O que este conteúdo fez por você?
- O isolamento social adotado como uma das principais medidas de prevenção à propagação do novo coronavírus deixou todo mundo em casa
- Com isso, a Netflix ganhou 15,7 milhões de assinantes só no primeiro trimestre de 2020
- A quinta temporada da série Billions é um prato cheio para quem se interessa e tem curiosidade sobre o mercado financeiro
(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Quinta temporada da série da Netflix (FLX34) tem como pano de fundo o universo das criptomoedas, Bitcoin e blockchain.
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O isolamento social adotado como uma das principais medidas de prevenção à propagação do novo coronavírus deixou todo mundo em casa e, consequentemente, reduziu as opções de lazer. Nesse cenário, maratonar seriados virou um dos passatempos preferidos e a Netflix ganhou 15,7 milhões de assinantes só no primeiro trimestre de 2020. Uma das séries disponíveis no catálogo do serviço é “Billions”, cuja quinta temporada estreou em maio, com episódios lançados semanalmente.
A produção é um prato cheio para quem se interessa e tem curiosidade sobre o mercado financeiro. A trama gira em torno do embate entre dois homens que estão em lados opostos da lei: o indicado ao Oscar Paul Giamatti é o procurador de Justiça Chuck Rhoades, enquanto Damian Lewis, conhecido por sua atuação em “Homeland”, é o dono de uma empresa de investimentos que faz corretagem de ações na Bolsa de Valores e lança mão de práticas não ortodoxas do ponto de vista legal, por assim dizer, para enriquecer.
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O cenário principal da série é Nova York, o mesmo de diversas outras produções do gênero, como os filmes “Wall Street” e “As Golpistas”.
Por mais que, por si só, o mercado financeiro não seja assim tão simples de compreender, a temporada mais recente da série traz entre as histórias de seu enredo um tema ainda menos palatável, pelo menos por enquanto, por parte do grande público: criptomoedas. Tanto que a produção da série precisou contratar um consultor para a atual temporada, no caso, o escritor Ben Mezrich, autor do livro “Bitcoin Billionaires: A True Story of Genius, Betrayal, and Redemption” (“Bilionários do Bitcoin: uma verdadeira história de genialidade, traição e redenção”, em tradução livre).
Mas se você não tem nenhum amigo que entenda do assunto e possa atuar como seu próprio consultor especial, não se preocupe! O eInvestidor vai explicar os principais pontos que envolvem esse universo para que você não fique “boiando” enquanto maratona a quinta temporada de “Billions” na Netflix.
Criptomoedas, Bitcoin e tokens
O primeiro ponto que precisa ser compreendido diz respeito às criptomoedas, moedas digitais baseadas em criptografia. De forma bastante coloquial, a criptografia consiste em uma tecnologia de segurança que “bagunça” a informação enviada a um receptor para que um terceiro, caso haja interceptação, não seja capaz de decodificar o conteúdo.
Basicamente, os dados são embaralhados em uma ponta e desembaralhados na outra, como proteção. É a criptografia que confere segurança aos ativos digitais. E não pense que se trata de uma técnica nova: o primeiro uso conhecido da criptografia reside em hieróglifos irregulares que foram esculpidos em monumentos do Antigo Egito, há quase 5 mil anos.
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O Bitcoin, nada mais é, do que uma criptomoeda. Ele não é, entretanto, uma criptomoeda qualquer: é a primeira e a mais conhecida. Criptomoedas e Bitcoin, portanto, nasceram juntos. A moeda foi apresentada ao mundo em 2008, criada por um grupo de rebeldes da computação, que dominam a criptografia, sob o pseudônimo Satoshi Nakamoto. Considera-se que o Bitcoin foi a responsável pelo ressurgimento do sistema bancário livre, processo de revolução que ainda está no início.
A principal característica do Bitcoin, nesse sentido, é sua descentralização. “A ideia era justamente se colocar contra o domínio, a proteção e o controle de uma só pessoa, organização ou governo. A lógica da operação era que ela seria descentralizada.
Ninguém é dono do Bitcoin. Nenhum governo ou organização tem condição de mudar as regras do jogo. Um governo tem o poder centralizado de emissão de moedas tradicionais, mas não tem do Bitcoin”, explica Jorge Renato de Souza Verschoore, professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
É preciso frisar, portanto, que não existe um banco por trás do Bitcoin, vez que a sua rede não é controlada por uma autoridade central. Além disso, qualquer desenvolvedor pode ser acesso ao seu código-fonte para verificar como a moeda funciona – ou, ainda, para se inspirar e criar a sua própria criptomoeda (existem até sites e programas de criação).
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Relativamente ao Bitcoin, outro ponto que deve ser destacado é que ele não é infinito, vez que o limite definido por seu algoritmo é de 21 milhões de unidades, valor que deve ser alcançado somente em 2140 – ou seja, nenhum de nós estará por aqui para ver isso acontecer. Já o cálculo do valor do Bitcoin não foge às regras mais tradicionais – e mesmo sendo uma moeda descentralizada, também não está imune às leis do mercado.
Questões como lei da oferta e procura, aceitação no mercado e aumento do número de carteiras digitais influenciam. Há, ainda, o token. Embora muitos acreditem também se tratar de uma moeda digital, ele está tipicamente vinculado a algum ativo real, é a sua representação digital.
Pode, também, possuir algum tipo de utilidade, como o acesso a um serviço. Já a tokenização, do ponto de vista tecnológico e jurídico, seria o processo de criar a representação digital
de um ativo real.
Blockchain e confiabilidade
Para entender sobre criptomoedas também é fundamental saber o que é a tecnologia blockchain, rede aberta onde as moedas são negociadas e que serve como uma espécie de livro contábil das transações. No blockchain são registradas informações como a quantia de criptomoedas transacionada, emissor e receptor, data da transação, entre outras.
Esses dados são armazenados em blocos, sendo que a cada 10 minutos no blockchain, um novo bloco de transações é formado, ligando-se ao anterior.
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Daí o nome “cadeia de blocos”. Dessa forma, é praticamente impossível modificar qualquer informação. “Se eu quiser fazer um ataque ao Banco Central, uma instituição centralizada, todas as
informações estarão em um sistema.
A partir do momento em que as criptomoedas ou blockchains são descentralizados, é como se tivesse vários ‘Bancos Centrais’. Cada um deles possui as informações de todas as operações. É descentralizado no sentido de que esses bancos centrais, que possuem todas as informações, vão acumulando dados e se por acaso algum deles sumir, os Bitcoins continuarão sendo reconhecidos. Há mais segurança”, afirma Johnny Silva Mendes, professor dos cursos de Economia e Administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).
No blockchain, as informações não ficam, portanto, armazenadas em um computador central, mas em milhares de máquinas espalhadas por todo o planeta, sendo que cada uma possui cópia integral do banco de dados. Não existe, nesse sentido, um único ponto de ataque, como ocorreria em uma instituição financeira centralizada e tradicional.
Mineração
É dentro do blockchain que são criadas as moedas digitais, num processo chamado de “mineração”. O criador – ou criadores – do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, idealizou a mineração a fim de tornar a rede sustentável.
Os mineradores precisam verificar e registrar a transação no bloco. Para tanto, a máquina deve estar ligada 24 horas por dia, para que as negociações sejam confirmadas e auditadas. “Quem coloca o computador à disposição para processar um bloco é remunerado com um percentual.
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Toda vez que um computador completa uma transação, ele é premiado com uma porcentagem. É uma maneira de valorizar o processador e incentivar o minerador. É como se fosse mesmo uma mineração de ouro”, diz Verschoore. É preciso ressaltar, entretanto, que não é qualquer computador que dá conta de minerar Bitcoins atualmente. Quem almeja ser minerador precisa adquirir uma máquina com alta capacidade de processamento, geralmente montada especialmente para a função.
Alerta de spoiler
Um fato interessante é que há registros de mineração ilegal de criptomoedas. No primeiro episódio da quinta temporada de “Billions”, o telespectador acompanha uma operação policial em um galpão usado supostamente para mineração ilegal de Bitcoin. Os proprietários do local estariam usando muita energia e prejudicando, assim, a cidade.
Na “vida real”, as autoridades sul-coreanas já detiveram mineradores de Bitcoins que usavam de forma fraudulenta eletricidade subsidiada para a função, como se estivessem exercendo outra atividade – fazendas e fábricas em áreas mais restritas do país recebem eletricidade a taxas mais baixas. Note-se que não era a mineração, propriamente dita, que era ilegal, mas o meio utilizado.
Por onde começo?
Se você ficou interessado em investir em criptomoedas, saiba que o primeiro passo é pesquisar uma exchange de confiança. São empresas que atuam como se fossem corretoras do ramo, e sua reputação pode ser verificada, inclusive, em sites como o Reclame Aqui e em comunidades voltadas a discutir o tema. Mendes lembra que pelo fato de qualquer um poder criar criptomoedas, deve-se tomar cuidado para descobrir qual é o projeto e objetivo por trás delas.
“Ao longo dos anos, você percebe que algumas criptomoedas que têm projetos sérios por trás têm negociado um determinado valor, e esse valor tem sido relativamente estável. É importante saber quem são as pessoas que desenvolveram o projeto, se elas têm seu próprio blockchain ou se a criptomoeda foi feita dentro de algum blockchain, se ela pode continuar existindo pelos anos ou se pode acabar sumindo com o tempo. A melhor medida é comprar com parcimônia e cuidado”, alerta.