Comportamento

CEO da Intel está cansado de Wall St duvidar de plano de recuperação

Pat Gelsinger está tentando redefinir o cenário competitivo da indústria de chips

De muitas maneiras, Gelsinger está tentando voltar no tempo e recuperar a Intel que existia em 2009, quando ele foi para a VMware. Foto: Reuters
  • Em Ohio, Gelsinger está gastando US$ 20 bilhões para construir a maior fábrica de chips do mundo. Ele também está planejando uma expansão na Europa, fazendo acordos e aumentando os gastos com pesquisa
  • Isso está testando a paciência dos investidores, que viram as ações despencarem em 22% no ano passado
  • Por enquanto, investidores como a NZS Capital estão adotando uma estratégia de esperar para ver o que acontece

(Ian King, WP Bloomberg)– Pat Gelsinger, CEO da Intel, que assumiu o cargo em fevereiro de 2021, avalia seu primeiro ano administrando a fabricante de chips com um A-. Mas os investidores estão se mostrando mais exigentes em suas notas.

Ninguém está criticando o nível de energia e ambição do homem de 60 anos. Mas ele está tentando redefinir o cenário competitivo da indústria de chips de US$ 500 bilhões, transformar a empresa mais famosa do setor e mudar a política industrial nos Estados Unidos e na Europa – em um ritmo que ele gosta de chamar de “tórrido”.

E o plano tem um custo elevado. Muito elevado. Em Ohio, Gelsinger está gastando US$ 20 bilhões para construir a maior fábrica de chips do mundo. Ele também está planejando uma expansão na Europa, fazendo acordos e aumentando os gastos com pesquisa – sobrecarregando as outrora confiáveis margens de lucro da Intel. Isso está testando a paciência dos investidores, que viram as ações despencarem em 22% no ano passado.

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Só na semana passada, a Intel concordou em comprar a Tower Semiconductor por US$ 5,4 bilhões, parte de uma tentativa de fabricar chips por contrato para outras empresas.

Em uma entrevista à Bloomberg Television, Gelsinger reconheceu que o retorno dessas medidas para Intel não acontecerá da noite para o dia, mas criticou fortemente os analistas de Wall Street por insistirem em uma perspectiva negativa. O executivo disse que está irritado com o que ele chama de “perma-bears”, investidores que ficam na expectativa de queda do valor das ações o tempo todo, independentemente das condições do mercado. Mas Gelsinger acredita que outros estão ficando empolgados com o fato de a empresa restaurar suas habilidades e criar ‘a nova e velha Intel’.

“Em alguns aspectos, estamos à frente de onde pensei que estaríamos; já em algumas áreas, não estamos avançando tanto quanto pensei que estaríamos”, disse Gelsinger a Emily Chang em uma conversa para o “Bloomberg Studio 1.0. “E isso, na verdade, é mais uma indicação do enorme desafio à nossa frente.”

Esta é a segunda passagem de Gelsinger pela Intel. Ele trabalhou décadas na fabricante de chips antes de sair dela para administrar a VMware em 2009. Quando voltou como CEO no ano passado, a esperança era que ele pudesse traçar um novo curso – mas, também, lembrar o que tornou a Intel grande em primeiro lugar.

Poucas semanas depois de voltar à empresa, Gelsinger definiu uma estratégia agressiva com o objetivo de recuperar a liderança no setor que seus antecessores haviam deixado escapar. Ele continuou com seus planos de recuperar a produção nos EUA e na Europa, com o objetivo de contrabalançar as peças que passaram a ser fabricadas na Ásia. E também fez lobby por bilhões de dólares apoiando o governo.

Mas isso pode ser um desafio e tanto. A outrora fraca Advanced Micro Devices tornou-se uma forte concorrente, e alguns dos clientes mais valiosos da Intel – entre eles a Apple – estão desenvolvendo seus próprios chips.

Por enquanto, investidores como a NZS Capital estão adotando uma estratégia de esperar para ver o que acontece.

“Acho que ele merece boas notas pelo que fez”, disse Jon Bathgate, gestor de fundos da empresa em Denver. “Mas a tarefa é dificílima e as pessoas que pensam que a situação pode ser resolvida em alguns trimestres – até mesmo em alguns anos – provavelmente não entendem, em primeiro lugar, os desafios que ele está enfrentando.”

Bathgate disse que a NZS não está investindo na Intel porque existem outras empresas que estão “trabalhando a todo vapor”. A Intel terá que mostrar melhores resultados financeiros, provar que pode atrair grandes clientes terceirizados de chips e parar de perder participação de mercado, disse ele.

Outros investidores concordam com isso. O desempenho da Intel no ano passado a coloca em 27º lugar, entre 30, no Índice de Semicondutores da Bolsa de Valores da Filadélfia. E suas ações caíram drasticamente a cada vez que a Intel divulgou seus rendimentos – um sinal de que os investidores não estão felizes com o progresso da empresa.

Pense na margem bruta da Intel – a porcentagem de receita restante depois da dedução do custo de produção –, um sinal importante de saúde para uma empresa que fabrica peças. Espera-se que ele seja cerca de 52% este ano. Tal número seria estratosférico na indústria automobilística, mas está 10 pontos percentuais abaixo dos níveis históricos da Intel. Assim como abaixo de alguns de seus concorrentes. A Texas Instruments está perto de 70%, e a AMD – sem destaque no passado por suas margens gordas – atingiu 50% no último trimestre.

De muitas maneiras, Gelsinger está tentando voltar no tempo e recuperar a Intel que existia em 2009, quando ele foi para a VMware. Naquela época, a indústria de computadores comprava chips Intel porque era preciso fazer isso: seus processadores Xeons e Core eram muito melhores que as poucas alternativas viáveis. Essa posição deu à Intel um nível de rentabilidade de fazer inveja a qualquer um na indústria de chips e dinheiro suficiente para permitir que ela gastasse mais do que qualquer rival em tecnologia e no processo de produção.

Gelsinger começou sua carreira na Intel em 1979 e foi um dos principais nomes no projeto do primeiro chip 80486. Ele gosta de dizer que “passou pela puberdade lá”, trabalhando para pioneiros da indústria de chips como Gordon Moore e Andy Grove.

Mas, hoje em dia, a empresa está tentando recuperar a antiga posição. Gelsinger planeja gastar até US$ 28 bilhões com novas fábricas e equipamentos este ano, um aumento de até US$ 10 bilhões em relação ao ano anterior. A Taiwan Semiconductor Manufacturing espera desembolsar US$ 40 bilhões e a Samsung Electronics, que gastou US$ 36 bilhões em 2021, provavelmente ultrapassará este valor em 2022, de acordo com as estimativas de analistas.

Gelsinger disse que está tentando superar uma década de “más decisões e administração fraca”. Entretanto, mesmo com uma onda frenética de gastos em curso, a Intel não está conseguindo acompanhar as gigantes do setor.

A base de clientes da Intel também passou por uma transformação. Um ano antes de Gelsinger deixar a empresa, a fabricante de chips tinha a mesma receita anual da Apple: cerca de US$ 37 bilhões. A Intel estava cerca de US$ 5 bilhões à frente em valor de mercado. Desde então, a Intel praticamente dobrou em receita. Mas a Apple agora tem uma avaliação de US$ 2,8 trilhões, vendas anuais de US$ 365 bilhões e um fluxo de caixa que supera o valor de mercado total da Intel. Outras grandes empresas que adquiriram compradores de chips – Amazon.com, Microsoft, Alphabet e a proprietária do Facebook, a Meta Platforms – também ofuscam a Intel em tamanho.

A Intel está definindo metas ambiciosas, mas a partir de “uma posição de relativa fraqueza”, disse Tom Fitzgerald, gestor de fundos da EdenTree. A concorrência evoluiu na última década, disse ele, assim como os clientes.

Muitos dos maiores clientes da Intel estão criando seus próprios chips. A Apple já abandonou as peças da Intel em sua linha de computadores Mac e passou a depender da tecnologia da Arm. Tanto a Amazon quanto a Microsoft estão adotando medidas semelhantes com seus processadores para servidor.

Com isso em mente, o mantra de Gelsinger para sua equipe de projeto é construir um chip melhor. “Temos que criar produtos e tecnologias que façam a Apple dizer: ‘Hum, isso é melhor do que eu poderia ter feito’”, disse ele.

A boa notícia é que a proliferação de chips significa que haverá um mercado maior para todo o setor. Mais semicondutores estão sendo usados em carros, eletrodomésticos e edifícios – qualquer coisa que precise pensar por si só e se conectar à internet. A crise no fornecimento gerada pela covid-19 em 2021 destacou como o mundo depende de chips.

As vendas da indústria de semicondutores superaram meio trilhão no ano passado, e Gelsinger acredita que esse número dobrará na próxima década.

Como a Intel fabrica uma variedade maior de chips, ela parece se tornar mais indispensável do que nunca. “Vai demorar um pouco, mas estamos no caminho certo”, disse Gelsinger.// TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA