiramente, os NFTs são uma inovação incrível, que poderá ser mais importante até do que as criptomoedas nas quais eles se baseiam. NFTs estabelecem direitos de propriedade na esfera digital, onde isso não existia antes. A lei americana de direitos autorais sustenta a chamada “doutrina da primeira venda”, segundo a qual é “legal revender ou dispor, de outra maneira, de cópias físicas de trabalhos protegidos por direitos autorais”, de acordo com Katya Fisher, em texto publicado no Cardozo Arts & Entertainment Law Journal.
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Até agora, esse tipo de proteção não existia no universo digital, já que cópias digitais de uma obra de arte eram consideradas fungíveis e direitos de vendas digitais não poderiam existir em razão de sua fungibilidade. Se alguém compra uma pintura física, compra apenas a pintura, não os direitos de reproduzir a pintura. NFTs operam em grande parte da mesma maneira.
Uma coisa interessante a respeito dos NFTs é que eles não estão sendo usados para esse propósito, pelo menos por enquanto. Estão sendo usados para especulações sobre a estupidez. Há artistas digitais legítimos – David McLeod e Alberto Seveso vêm à mente – cujos NFTs estão sendo negociados a valores bem abaixo dos pinguins e dos gatos em baixa resolução.
Damien Hirst acaba de vender um monte de NFTs de pinturas de pontos, que aumentaram quase dez vezes de valor, e Beeple vendeu seu mosaico digital “Everydays: The First 5000 Days” (Todos os dias: os primeiros 5000 dias) por US$ 69 milhões, mas Hirst é o artista plástico mais famoso da atualidade, e tem havido muito debate a respeito da qualidade artística dos vulgares rabiscos cotidianos de Beeple.
Essa é uma das características desse aquecido mercado que me intrigaram ao longo do ano passado: os ativos de melhor desempenho têm sido as excrescências, ações como as da GameStop Corp. e da AMC Entertainment Holdings Inc., obrigações inúteis sem perspectivas de lucro real e os NFTs de 24 pixels. Em vez de esgotar a oferta dos melhores ativos, os especuladores estão comprando o que há de pior. A turma do WallStreetBets poderia comprar facilmente ações da Apple Inc., mas não comprou. Historiadores da economia analisarão este período com um misto de assombro e horror.
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Já que os NFTs não são fungíveis, eles não passam realmente de meros artigos colecionáveis. Já houve algumas bolhas de artigos colecionáveis ao longo dos anos, com os Beanie Babies do fim dos anos 1990 provavelmente representando o exemplo mais famoso. A implosão dos Beanie Babies não surtiu efeitos sistêmicos, mas o que merece atenção a respeito do episódio foi que o fenômeno ocorreu em sincronia perfeita com a ascensão e queda das ações das empresas ponto.com. Bolhas de colecionáveis tendem a ocorrer em sincronia com bolhas de outros ativos, e colecionáveis físicos estão em alta agora, de livros de histórias em quadrinhos a artigos esportivos históricos e tênis.
Mas uma maneira que o mercado de colecionáveis físicos se difere dos NFTs é que a oferta de colecionáveis físicos é finita. Enquanto altos preços atraem novos investidores, novos NFTs são cunhados constantemente. Alguns dos assinantes da minha newsletter contaram-me histórias a respeito de seus filhos terem cunhado NFTs de US$ 20 e chegar a vendê-los por US$ 1 mil. Isso está se repetindo milhares de vezes em todo o país, à medida que adolescentes habilidosos com tecnologia tentam entrar no jogo.
Jens Parsson descreveu em “Dying of Money: Lessons of the Great German and American Inflations” (Morrendo pelo dinheiro: lições da inflação na Alemanha e nos EUA) como as atitudes em relação ao dinheiro mudaram na Alemanha da República de Weimar. “Quando era facílimo arrumar dinheiro, as pessoas se importaram menos em obter o real valor em troca, e a frugalidade passou a parecer inconsequente.” A característica financeira definidora de 2021 é dinheiro fácil e especulação desenfreada, assim como na Alemanha da década de 1920.
Quando as pessoas estão comprando desenhos toscos de rochas por US$ 500 mil, em que ponto do ciclo estamos? Recentemente eu também gastei meio milhão de dólares em algo: uma propriedade de 36,4 mil metros quadrados próxima à praia, na Carolina do Sul. O que valerá mais daqui a 10 anos, a terra ou a imagem da rocha? Bem, a terra já dobrou de valor em seis meses e não precisei da blockchain para isso. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP, da empresa ou de seus donos.
Jared Dillian é editor e publisher de The Daily Dirtnap, estrategista de investimentos da Mauldin Economics e autor de “Street Freak” e “All the Evil of This World” (Todo mal que há nesse mundo).