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Comportamento

Conheça a TikToker que faturou uma carteira de ações de cinco dígitos

Autodidata e compartilhando o que descobriu, nova geração de investidores está levando os mercados a sério

Conheça a TikToker que faturou uma carteira de ações de cinco dígitos
A TikToker Kiersten Crum, de 21 anos, em Wall Street, nos Estados Unidos (Foto: Divulgação Kiersten)
  • Os investidores novatos estão entrando no mercado há mais de um ano
  • A Robinhood, a corretora pioneira sem comissão, registrou milhões de downloads de seu aplicativo antes mesmo da GameStop e de outras ações de memes dispararem em janeiro
  • Embora o frenesi por trás do interesse nas ações da GameStop tenha sido alimentado em parte pela atitude YOLO (Só se vive uma vez) de muitos negociantes novatos, ele também obscureceu um fato importante: alguns deles não estão nisso para brincar
  • Com US$ 500, a TikToker Kiersten Crum comprou ações da linha de cruzeiros Carnival, sua primeira experiência no mundo das ações, e hoje tem uma carteira de ações de cinco dígitos

(Tara Siegel Bernard/The New York Times) – Em março de 2020, Kiersten Crum era uma novata no mercado de ações. A pandemia forçou que suas aulas da faculdade passassem a ocorrer on-line, o bar de seu pai foi temporariamente fechado e ela começou a trabalhar em um mercadinho para ganhar algum dinheiro. Com US$ 500, ela comprou ações da linha de cruzeiros Carnival, sua primeira experiência no mundo das ações.

Agora ela tem uma carteira de ações de cinco dígitos, está no meio de um ano sabático para se concentrar exclusivamente em negociações e em sua presença on-line – seja no Twitter ou no TikTok – e está totalmente voltada para o que ela chama de sua obsessão pelo mercado de ações.

“Comecei a aprender sozinha o máximo que pude”, disse Kiersten, 21 anos, cujo interesse por investir foi despertado por uma reunião do clube de investimentos pouco antes de o novo coronavírus fechar seu campus na primavera passada.

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Kiersten, que se autodenomina a Stonk Queen (Rainha Stonk), usando propositalmente o termo “stock” (ações) com erro ortográfico que é popular entre os negociantes on-line, tem aproveitado o ano para aprender como o mercado funciona.

“Todos os termos que não entendia, anotava em uma lista”, disse ela. “Eu tratei isso como se fosse parte da escola.”

Os investidores novatos estão entrando no mercado há mais de um ano. A Robinhood, a corretora pioneira sem comissão, registrou milhões de downloads de seu aplicativo antes mesmo da GameStop e de outras ações de memes dispararem em janeiro.

A Charles Schwab adicionou 866 mil clientes de varejo em 2020, um aumento de 81% em relação a 2019. Mais da metade tinha menos de 41 anos e os novos clientes estão financiando suas contas com quantias mais modestas de dinheiro. E a Fidelity disse que as novas contas aumentaram 17% em 2020, com mais de um terço do crescimento por pessoas de 35 anos ou menos. (A idade mínima para abrir uma conta em uma corretora é geralmente de 18 anos.)

“Os jovens estão dizendo:‘ Investir é importante; investir é legal’”, disse Farnoosh Torabi, especialista em finanças pessoais de longa data que apresentava o podcast “So Money” em 2015.

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E embora o frenesi por trás do interesse nas ações da GameStop tenha sido alimentado em parte pela atitude YOLO (Só se vive uma vez) de muitos negociantes novatos, ele também obscureceu um fato importante: alguns deles não estão nisso para brincar.

Há um grupo com visão de longo prazo, construindo carteiras para durar. Outros são mais ativos – fazem day-trade comprando e vendendo ações rapidamente com base nos padrões de preços, ou swing trading mantendo ativos por um dia ou até algumas semanas.

Sobre os jovens investidores

Muitos usam a análise técnica, observam de perto os diferentes setores do mercado e seguem sugestões de gestores de investimentos como Cathie Wood, que alcançou um status de seita.

Adotar um modo de agir ativo ainda é arriscado, é claro. Estudos têm mostrado que os negociantes de varejo geralmente tendem a perder dinheiro, e mesmo gestores de carteira profissionais não vencem o mercado mais amplo com o tempo. Os jovens negociantes às vezes têm assumido mais riscos do que podem suportar, com resultados desastrosos.

Mas negociantes como Kiersten, que mora em Sunrise Beach, Missouri, estão fazendo um grande esforço para fazer isso da maneira certa.

Todas as noites, ela faz meticulosamente uma lista das ações que está observando usando diferentes medidas. Uma delas, uma ferramenta on-line chamada scanner de volume, filtra ações que estão sendo negociadas acima ou abaixo do valor normal, o que ela acredita que pode ser uma boa aposta. A investidora tenta mitigar seu risco: Kiersten usa um sistema de controle de perdas e ganhos (stop-loss), para vender uma ação quando ela atinge um determinado preço, e limitar as compras, o que permite aos investidores definirem instruções mais específicas.

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Como muitos outros jovens negociantes, ela gosta de compartilhar o que aprende – geralmente em vídeos no TikTok para seus 163.000 seguidores.

Kiersten postou um vídeo sobre gráficos de velas (também chamado de candlestick), que ilustram a faixa de preço de uma holding em um determinado dia. Em outro, ela explicou como usar o índice de força relativa (RSI), que mede as mudanças de preço ao longo do tempo e pode indicar quando uma ação talvez esteja sendo vendida ou comprada em excesso.

“Comecei fazendo swing trade, uma maneira antiga e confiável de negociar”, disse Kiersten, acrescentando que fará day-trade se detectar algo que pareça ser “um vencedor óbvio”.

Como outros jovens investidores, ela está surfando uma onda que não seria possível sem a ampla adoção do comércio livre de comissões no final de 2019, o que abriu as portas para aqueles sem muitas reservas. As negociações de varejo agora respondem por cerca de 22% de todo o volume de negócios, de acordo com a Piper Sandler, uma empresa de serviços financeiros, ante 13% um ano atrás, quando o volume geral também era menor.

“Há dias em que faço 100 negociações ou mais”, disse Dan Knight, 26 anos, um day-trader que coapresenta um podcast sobre o mercado de ações. “Eu nunca seria capaz de negociar com taxas de comissão de US$ 7”.

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O podcast de Knight, “PGIR”, esteve recentemente entre os 50 melhores programas de negócios da Apple nos Estados Unidos e foi classificado como o principal programa sobre investimentos no início de fevereiro, de acordo com o Chartable. Irreverente e com palavrões aqui e ali, cada episódio começa com uma voz do rapper Flavor Flav, e Knight é apresentado como Deity of Dips (Deus dos DIPS), enquanto seu coapresentador, Mitch Hennessey, atende por Hugh Henne – uma homenagem ao primeiro nome de seu avô e, uma brincadeira com o nome de Hugh Hefner.

A cultura dos influenciadores de finanças

Embora Knight e Hennessey se vejam, antes de tudo, como negociantes, a cultura do “finfluencer” (influenciador de finanças) floresceu com o crescimento do interesse na internet e eles têm uma influência considerável.

Isso ficou claro em abril de 2020, quando uma publicação em uma mídia social defendeu uma estratégia claramente da velha escola. Austin Hankwitz, que tem 24 anos e quase 500.000 seguidores no TikTok, ilustrou como contribuir com US$ 250 por mês em uma conta de aposentadoria individual Roth, a partir dos 18 anos, pode render US$ 1,3 milhão na aposentadoria.

Ele sugeriu o uso do Betterment, um robô conselheiro que automatiza o processo de investimento com carteiras de longo prazo. Naquele mês, a empresa – onde a negociação ativa nem mesmo é possível – abriu duas vezes mais contas de aposentadoria individual Roth do que no mesmo mês do ano anterior.

“Ver o pico acelerou nossa investida no marketing de influenciadores”, disse Joe Ziemer, porta-voz da Betterment.

O endosso de Hankwitz ao Betterment não foi solicitado, mas o poder dos chamados “finfluenciadores” como ele não passou despercebido. Firmas financeiras escolheram alguns deles: Taylor Price (1 milhão de seguidores no TikTok) e Humphrey Yang (2 milhões) fazem publicidade para a Betterment, e Yang também foi contratado pela Wealthfront. Mesmo players consagrados como a Fidelity fazem parcerias com influenciadores no Instagram.

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O mundo financeiro está avaliando o que fazer com isso. As empresas estão repensando como alcançar os acionistas, tentando novos métodos para se conectar com um grupo demográfico mais jovem, como reuniões no Clubhouse e participações em podcast. E os acadêmicos alertam que esses negociantes têm o potencial de tornar o mercado mais instável.

O universo em expansão de servidores Discord, streamings no Twitch e tendências no TikTok significam que as ideias populares podem ser multiplicadas rapidamente, fazendo com que os negociantes se concentrem em uma coleção menor de ações – uma receita para mais volatilidade, muitas vezes seguida por retornos mais pobres em certos segmentos do mercado.

O surgimento repentino de grande quantidade de novos investidores é típico de mercados em alta, disse Brad Barber, professor de finanças e catedrático da Escola de Pós-Graduação em Administração da Universidade da Califórnia, em Davis, cujas pesquisas incluem psicologia do investidor e negociação on-line.

“É mais do mesmo, mas com esteroides”, disse ele.

É possível que alguns negociantes se tornem menos interessados à medida que suas vidas offline forem retomadas completamente, mas a coragem deles talvez seja realmente testada quando o mercado entrar em sua próxima desaceleração.

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“Isso é o que separa aqueles que estão realmente interessados no mercado e aqueles para quem isso é um hobby”, disse Douglas Boneparth, consultor financeiro em Nova York com uma grande presença nas mídias sociais.

(Tradução de Romina Cácia)

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