Comportamento

Como usar critérios ESG para ganhar dinheiro com a renda variável?

Estudo aponta quais aspectos da agenda sustentável os investidores usam na hora de investir de forma responsável

Como usar critérios ESG para ganhar dinheiro com a renda variável?
Ações de investidores do Reino Unido acelera 'boom' de ESG; entenda. Foto: Envato Elements
  • Investidores têm buscado cada vez mais se alinhar à agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês) e aplicar recursos de forma responsável
  • Para montar uma carteira de investimentos pensando em ESG é importante considerar os planos de curto a longo prazo da companhia e não apenas a sua situação atual. Outro ponto relevante é investigar os custos socioambientais decorrentes da geração de valor financeiro
  • Há, também, tipos de abordagem para nortear a sua busca: de filtro, temática, impacto e engajamento. Não há ainda, porém, um critério central que ancore essa análise

O futuro do planeta virou uma preocupação constante quando o assunto é desenvolvimento. No contexto dos negócios, sobretudo na indústria de investimentos, essa questão se ancora na agenda ESG (governança ambiental, social e corporativa, na sigla em inglês). Investidores, de iniciantes a sofisticados, estão cada vez mais atentos à sustentabilidade, buscando meios de aplicar seus recursos de forma responsável a fim de alcançar melhores retornos ajustados ao risco.

Existem diferentes abordagens para selecionar ativos financeiros sob a ótica ESG. O estudo “Integração ESG no Processo de Investimento em Renda Variável”, antecipado ao E-Investidor com exclusividade pela CFA Society Brazil, apresenta o cenário atual dessa agenda no mercado de capitais, bem como abordagens que podem ser usadas para escolher investimentos a partir de decisões e compromissos éticos.

Ao aportar recursos em ações, por exemplo, os investidores não devem restringir o olhar apenas ao estágio atual da companhia na questão sustentável, mas sim ao planejamento de curto a longo prazo ao redor das boas práticas ESG.

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“Quando falamos em investir, olhamos para o momento atual e para o futuro”, observa Ana Siqueira, líder da comissão ESG da CFA Brazil. “A forma que a empresa gerou valor até agora não necessariamente é a mesma que ela vai conseguir gerar no futuro. Então é importante entender todas essas mudanças.”

Ou seja, embora uma companhia não esteja hoje tão bem posicionada dentro dos critérios ESG, é preciso analisar como ela planeja fazer essa adaptação ao longo do tempo. Pois, mesmo estando mal posicionada atualmente, se o plano traçado for bom e bem executado, ela poderá trazer um bom retorno de valor futuro.

A análise também deve considerar toda a atuação das companhias e suas externalidades para a sociedade, além de avaliar quais são os custos socioambientais decorrentes da geração de valor financeiro.

“Esse conhecimento, por parte dos investidores, é importante porque eles têm um poder muito grande de influenciar a forma como as empresas atuam, pois provêm capital para as companhias, seja através de investimento em ações ou financiamentos”, frisa Siqueira.

Exemplo disso é que, nos últimos anos, as empresas que se veem no centro de polêmicas ambientais ou sociais, como racismo ou falta de diversidade, têm sido cobradas a prestar contas com a sociedade. Cobrança esta que pode ser vista desde críticas nas redes sociais até a queda brusca do valor de ações na Bolsa e da credibilidade e confiança a longo prazo.

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Quando um homem negro foi morto por seguranças de uma loja do Carrefour Brasil em 19 de novembro de 2020, por exemplo, a empresa chegou a perder mais de R$ 2 bilhões em valor de mercado, devido à queda de mais de 5% das ações. Em 9 de dezembro daquele ano, a B3 informou que a S&P Dow Jones Indices decidiu excluir o Carrefour Brasil (CRFB3) de um índice que reúne ações de empresas comprometidas com boa governança e padrões mais rígidos de postura social e ambiental.

As estratégias para avaliação

Embora as opções de investimento tenham aumentado, nem todos os investidores sabem quais caminhos podem percorrer para ter acesso a bons rendimentos, decorrentes de investimentos éticos e responsáveis.

Pensando nisso, o E-Investidor lista a seguir algumas formas de selecionar investimentos a partir de critérios ESG.

Filtro

Uma das abordagens pode ser a adoção de filtros, positivos ou negativos, para selecionar as empresas. Com um filtro negativo, o investidor pode fazer a seleção excluindo as empresas que apresentam as piores performances na área sustentável. Por exemplo, emissão de gases poluentes, uso de energia “suja”. Com um filtro positivo, é possível selecionar as empresas que adotam as melhores práticas em relação aos seus concorrentes e adotar uma forma de classificação, como um rating de agências de risco, para escolher as melhores performances nos aspectos ESG.

Temático

Nesta abordagem, o investidor pode estabelecer uma estratégia de longo prazo para montar portfólio a partir de diferentes temas de sustentabilidade. O estudo da CFA mostra que, neste modelo, os temas mais associados aos critérios sustentáveis são eficiência energética, energias de fontes renováveis, gestão de água e saneamento, mudanças demográficas e climáticas, agricultura sustentável e agroflorestal, educação, saúde, finanças inclusivas e habitação social.

Impacto

Nessa modalidade, o investidor busca estratégias a partir da intenção de gerar algum impacto social ou ambiental positivo, e que seja mensurável. Como isso é feito? Aportando recursos para o financiamento de empresas que buscam solucionar problemas sociais e ambientais, por exemplo. Geralmente, esses desafios estão em setores como a agricultura sustentável, energia renovável, conservação, micro finanças e serviços básicos acessíveis, incluindo habitação, saúde e educação.

Engajamento

Esta abordagem está relacionada com o poder do investidor de engajar mudanças dentro das companhias, seja pelo voto em decisões coletivas ou mesmo pela capacidade de influência junto a outros acionistas. Para isso, é preciso estabelecer diálogo efetivo com as empresas a fim de se alcançar as mudanças positivas pretendidas. Por exemplo, aumentar o grau de diversidade na estrutura organizacional e decisória, como os conselhos de administração.

Integração ESG nos investimentos

O mercado financeiro vem evoluindo quanto a oferta de produtos alinhados aos critérios ESG, portanto, há diversas formas de integrar a agenda na carteira de investimentos.

“É possível investir via ações de empresas bem posicionadas nos critérios ESG. Temos visto fundos de ações com critérios rígidos em relação a quais papéis pode-se ou não investir, com diferentes estratégias e filtros, analisa Marcela Ungaretti, head de ESG do time de Research da XP.

A B3, por exemplo, possui o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), formado por ações de empresas que atendem aos critérios definidos pela Bolsa de valores brasileira quanto à sustentabilidade empresarial. No acumulado de 2023, o índice entrega rentabilidade de 5,7%. O Ibovespa, principal índice da bolsa, por sua vez, tem alta de 1% no ano.

“O mercado de renda fixa também tem uma evolução no sentido de emissões verdes, como os green bonds, que são empresas que pegam financiamento dedicado a algum projeto que se encaixe como verde”, diz Ungaretti.

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Embora a temática sustentável tenha ganhado mais espaço na indústria de investimentos, há que se considerar que nem todas as pessoas já estão preparadas para lidar com esse tipo de tema e tomar decisões. Sobre como investidores menos experientes podem iniciar essa jornada, André Massaro, professor da B3 Educação, aconselha buscar informações públicas, como notícias, relatórios das empresas de resultados.

Esse trabalho não é fácil pois ainda há um problema de disponibilidade, padronização e qualidade dessas informações. “Não temos um conjunto de parâmetros e métricas, que seja amplamente aceito no mercado financeiro. Há várias tentativas em andamento de tentar criar esses parâmetros, mas ainda não existe”, aponta Massaro.

Siqueira, da CFA, reforça que não existem empresas perfeitas nessa agenda, sobretudo em cada uma das letras da sigla. Questionada em qual poderia ser priorizada nas análises, ela sugere que a governança pode ser um farol.

“Conhecer a governança da empresa é um excelente mitigador de riscos. Do ponto de vista da pessoa física, esse aspecto é o pilar central. Quando se tem uma cultura organizacional ética, uma cultura forte de valores e uma gestão eficiente, o nível de conforto é maior”, diz Siqueira.

Não é possível afirmar quais serão os rumos da pauta ESG dentro e fora do Brasil. Como destaca o estudo da CFA, os temas socioambientais e de governança, assim como os modelos de negócio, mudam ao longo do tempo. Por isso, é importante que os investidores estejam cada vez mais antenados com as tendências de investimento responsável. Afinal, a busca por sustentabilidade não deve partir apenas das empresas e instituições financeiras, mas também daqueles que vão aportar recursos em prol dessa mudança: os investidores.

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