Desmotivação e esgotamento entre trabalhadores brasileiros geram perdas bilionárias e refletem queda no engajamento das empresas em 2025. (Foto: Adobe Stock)
A desmotivação da força de trabalho no Brasil pode custar R$ 77 bilhões por ano ao País, representando 0,66% do Produto Interno Bruto (PIB). O levantamento mostra que 60% dos colaboradores do País pensou em pedir demissão com alguma frequência em 2025, número menor que os 66% registrados no ano anterior, mas ainda preocupante.
O empenho dos brasileiros no trabalho atingiu o menor patamar desde o início da série histórica do Engaja S/A, índice nacional de engajamento realizado pela Flash, em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP).
Apenas 39% dos profissionais afirmam estar engajados com as empresas em que atuam, uma redução de cinco pontos porcentuais em relação a 2024. Isso significa que seis em cada dez brasileiros (61%) estão desmotivados com o trabalho, o pior resultado desde o início da pesquisa, em 2023.
A 3ª edição do Engaja ouviu 5.397 pessoas em todas as regiões do País entre junho e agosto de 2025. A maioria dos respondentes não possui ensino superior (61%), ganha entre um e três salários mínimos (65%) e atua em micro, pequenas e médias empresas (43%) – os maiores empregadores do Brasil.
“Embora a remuneração seja um fator relevante, ela não compensa deficiências no clima organizacional nem na qualidade da gestão. Fatores como relações de confiança, oportunidades de desenvolvimento e ambiente saudável continuam sendo os principais determinantes do engajamento”, afirma Renato Souza, professor da FGV EAESP e coautor do estudo.
Quanto custa manter um funcionário feliz?
Entre os engajados, apenas 8% pensam frequentemente em sair do emprego, contra 60% entre os ativamente desengajados, grupo que apresenta o maior impacto financeiro.
O turnover(rotatividade de funcionários em uma empresa) pode gerar perdas anuais de R$ 70,7 bilhões, correspondendo à maior parte do custo total do desengajamento.
Já o presenteísmo (a sensação de frequentar o trabalho mas estar mentalmente esgotado) soma R$ 6,3 bilhões em perdas, com metade dos profissionais desengajados relatando perder até duas horas de produtividade por dia por falta de motivação.
Além do custo coletivo, o estudo também calculou o impacto por cargo: o desengajamento custa em média R$ 72,4 mil por executivo ao ano, R$ 8,9 mil por gerente e R$ 561 por colaborador.
Líderes cansados, equipe cansada
O Engaja S/A identificou uma queda expressiva no engajamento das lideranças, fenômeno descrito como uma “crise silenciosa”. Entre executivos, o índice recuou de 72% em 2024 para 65% em 2025, a maior retração entre todos os níveis hierárquicos. Na média gerência, a queda foi de cinco pontos porcentuais, chegando a 49%.
O levantamento também revela sinais claros de esgotamento. Mais de três em cada quatro líderes (78%) relatam algum nível de ansiedade e 74% afirmam sentir fadiga com frequência. Entre os executivos, 25% sofrem com ansiedade diária e 21%, com insônia.
“Os principais responsáveis por engajar suas equipes apresentam sinais de exaustão. A pirâmide do engajamento pode estar sendo construída sobre uma base frágil”, alerta Souza, da FGV EAESP.
Geração Z é a mais vulnerável
A pesquisa confirma uma forte correlação entre saúde mental e motivação. Um em cada cinco trabalhadores brasileiros enfrenta sintomas diários de ansiedade, fadiga ou insônia e esses índices triplicam entre os ativamente desengajados. A depressão também afeta 14% dos profissionais todos os dias, segundo o estudo.
A Geração Z é a mais vulnerável: 25% relatam ansiedade diária, 22% fadiga e 23% insônia. Já entre os Baby Boomers, geração nascida no pós Segunda Guerra Mundial e que apresentam o maior nível de engajamento (45%), apenas 7% relatam ansiedade.
“O trabalho pode ser um gatilho para o adoecimento mental, especialmente em contextos de metas inalcançáveis e falta de autonomia”, observa Danilca Galdini, diretora de pessoas e cultura da Cia de Talentos.
Como resolver o problema?
O descanso e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional aparecem como determinantes do engajamento no trabalho.
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Profissionais que trabalham na semana de quatro dias registram 53% de engajamento, enquanto nas escalas 6 x 1(ou seja, o funcionário trabalha 6 dias corridos e descansa 1) e 12 x 36 os índices caem para 40% e 36%, respectivamente. Nessas jornadas longas, 23% relatam ansiedade diária, 22% fadiga e 14% depressão.
O estudo também confirma que família e propósito pessoal continuam sendo vínculos fortes de engajamento. Entre casados, 44% estão engajados, contra 33% dos solteiros e 34% dos separados. Entre pais e mães, o índice é de 45%, ante 30% entre quem não tem filhos.
“Pais e mães tendem a buscar estabilidade e apoio organizacional, o que reforça o vínculo com a empresa”, explica Isadora Gabriel, CHRO da Flash.
O que mais engaja o trabalhador brasileiro
Em 2025, a dimensão “Boas Práticas de Gestão” superou “Confiança na Liderança” como principal fator de engajamento, refletindo a valorização de processos claros, feedbacks consistentes e previsibilidade em um cenário corporativo de alta pressão e transformações tecnológicas.
As três práticas que mais engajam, segundo os profissionais, são:
Modelo remoto ou híbrido de trabalho;
Day off de aniversário;
Benefícios flexíveis.
Paradoxalmente, essas iniciativas não estão entre as mais comuns nas empresas, que ainda deem prioridade a treinamentos, reuniões de resultado e avaliações de desempenho – ações de baixo impacto sobre a desmotivação no trabalho no Brasil.