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The Economist: Em breve os millennials terão de ser levados a sério por Wall Street

Mudanças nas regras de aposentadoria e avanços tecnológicos estão aumentando a participação e a influência dessa geração no mercado

The Economist: Em breve os millennials terão de ser levados a sério por Wall Street
A estátua da "Fearless Girl", um dos poucos símbolos femininos do masculino mundo de Wall Street e de todo o mercado financeiro. (Brendan McDermid/ Reuters)
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  • Os millennials costumam ser definidos como a geração nascida entre 1981 e 1996 e até o momento uma pequena fração da riqueza total está nas mãos deles.
  • Na pandemia, esses jovens investidores conquistaram uma reputação infame. Enquanto o mercado disparava, coleguinhas de apostas entraram num frenesi de day trade pelo celular
  • Nos Estados Unidos esse grupo é dono de US$ 9,1 trilhões em ativos, ou 7% do bolo total
  • Graças ao dinheiro que vai ganhar e aos recursos que vai herdar, essa turma em breve vai representar uma fatia maior do mercado

(The Economist) – Imagine um típico investidor millennial. Talvez você pense em alguém como Vincent Iantomasi, exemplar de uma legião de amadores que distribuem, via TikTok, conselhos sobre onde apostar dinheiro.

Ao som de “Blueberry Faygo”, do jovem rapper Lil Mosey (18 anos), Iantomasi sugere que investidores em busca de retornos vigorosos coloquem suas fichas no SPXL – um alavancado fundo de índice. Pode ser também que você associe essa geração ao pessoal que frequenta o fórum “r/wallstreetbets”, da rede social Reddit. São usuários que gostam de publicar aquilo que chamam de “pornô de perdas”: fotos de telas de contas no aplicativo Robinhood, tiradas logo depois de investirem as economias amealhadas ao longo de anos em derivativos de curto prazo da montadora de carros elétricos Tesla.

Na pandemia, esses jovens investidores conquistaram uma reputação infame. Enquanto o mercado disparava, coleguinhas de apostas entraram num frenesi de day trade pelo celular. Para além da febre momentânea, porém, é possível vislumbrar uma mudança profunda no perfil dos donos de ativos.

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Os millennials costumam ser definidos como a geração nascida entre 1981 e 1996 e até o momento uma pequena fração da riqueza total está nas mãos deles. Nos Estados Unidos esse grupo é dono de US$ 9,1 trilhões em ativos, ou 7% do bolo total. Isso é bem menos do que os 26% que pertenciam aos integrantes da geração baby boom quando estes tinham a mesma idade que os millennials têm hoje.

Como os millennials acumulam riqueza

No entanto, graças ao dinheiro que vai ganhar e aos recursos que vai herdar, essa turma em breve vai representar uma fatia maior do mercado. Além disso, mudanças na tecnologia e nos sistemas de pensão vão permitir que os millennials tenham mais controle sobre o próprio patrimônio do que seus pais tiveram. Empresas de investimento e o mercado como um todo já enxergam o impacto disso em suas atividades.

Esses jovens acumulam riqueza herdando ou ganhando dinheiro. Atualmente, mais de um terço da mão de obra americana é millennial – maior grupo nessa estatística desde 2016 (embora alguns de seus representantes ainda estejam na faculdade). Segundo o Bank of America Merrill Lynch, o potencial de ganhos dessa faixa da população vai aumentar quase três quartos no período entre 2015 e 2030, à medida que mais integrantes entrarem no mercado de trabalho e subirem na carreira.

Leia também: Netflix vai de R$ 2.753,52 para R$ 55; veja os 23 BDRs desdobrados

O fluxo de recursos herdados também vai se acelerar. A estrutura demográfica na maioria dos países ricos é mais protuberante na geração baby boom, e em seguida também entre seus filhos – muitos deles millennials. Nos Estados Unidos, a cada cinco anos US$ 1,3 trilhão em ativos para investimento (ou 5% do total) passa das mãos de uma geração à outra.

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Quando os baby boomers começarem a envelhecer e morrer, é provável que o ritmo da transferência de riqueza dobre entre 2036 e 2040. A consultoria Cerulli Associates afirma que, até 2042, os millennials terão herdado cerca de US$ 22 trilhões.

O jeito de investir não vai ser o mesmo da geração anterior

É um erro supor que essa geração vá investir da mesma forma que seus pais faziam. Duas forças vão empurrar esse grupo a buscar mais controle sobre os próprios ativos: mudanças no sistema de aposentadoria e avanços tecnológicos. Falemos primeiro sobre as aposentadorias. Na década de 1970, boa parte dos planos pagos por empregadores nos Estados Unidos seguia a linha conhecida como “benefício definido”.

O beneficiário recebia uma quantia fixa, determinada pelo salário final no momento da aposentadoria, e não podia escolher como e onde sua bolada seria investida. Mas em 1978 uma lei chamada Revenue Act criou o plano 401(k) para cidadãos americanos – um sistema de “contribuição definida” no qual o funcionário beneficiado obteve mais controle sobre seu dinheiro. Desde 1995 os ativos deste último sistema superam os valores administrados no método do benefício definido. Se no passado as empresas de investimento competiam para serem responsáveis pelos planos de pensão oferecidos por empresas, agora os funcionários podem escolher entre mais de uma gestora.

Além de ter mais controle sobre a aposentadoria que receberão do empregador, os millennials têm usado a tecnologia para investir diretamente em ações e títulos. Quando a maioria dos baby boomers começou a acumular reservas, havia poucas (e grandes) empresas de investimento no horizonte, oferecendo fundos mútuos com taxas altas.

Hoje, porém, as operações digitais facilitam e barateiam compras e vendas feitas diretamente por pessoas físicas. Entre 1975 e hoje, o custo de investir cem dólares na bolsa caiu de seis dólares para menos de um milésimo de centavo. Em 2019, as quatro grandes plataformas de operações de varejo – Charles Schwab, E*Trade, Fidelity e TD Ameritrade – reduziram suas comissões a zero para fazer frente à crescente popularidade do app Robinhood, pioneiro no modelo sem taxas. E uma geração que cresceu com um celular na mão confia tanto num aplicativo quanto num respeitado corretor que veste terno e gravata.

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As fintechs correm para aproveitar a guinada que se anuncia. Mesmo que a Robinhood tenha frequentado as manchetes dos jornais, os millennials seguem dispostos a usar outros serviços online. Um exemplo disso são os “robôs-consultores”, que alocam ativos automaticamente em fundos de índice de baixo custo, com base na idade e nas preferências de risco do investidor, mediante o pagamento de uma pequena taxa.

A gestora BlackRock diz que quatro a cada cinco millennials que conhecem esse tipo de consultoria financeira estão dispostos a usá-la. Juntas, Betterment e Wealthfront, duas startups que contam com esses robôs, administram tanto dinheiro (cerca de US$ 40 bilhões) quanto a própria Robinhood.

Leia também: BlackRock: ‘Vamos trazer cerca de 100 opções de ETF até março de 2021’

Embora o cliente da Betterment tenha um perfil um pouco mais velho, a idade média dos investidores é 35 anos, segundo o fundador Jon Stein. A Robinhood não revela o montante administrado pela plataforma, mas cálculos da empresa de pesquisa JMP Securities sugerem que, na média, cada conta abriga entre mil e cinco mil dólares.

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Multiplicada pelos 13 milhões de contas ativas na plataforma, essa média individual representaria uma soma total entre US$ 13 bilhões e US$ 65 bilhões sob gestão. Instituições grandes e tradicionais tentam pegar carona no movimento.

No ano passado o Morgan Stanley comprou a Solium, que administra opções de compra de ações para quem trabalha na indústria de tecnologia. Com a operação, o banco espera atrair hoje clientes que pode se tornar ricos amanhã.

Para outras organizações, o horizonte é mais sombrio. Um estudo conduzido pela consultoria Accenture mostra que a maioria dos gestores de grandes fortunas espera perder um terço dos recursos de seus clientes no momento em que ocorrer a sucessão para a próxima geração. Quando os milionários maduros baterem as botas, o negócio das gestoras tradicionais também corre o risco de ir para o túmulo.

Mas quais serão os objetivos dos millennials?

Dados colhidos pela Deloitte revelam que 87% dos integrantes dessa geração acreditam que o sucesso corporativo vai além do desempenho financeiro – e tudo indica que eles agem movidos por esse impulso.

Pesquisas do Morgan Stanley apontam que a turma com menos de 35 anos tem uma probabilidade duas vezes maior do que outros grupos de vender papéis caso considerem que o comportamento da empresa emissora é social ou ambientalmente inadequado. É evidente que o pragmatismo pode bater à porta dos millennials quando eles tiverem filhos ou embarcarem no financiamento da casa própria.

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Mas, quem sabe, tendo atravessado duas crises econômicas em pouco mais de uma década, talvez eles queiram dar uma chacoalhada no capitalismo acionário. Se em 2020 os millennials viraram tema de piada, no futuro eles provavelmente vão mudar o funcionamento da gestão de ativos – e talvez até a economia como um todo.

(Tradução: Beatriz Velloso)

© 2020 The Economist Newspaper Limited. Direitos reservados. Publicado sob licença. O texto original em inglês está em www.economist.com

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