Comportamento

Diferença entre homens e mulheres na Bolsa aumenta em 2023

Novas investidoras seguem chegando à B3, mas diferença numérica entre sexos voltou a crescer após aproximação

Diferença entre homens e mulheres na Bolsa aumenta em 2023
(Foto: Envato)
  • O volume da chegada de novas investidoras reduziu após um período de expansão significativa, enquanto o de homens se mantém
  • A redução nos últimos três anos pode estar ligada a um período de incertezas da economia, o que reflete mais nas escolhas delas, que, em média, têm um início cauteloso e de aversão ao risco
  • Apesar dos números na bolsa mostrarem a diferença entre sexos, as entrevistadas destacam que o cenário pode ser diferente se observados todos os tipos de investimento

A diferença na quantidade de homens e mulheres que investem na Bolsa de valores do Brasil tem ficado maior nos últimos três anos. O volume da chegada de novas investidoras reduziu após um período de expansão significativa, enquanto o de homens se mantém. Em 2020 elas representavam 26,24% das pessoas com ações ou outros ativos na B3.

Com sucessivas quedas porcentuais nos anos seguintes, atualmente as mulheres são 22,89% dos investidores.

O fenômeno é observado por mulheres do mercado financeiro como resultado da junção de questões. No geral, há persistência de fatores já conhecidos, como as barreiras em relação ao acesso à educação financeira e ao aconselhamento de investimentos, o que dificulta a manutenção da chegada de novas investidoras em grande volume.

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Contudo, a redução nos últimos três anos pode estar ligada a um período de incertezas da economia, o que reflete mais nas escolhas delas, que, em média, têm um início cauteloso e de aversão ao risco.

Para a gestora de renda variável Isabel Lemos, da Fator Administração de Recursos (FAR), o movimento de distanciamento do número de homens e mulheres na Bolsa pode estar por trás de uma revisão dos investimentos por parte delas diante do momento de maior insegurança. “Acredito que haja de fato uma volatilidade nesses números. Agora, pode ser que enquanto elas estão saindo para outros investimentos em razão do período, os homens sigam chegando por temerem menos os riscos”, avalia.

Gestora de renda variável Isabel Lemos, da Fator Administração de Recursos (FAR) | Foto: arquivo pessoal

 

Crescimento

Em números absolutos, as mulheres seguem crescendo na Bolsa. Os dados de pessoas físicas da B3 mostram que em 2016 elas eram pouco mais de 130 mil de um total de 564 mil investidores. A partir de 2019, o volume quase dobrou anualmente. Em 2021 ,do total de 5,9 milhões de investidores, 1,1 milhão eram do sexo feminino, aumento de 36%. Em 2022 o número passou para 1,34 milhão, um acréscimo mais tímido, de 16%. Atualmente elas somam 1,38 milhão, uma parcial de 3,3% a mais que no ano passado.

A analista financeira Mariana Ribeiro, autora do livro #querosereufrasia, sobre a primeira mulher a investir na Bolsa de Valores, Eufrasia Teixeira Leite, observa que o salto nos números ocorreu em meio a um movimento de mulheres iniciado em 2019 para atrair novas investidoras e com a maior facilidade em investir na Bolsa.

“Com isso, as mulheres foram encorajadas a buscar conhecimento sobre finanças pessoais e a investir em diferentes tipos de ativos, como ações, fundos imobiliários e títulos públicos”, diz. Além disso, a analista destaca que as empresas passaram a se preocupar mais em criar produtos e serviços voltados para o público feminino.

O avanço teria encontrado na pandemia um obstáculo agora significativo, como as demissões que atingem mais as mulheres, por exemplo. Uma reportagem do The Washington Post mostrou que enquanto as mulheres representam cerca de 39% do quadro de funcionários das big techs, elas formam 46% das demissões em massa observadas desde setembro. A analista Marina Ribeiro ainda lembra que as diferenças salariais seguem sendo realidade.

Psicológico

A psicóloga e educadora financeira Ana Paula Hornos concorda com a influência dos impactos causados pela pandemia, que segundo ela culminaram em desequilíbrio na agenda de igualdade entre gênetos. “Mulheres constantemente enfrentam o dilema de equilíbrios nos papéis sociais entre cuidar da família e filhos e ser profissional. A pandemia agravou a situação, por conta das escolas e trabalhos migrarem para o home office”, diz.

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Na outra ponta sobre o que leva as mulheres a investir menos, a educadora financeira diz que é necessário trabalhar o fortalecimento da autoestima feminina e das crenças histórico-sócio culturais. “Mulheres, ao longo da história da sociedade e no âmbito familiar, sofrem de dependência afetiva e ausência de suporte social. É necessário estimular também o aumento no número de mulheres em carreiras de exatas, ciências e tecnologia, tradicionalmente ocupadas por homens”, aponta.

Para Mariana Ribeiro, os investimentos podem significar maior liberdade para as mulheres. “No geral os investimentos ajudam a evitar problemas como fobia e estresse financeiro. Para as mulheres, em especial, os investimentos podem ser importantes para quebrar a dependência financeira em relacionamentos abusivos, algo reconhecido pela Lei Maria da Penha”, afirma.

Analista financeira Mariana Ribeiro | Foto: arquivo pessoal

A Bolsa é o único termômetro?

Apesar dos números na Bolsa mostrarem a diferença entre sexos, as entrevistadas destacam que o cenário pode ser diferente se observados todos os tipos de investimento. Contudo, Ana Paula Hornos diz que o mercado financeiro pode ser um dos indicadores de melhoria da igualdade entre homens e mulheres. “Não exclusivamente o de renda variável, porque neste caso, entra uma discussão de perfil de risco. Mas podemos avaliar o volume de investimentos financeiros total, com renda fixa e variável juntas”, afirma.

A gestora Isabel Lemos chama a atenção para a possibilidade de as mulheres decidirem estar na renda variável por meio dos fundos de investimentos. “Elas também estão aplicando em fundos multimercados e de ações. E com maior independência, estão mais atuantes e interessadas em entender melhor os investimentos que estão fazendo, não apenas confiando em assessores ou terceiros para tomar decisões por elas”, diz.

A presença de um maior número de investidoras na Bolsa é de fato desejável, conforme considera a educadora financeira Dina Prates. Contudo, ela ressala que a expansão significativa da presença das mulheres no mundo dos investimentos é um fenômeno novo e muitas estão em outros momentos como investidoras.

“Escuto rotineiramente: ‘Dina, minha meta é ter ações. É poder receber dividendos. Mas por enquanto vou começar por aqui que é o caminho que tenho mais segurança’. De forma que elas vão observando o dinheiro rendendo e decidindo quando pode ser a hora de se aventurar em outros tipos de investimento”, afirma a educadora, que hoje está entre as investidoras da Bolsa.

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