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Comportamento

Um novo cargo surgiu na pandemia: ‘chefe de trabalho remoto’

No longo prazo, os contratos de trabalho à distância poderão se tornar permanentes

Um novo cargo surgiu na pandemia: ‘chefe de trabalho remoto’
(Foto: Evanto Elements)
  • Como a pandemia tem acelerado e ampliado essa mudança para o trabalho remoto, no longo prazo, os contratos de trabalho à distância poderão se tornar permanentes
  • Algumas empresas de tecnologia vêm forjando novas funções para executivos atuarem como advogados para funcionários virtuais e pensarem mais sobre um futuro do trabalho remoto
  • Embora a prática deva se estender para outras companhias, no momento ela se concentra mais nas empresas de tecnologia. É o caso de Facebook, Okt e Quora

(Jena McGregor/The Washington Post) – Num determinado dia, Darren Murph pode assumir várias posições no trabalho. Atuar como especialista em realocação, ajudando os seus colegas funcionários a deixarem uma grande cidade como São Francisco para viverem em locais mais baratose com bom acesso à banda larga. Ou como um coach de executivos, dando assistência a líderes sênior na estruturação de novos projetos propícios a execução remota. Pode servir como assessor técnico (avaliando novas ferramentas de mensagens como Yac ou Loom), ou profissional de comunicação (condensando políticas de trabalho a partir de casa em manuais de trabalho remoto) ou planejador de eventos (averiguando atividades de desenvolvimento de equipes virtuais, como um site de culinária online em grupo).

A função de Murph, intitulada “direção de trabalho remoto” na empresa de software de código aberto GitLab não é comum. Mas o ex-editor de tecnologia e assessor de comunicações, de 36 anos, acha que essa função será muito mais difundida.

“Acho que será necessária”, disse Murph, que ocupa a função desde o ano passado e vive em Outer Banks, Carolina do Norte, e os mais de 700 funcionários da companhia espalhados pelo país. “Penso que ela vai se tornar uma próxima evolução do cargo de diretor de operações ou de pessoal, ou talvez de diretor de cultura”.

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Como a pandemia tem acelerado e ampliado essa mudança para o trabalho remoto, no longo prazo, os contratos de trabalho à distância poderão se tornar permanentes – e algumas empresas de tecnologia vêm forjando novas funções para executivos atuarem como advogados para funcionários virtuais e pensarem mais sobre um futuro do trabalho remoto. Embora a prática deva se estender para outras companhias, no momento ela se concentra mais nas empresas de tecnologia.

O Facebook postou uma oferta de emprego com o título “diretor para a área de trabalho remoto” que deve impulsionar uma mudança por toda a companhia no sentido do trabalho à distância, depois de a rede social declarar em maio que permitirá que os funcionários se candidatem a trabalhar em casa permanentemente. A pessoa que vai ocupar o cargo oferecido liderará uma equipe de líderes multifuncionais dentro da empresa que ajudará a fazer a transição para o trabalho remoto.

Okta, empresa de software de gestão de identidade, pretende contratar uma pessoa que auxiliará a companhia a fazer uma transição para um modelo de “trabalho dinâmico”, em que mais pessoas serão contratadas para trabalhar em outros locais além do seu escritório principal em São Francisco.

A Quora, plataforma de perguntas e respostas, está em processo de contratação de um “chefe de trabalho remoto”, depois que 60% dos seus funcionários manifestarem preferência para trabalhar a partir de casa mesmo depois de a pandemia deixar de ser uma ameaça.

“Você precisa de uma pessoa com experiência em RH, mas ela também de ser realmente competente em comunicação e perita – ou pelo menos ter um bom conhecimento – em tecnologia”, afirmou Adam D’Angelo, CEO da Quora, empresa com 200 funcionários. “Esta pandemia nos obrigou a pensar numa mudança e agora este é repentinamente um cargo que muitas companhias necessitam criar”.

Os sites de emprego, como Glassdoor e LinkedIn, não viram até agora muita mudança nas listas de cargos similares, embora Murph afirme que está conversando com mais companhias no sentido de acrescentar essa função no catálogo. “O que vai acabar acontecendo é que eles perceberão que é um trabalho muito amplo para sua atual equipe e que não há ninguém com um nível universal de expertise para preencher a função”, disse ele.

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A GitLab gosta de ser transparente quanto ao que tem aprendido como uma companhia toda remota, disse. A GitLab não tem escritórios físicos, mas também vende uma ferramenta para colaboração remota on-line de projetos.

Ele compara o cargo de “chefe de área remota” ao da função de um diretor de diversidade – a pessoa responsável por colocar questões de equidade e inclusão na primeira linha quando são tomadas decisões envolvendo políticas da empresa, contratação, retenção de funcionários e benefícios, tomadas por grandes companhias.

Na prática, Murph diz que o cargo incluiria a redação de diretrizes para questões como redução das reuniões e problemas com fusos horários, com o responsável atuando como uma ligação para as equipes legais que analisam assuntos fiscais relativos a mudanças, planejamento de eventos online para impedir uma deterioração da cultura da empresa, e defesa dos empregados que trabalham remotamente quando do planejamento dos benefícios.

“Você vai ter de replanejar, ou pelo menos repensar cada elemento da nossa maneira de trabalhar, desde as ferramentas (de tecnologia) até a necessidade de estabelecer uma jornada de trabalho”, disse ele. “Algumas pessoas têm acesso a uma academia no local de trabalho. Agora vamos ter de oferecer um benefício para aquelas que não têm tal acesso?”

Algumas empresas estão passando esse trabalho para equipes multifuncionais ou executivos com outros funções e não contratando ou promovendo um funcionário novo. A Hewlett-Packard, empresa com mais de 60 mil funcionários, tem 10 executivos sênior que atuam em áreas desde imobiliária, RH, TI e Comunicações trabalhando na abordagem do trabalho remoto e na sede da empresa, mas Dave Antczak, vice-presidente global da empresa, disse que descartaria indicar uma única pessoa para conduzir o trabalho no futuro.

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Outras companhias atribuíram a função para funcionários mais antigos que conhecem bem a cultura da empresa. Na Sack, a vice-presidente da área de Customer Experience, Ali Rayl, que trabalha há oito anos na empresa, assumiu a tarefa de transição para o trabalho remoto. Ela acha que será uma função de pouca duração. “Isto é temporário – é mudar como nossas companhias trabalham, criar novos hábitos na prática. É assim que as coisas são”.

Como é organizado ou quanto tempo isso vai durar não importa, o que é chave no tocante a esse cargo é que o CEO da companhia lidere a iniciativa e trabalhe também à distância, como os outros funcionários, opina Prithwiraj Choudhury, professor de Harvard que vem estudando empresas “que (trabalham de qualquer parte” e fez um estudo sobre a GitLab.

Liz Burow, antiga vice-presidente de estratégia para o ambiente de trabalho na WeWork e hoje é consultora baseada em Minneapolis, diz que, na sua opinião, mais empresas colocarão uma pessoa especialmente encarregada de coordenar o trabalho remoto, ou nomearão alguém para dirigir um ambiente de trabalho “híbrido, em que alguns estão no escritório e outros trabalhando à distância.

Segundo disse, no seu trabalho grande parte das discussões se centraliza na pergunta: “vamos necessitar ou não de um espaço físico?”.

Mas “se realmente queremos repensar o futuro, isto não tem a ver com espaço, mas novos papéis”, disse ela. “As pessoas estão esquecendo que o espaço é apenas uma plataforma para as coisas acontecerem. Temos de pensar em quem vai ser encarregado de administrar tudo o que vem ocorrendo e de que maneira”.

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(Tradução de Terezinha Martino)

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