Comportamento

Avila, nova bebida de agave do México, é a tequila que não é tequila

Empresários simplesmente criaram uma nova categoria para construir um senso de mística e novidade

Avila, nova bebida de agave do México, é a tequila que não é tequila
Fazendeiro mexicano carrega o agave que dá origem à bebida. Foto: REUTERS/Henry Romero
  • Os Estados Unidos têm um longo caso de amor com bebidas destiladas feitas de agave. Primeiro veio a febre da tequila, depois o mezcal e seu sabor defumado
  • Empresários ansiosos para aproveitar a reabertura de bares e restaurantes nos EUA estão apostando em uma nova bebida que chamam de avila
  • Enquanto a pandemia fechava bares e clubes, a Revel passou os meses de descanso vendendo suas garrafas de "Añejo", envelhecidas por 24 meses em barris de carvalho francês

(Andrea Navarro e Maya Averbuch/WP Bloomberg) – Os Estados Unidos têm um longo caso de amor com bebidas destiladas feitas de agave. Primeiro veio a febre da tequila, depois o mezcal e seu sabor defumado estavam em alta. Agora, os empresários ansiosos para aproveitar a reabertura de bares e restaurantes nos EUA estão apostando em uma nova bebida que chamam de avila.

A Revel Spirts, Inc., uma empresa de capital fechado com sede em Los Angeles, tem um conceito simples: pegue o mesmo agave azul usado na tequila, cultive-o no estado de Morelos e destile-o usando o método artesanal de cozimento lento sobre lenha que produz mezcal com sabor defumado.

Mas a receita secreta da Revel depende de duas partes de agave, uma parte de pedras aquecidas, há pelo menos uma parte de marketing. Apenas as destilarias em uma determinada região do México podem chamar seu produto de “tequila”, assim como o champanhe só pode ser feito em uma parte da França. As atividades da Revel estão em outro lugar, no estado central de Morelos.

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Então, em vez de vender apenas outro mezcal, os cofundadores da Revel, Hector Ruiz e Micah McFarlane, que cresceram em Minnesota, simplesmente criaram uma nova categoria para construir um senso de mística e novidade. A empresa está investindo milhões de dólares na marca, comercializando-a com credencial de celebridade e oferecendo seu produto mais premium, chamado “Añejo”, por até US$ 170 a garrafa nas lojas de bebidas dos EUA.

“Se eu perguntar a alguém se eles querem mezcal de Morelos, Oaxaca ou Guerrero, obviamente as pessoas vão dizer Oaxaca ou Guerrero, porque esses são os lugares com mais tradição”, disse Juan Carlos Gordillo, diretor de operações da Revel no México. “A missão do projeto da Revel é criar uma nova categoria chamada avila.” Ruiz, o cofundador, nasceu em Morelos.

A empresa, que vendeu sua primeira garrafa em 2017, espera arrecadar US$ 20 milhões em uma rodada de investimentos de série C nos próximos meses. Cerca de 60% do valor irá para publicidade e marketing, com o restante destinado à formação de estoque de avila. O nome é uma homenagem a Noe Avila, um mestre destilador que trabalha na destilaria da família de Hector Ruiz. E,não é nada mal ter Justin Hartley, estrela da popular série “This is Us”, como proprietário desde maio de 2020.

Enquanto a pandemia fechava bares e clubes, a Revel passou os meses de descanso vendendo suas garrafas de “Añejo”, envelhecidas por 24 meses em barris de carvalho francês, por meio de distribuidoras de bebidas online como a Reserve Bar e lojas de bebidas físicas.

“Somos pequenos e nosso produto é artesanal, então não podemos desvalorizá-lo e tentar vendê-lo por US$ 20”, disse McFarlane em relação ao preço elevado. “Trabalhamos muito para oferecer qualidade, cultivo não adulterado e usando poucos pesticidas.”

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Nas planícies secas que existem entre as colinas de Morelos, aqueles que trabalham na colheita para a fabricação de avila cortam as folhas delgadas e pontiagudas do agave azul Weber até sobrar apenas o coração da planta, que lembra um abacaxi. Os corações são torrados em um leito de rochas coletadas de um vulcão próximo, depois são transformados em suco e fermentados. O líquido é destilado até três vezes, passa por um sistema de filtração e é armazenado em barris para envelhecer por até 24 meses e produzir o Añejo. Um sistema de vaporização semelhante ao da tequila é usado para cozinhar outros corações de agave, e a maioria das bebidas da Revel é uma mistura de álcool feita a partir de dois processos.

Em todo o mundo, a tequila e o mezcal ainda têm muito espaço para crescer, constituindo apenas cerca de 3% da indústria de bebidas alcoólicas de US$ 491 bilhões, de acordo com Kenneth Shea, analista da Bloomberg Intelligence. Na América do Norte, principal mercado para destilados de agave, a participação é maior, 11%, disse ele.

O IWSR, um analista de mercado que acompanha o setor de bebidas alcoólicas, prevê que o volume de mezcal nos EUA crescerá mais de 64% de 2019 a 2024, enquanto a tequila deve crescer 36%.

“Os consumidores estão procurando algo diferente, com toque artesanal”, disse Shea. Se os fundadores forem “bons profissionais de marketing, eles terão uma boa chance de sucesso”.

Além de seu Añejo premium, o portfólio da Revel inclui o “Blanco”, de cor clara e vendido por US$ 60, e o “Reposado”, que custa US$ 75 e é envelhecido por 12 meses em barris de carvalho branco americano. Um quarto produto chamado “El Popo”, em homenagem ao vulcão Popocatepetl que fica a cerca de 24 quilômetros a nordeste da destilaria Revel, está previsto para ser lançado nos EUA na segunda metade do ano.

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O agave leva de 7 a 10 anos para amadurecer. O longo processo e a enorme demanda aumentaram os preços do produto, diz Shea, da BI. “A demanda é tão forte que os produtores não conseguem crescer tão rápido”, disse ele.

A Revel diz que é capaz de produzir o suficiente misturando três tipos de agave. Atualmente, a empresa tem acesso a 550 hectares que cultivam agave azul Weber, Espadín e Criollo. O primeiro é tradicionalmente usado pelos fabricantes de tequila, enquanto os outros dois são mais usados na produção de mezcal.

“Temos agave suficiente até 2030”, disse McFarlane. “Todos os anos tentamos adicionar hectares comprando de associações de agricultores.”

As fileiras de agave na cidade de Jonacatepec são cercadas por campos vazios de milho e cana-de-açúcar em meio a montanhas baixas. O vulcão Popocatepetl está distante – sua longa fumaça é vista subindo ao céu quando está ativo. Plantar agave é uma aposta de longo prazo para os agricultores da região, que ganham dinheiro vendendo mudas da planta a outros produtores enquanto esperam que as suas amadureçam.

Pequenos destiladores de Morelos há muito buscam a certificação como produtores de tequila e mezcal, mas sempre foram rejeitados para ambas as certificações, disse Andres Torres Acuña, chefe de controle de qualidade do Conselho Regulador de Tequila. É por isso que a Revel escolheu desde o início criar um novo nome e categoria. No passado, Morelos tentou comercializar refino, um álcool de agave que teria sido o preferido do líder revolucionário Emiliano Zapata, natural do estado, mas a bebida nunca pegou.

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“Cada região tem qualidades diferentes”, disse Torres. “Se todos tentassem fazer um produto que se diferenciasse do nosso, isso seria fantástico.”

(Tradução de Romina Cácia)

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