No Dia das Crianças, especialista orienta pais a controlar o impulso de consumo e planejar os gastos com presentes e experiências para evitar dívidas e manter o equilíbrio financeiro. (Imagem: Adobe Stock)
Em algum momento, você desejou um brinquedo que nunca chegou, o carrinho que ficou à mercê do famoso “na volta a gente compra”, a boneca que era “muito cara”, o jogo que o colega tinha e parecia mágico. Quando crescemos, o impulso de realizar esses desejos, agora os dos filhos, sobrinhos ou afilhados, é natural. É como se cada presente fosse uma chance de resgatar a própria infância. Mas isso tudo pode ser resolvido com planejamento financeiro – e vale para datas de grande movimento no comércio e no orçamento das famílias, como o Dia das Crianças.
Os brinquedos da moda estão cada vez mais caros, embalados por propagandas sofisticadas, influenciadores mirins e uma indústria que lança mão de campanhas mirabolantes e do apelo ao afeto para causar desejo no público-alvo. Não à toa, o Dia das Crianças é a terceira data comemorativa mais importante do comércio brasileiro, atrás apenas do Natal e do Dia das Mães.
Segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apenas no ano de 2024 a celebração movimentou cerca de R$ 9,35 bilhões. E, como toda data sazonal com essa carga emocional, pode ser um terreno fértil para deslizes financeiros.
Planejamento precisa começar antes de sair para as compras
Para evitar que a empolgação se transforme em dívida, o planejamento precisa começar antes mesmo de sair de casa. “Duas recomendações práticas muito eficientes para evitar perder a linha no presente de Dia das Crianças são sair de casa com um teto para gastar e evitar levar a criança junto. Essas duas medidas simples já ajudam com o fator ‘emoção’ na hora da compra”, orienta Gabriella Bridi, educadora financeira da Franq.
Ela explica que o ideal é manter os gastos dessa época dentro de um limite claro no orçamento. “O ideal é que os gastos com datas comemorativas, incluindo o Dia das Crianças, fiquem dentro da categoria de lazer e presentes, que deve representar até 10% do orçamento mensal. Assim, as famílias conseguem manter o equilíbrio entre prazer e responsabilidade.”
Dia das Crianças: oportunidade para ensinar sobre consumo consciente
O uso do cartão de crédito, segundo Bridi, não deve ser demonizado, mas precisa vir acompanhado de consciência financeira. “O cartão de crédito não é o vilão das finanças, ele é um meio de pagamento, mas as famílias precisam estar cientes de que o limite do cartão não significa uma renda extra para ser usada mensalmente. Se usado sem controle, vira uma armadilha para o endividamento. Caso não vá comprometer o orçamento do mês seguinte, não há problema nenhum em usá-lo.”
O mesmo vale para o parcelamento. Quando bem utilizado, pode até ajudar no fluxo do orçamento. “O parcelamento, quando não há acréscimo de juros, também pode ser usado — desde que haja um controle de todas as compras parceladas para não se perder. O ideal é nunca comprometer o orçamento do ano seguinte com parcelas. Ou seja, em outubro, parcelar em apenas 2 vezes, com pagamento em novembro e dezembro. Assim, você garante que não começará 2026 cheio de contas ainda de 2025.”
A especialista ressalta que, se possível, o segredo é antecipar-se às datas. “Essas datas comemorativas anuais precisam entrar no planejamento financeiro das famílias. Já no início do ano, ter mapeado que esses eventos vão acontecer, que haverá a necessidade de presentear. E com isso, já se preparar, na medida do possível, com uma caixinha reserva para não comprometer o orçamento do mês.”
Nos últimos anos, algumas famílias têm encontrado um novo equilíbrio entre afeto e finanças, priorizando experiências no lugar de presentes materiais. “Há uma tendência, que já foi absorvida por algumas famílias, de trocar os presentes por experiências. Pode ser um almoço onde a criança escolhe o cardápio e a sobremesa, um passeio, uma ida ao cinema em família. Esses momentos ficam na memória e podem sair mais em conta do que um presente.”
Mais do que presentear, o Dia das Crianças pode ser uma oportunidade de ensinar. Mostrar que o dinheiro tem valor, que escolhas precisam de prioridade e que o prazer de dar pode existir mesmo sem extrapolar o orçamento. No fim das contas, o melhor presente talvez seja justamente esse: ensinar às novas gerações que um consumo consciente cabe em qualquer fase da vida, inclusive na infância.