- Data especial pede que os pais reflitam sobre a educação financeira com os filhos
- Falar sobre dinheiro com crianças faz com que elas logo cedo desenvolvam a consciência sobre responsabilidade, tomada de decisões e planejamento
- O processo de educação financeira não precisa ser complicado: utilizar brinquedos é uma forma de dar um primeiro passo nesse caminho
Quanto custa uma bicicleta em chocolates? Essa foi a estratégia de Érika Pontes Melo para ensinar o filho Caio, de 11 anos, sobre a relação com o dinheiro. Falar sobre o assunto logo na infância é importante para que as crianças comecem a diferenciar o que é necessidade e o que é desejo, além de aprenderem a escolher e dar prioridade às coisas de acordo com a importância.
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Em uma data especial como o Dia das Crianças, comemorado no último sábado (12), os pequenos aguardam ansiosamente para ganhar presentes. Mas o momento também pede que os pais reflitam sobre a educação financeira trabalhada com os filhos, que vai desde ensinar a lidar com o dinheiro, até trazer para dentro de casa algumas dicas básicas sobre finanças pessoais.
A mãe de Caio comenta que o primeiro exercício foi ensinar que o preço de um chocolate seria equivalente a R$ 2,50. Por esse ponto de partida, ele passou a usar um cofrinho para as reservas e aprendeu a definir quantos doces seriam necessários para comprar um balão, uma roupa e até mesmo uma casa.
“Ele me disse que queria uma bicicleta para andar no parque, mas expliquei que não seria fácil porque era caro comprar uma”, diz Melo. Com um pouco de tempo e planejamento, Caio conseguiu economizar e juntar mais dinheiro até chegar no valor que precisava para comprar a bicicleta.
Segundo Paula Sauer, planejadora financeira CFP pela Planejar, não existe uma idade correta para introduzir o assunto e falar sobre dinheiro com os filhos. Isso depende principalmente do modelo parental e das referências que os adultos tiveram em suas próprias famílias. Quando as crianças são colocadas para cuidar de seu dinheiro – ao atingirem a idade apropriada – elas começam a desenvolver a consciência sobre responsabilidade, tomada de decisões e planejamento, o que contribui para evitar possíveis endividamentos no futuro.
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“Algumas famílias com uma relação mais saudável com o dinheiro podem abordar o assunto antes mesmo da alfabetização da criança em ações cotidianas. Levá-los ao supermercado, ao caixa eletrônico do banco e ensinar receitas culinárias faz parte dessa introdução”, diz Sauer.
Raul, de 8 anos, começou a ouvir sobre o uso consciente do dinheiro desde os 2 anos de idade. É o que relata a mãe Patrícia Silva, que adotou a estratégia de dar ao filho uma carteira e um cofrinho para que ele pudesse iniciar as primeiras reservas. Atualmente, ele recebe uma mesada de R$ 70 e a utiliza com inteligência para comprar instrumentos musicais e produtos para jogar futebol, como camisetas e chuteiras. Quando ele quer comprar algo de maior valor, já entende que precisa fazer renda extra para complementar o crédito mensal. Para levar uma guitarra para casa, por exemplo, Raul vendeu doces para a família e vizinhos para acelerar os ganhos e conseguiu até lucrar com a iniciativa.
Em paralelo, os pais também conversam sobre o orçamento da família na presença de Raul, que mostra compreender o planejamento financeiro dos pais e participa de algumas decisões e eventuais economias que são necessárias para ajustar as contas do mês. “Falar com ele sobre a nossa vida financeira nunca foi um tabu”, diz Silva.
Sarai Molina, gestora da área educacional da Ágora investimentos, frisa que esse é um dos principais métodos da criança entender o valor das coisas. “Conhecer quanto custa a luz da casa, água, celular, internet e até mesmo os alimentos fazem parte de uma boa educação financeira”, diz.
Como ensinar sobre gastos estratégicos e responsáveis
No mercado, os pais podem mostrar para a criança que existe mais de uma marca do mesmo produto e preços diferentes. Ou seja, explicar qual é o fator que vai determinar qual produto é mais conveniente é uma forma de ensinar sobre gastos estratégicos e responsáveis.
Utilizar brinquedos também é uma forma de dar um primeiro passo nesse caminho. Os especialistas recomendam usar dinheiro de mentira, caixas registradoras e brincadeiras que abordam a trajetória financeira, mostram ganhos e perdas, disciplina e momentos de crise. Jogos como o Banco Imobiliário trabalham conceitos de gastos, lucro e avaliação de risco com as crianças porque simula o funcionamento do sistema financeiro e ganha quem conseguir o maior número de propriedades e aumentar a sua fortuna.
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Fernanda Ghisloti, 40, conta que sua filha, Bianca, de 10 anos, também já começou a administrar seu próprio dinheiro. Introduzindo o tema desde cedo, a mãe optou por dar uma mesada de R$ 100 mensais para a filha. “Essa foi a forma que eu aprendi a mexer com dinheiro, então entendo que pode ser efetivo com ela também”, afirma Ghisloti.
Ela diz ainda que as primeiras conversas começaram há dois anos e, depois que a filha entendeu a dinâmica e se acostumou a ficar dentro do orçamento, ganhou o próprio cartão de crédito pré-pago. Agora, Bianca começou a guardar o dinheiro para conquistar o seu grande sonho: viajar para a Disney.
Uma outra sugestão apontada por Sauer é de utilizar o momento de compra de um brinquedo ou objeto de interesse da criança para explicar que cada coisa tem um preço específico. Como alguns brinquedos são mais caros e outros mais baratos, é importante mostrar que o dinheiro tem um valor e que saber gastá-lo de maneira responsável é essencial para a saúde financeira.
Introduzir o conceito de poupança usando um cofrinho é uma outra forma de avançar com essa estratégia. Dessa forma, a criança vê o objeto e se sente estimulada a economizar e valorizar o dinheiro. “Você pode usar um cofrinho para gastar em um presente e outro para comprar lanches gostosos, por exemplo. Mostre à criança que ela pode tirar o dinheiro de um deles para compensar o gasto em outro, mas que o valor está saindo de algum lugar”, diz a planejadora financeira.
Abrir uma conta bancária para a criança é uma das alternativas que podem ajudar no processo de educação. Existem diversas instituições financeiras que aceitam contas para menores de idade, com acompanhamento do responsável.
Bianca, Caio e Raul possuem contas digitais, mas a responsabilidade pela administração fica com os pais. Os três mostram grande maturidade ao gastar o saldo disponível, fazendo cálculos para descobrir quanto ainda podem gastar e economizando boa parte do valor.
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Segundo dados da B3, a bolsa de valores brasileira, cerca de 40 mil brasileiros de até 15 anos possui algum vínculo de investimento, como poupança, Tesouro Direto, ou até mesmo ações. No total, a bolsa possui R$ 1,01 milhão alocados pelos mini investidores, o que representa 0,18% da população do País.
Para Molina, os dados mostram que a educação financeira engatinha no País e que o tema ainda é pouco discutido com as crianças por diversos motivos, sendo um deles a falta de conhecimento financeiro dos próprios pais. “Essa deveria ser uma matéria primária da grade escolar. Faltam políticas para que isso seja implementado e a educação financeira possa decolar no Brasil”, afirma.
*Com supervisão de Valéria Bretas