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Comportamento

EUA distribui bilhões para quem comprar veículos elétricos

Motoristas dizem que problemas com reabastecimento os fazem questionar se podem abandonar os veículos a gasolina

EUA distribui bilhões para quem comprar veículos elétricos
Boa parte dos carregadores públicos de carros elétricos nos EUA está com problemas. Foto: Envato Elements
O que este conteúdo fez por você?
  • Um estudo recente descobriu que cerca de 25% dos postos de recarga públicos na região da Baía de São Francisco não estavam funcionando
  • Alguns motoristas frustrados dizem que os problemas os fazem questionar se podem abandonar totalmente os veículos movidos a gasolina
  • Estudos mostram que os postos de recarga públicos são uma das principais preocupações das pessoas quando pensam em comprar um carro elétrico

Niraj Chokshi, The New York Times – O governo federal dos Estados Unidos está distribuindo bilhões de dólares para incentivar as pessoas a comprarem veículos elétricos. As montadoras estão construindo novas fábricas e procurando por matérias-primas em todo o mundo. E há tanta gente querendo um deles que a lista de espera para carros movidos a bateria já está acumulada em três meses.

A revolução dos veículos elétricos está quase acontecendo, mas seu início está atrasado por um problema básico: os carregadores onde as pessoas reabastecem esses carros com frequência estão quebrados. Um estudo recente descobriu que cerca de 25% dos postos de recarga públicos na região da Baía de São Francisco, na Califórnia, onde os carros elétricos são comuns, não estavam funcionando.

Uma importante iniciativa está em curso para construir centenas de milhares de postos de recarga públicos – só o governo americano está gastando US$ 7,5 bilhões. Mas motoristas de carros elétricos e analistas disseram que as empresas que instalam e mantêm esses carregadores precisam fazer mais para garantir que as novas instalações e as mais de 120 mil existentes sejam confiáveis.

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Muitos deles ficam em estacionamentos ou em frente a lojas, onde muitas vezes não há ninguém para que se possa pedir ajuda quando algo dá errado. Os problemas incluem telas quebradas e software com erros. Alguns carregadores param de funcionar no meio da recarga, enquanto outros sequer começam.

Alguns motoristas frustrados dizem que os problemas os fazem questionar se podem abandonar totalmente os veículos movidos a gasolina, sobretudo para deslocamentos maiores.

“Muitas vezes esses postos de recarga rápida têm problemas reais de manutenção”, disse Ethan Zuckerman, professor da Universidade de Massachusetts Amherst, que é dono de um Chevrolet Bolt há vários anos. “Quando isso acontece, você se vê rapidamente em apuros.”

No inverno de 2020, Zuckerman dirigia cerca de 240 quilômetros em cada trecho do deslocamento de casa para o trabalho no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O clima frio do inverno pode reduzir o quanto carros elétricos conseguem percorrer com cada carga de bateria, e Zuckerman se viu precisando de uma recarga no caminho para casa.

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Ele pesquisou na internet e encontrou um posto de recarga, mas quando estacionou no lugar, a máquina estava quebrada. Outra, do outro lado da rua, também estava sem funcionar, disse ele. Em meio ao desespero, Zuckerman foi até um posto de gasolina próximo e convenceu um funcionário do local a conectar um cabo de extensão até o carro.

“Fiquei sentado por lá durante duas horas e meia no frio congelante, carregando o carro o suficiente para que eu pudesse chegar até a cidade de Lee, Massachusetts, e depois usar outro carregador”, disse ele. “Não foi das melhores noites.”

A disponibilidade e a confiabilidade dos postos de recarga públicos continuam sendo um problema até hoje, disse ele.

A maioria dos donos de veículos elétricos faz a recarga deles principalmente em casa. Eles recorrem aos postos de recarga pública bem menos do que as pessoas com carros convencionais usam postos de gasolina. Muitos também relatam poucos problemas com carregadores públicos ou estão mais do que dispostos a ignorar os contratempos. E a maioria dos veículos movidos a bateria na estrada hoje são produzidos pela Tesla, que tem uma rede de postos de recarga própria, que, segundo analistas e motoristas, tende a ser confiável.

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Mas tudo isso está mudando. As vendas de veículos elétricos estão crescendo depressa, conforme as montadoras consagradas lançam novos modelos. Alguns desses carros serão comprados por americanos que não vão poder recarregar os veículos em casa porque não têm a possibilidade de instalar um carregador doméstico.

Estudos mostram que os postos de recarga públicos são uma das principais preocupações das pessoas quando pensam em comprar um carro elétrico. A outra grande preocupação é o problema relacionado a quanto um carro pode percorrer com uma carga completa.

Mesmo aqueles que já são donos de um carro elétrico têm essas preocupações. Cerca de um terço deles diz que carregadores quebrados eram pelo menos uma “preocupação moderada”, de acordo com uma pesquisa da Plug in America, organização sem fins lucrativos que apoia o uso desses veículos.

“Se quisermos que a adoção de veículos elétricos continue aumentando, como eu gostaria, precisamos resolver esse problema”, disse Joel Levin, diretor-executivo da Plug in America.

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A urgência não passa em branco pela indústria automotiva.

A Ford Motor começou a enviar prestadores de serviços que ela chama de “anjos da guarda dos carregadores” para testar os postos de recarga com os quais trabalha para fornecer energia às pessoas que compram seus veículos elétricos. Ao contrário da Tesla, a Ford não constrói nem opera seus próprios postos de recarga.

No primeiro semestre, um dos testadores dessa equipe, Nicole Larsen, estacionou em uma fileira de carregadores em um shopping em Long Island, Nova York, conectou seu Mustang Mach-e e começou a trabalhar. Nicole observava enquanto um laptop registrava um fluxo detalhado de dados trocados entre o carregador e o veículo, e começou a escrever suas próprias observações.

Os carregadores, construídos e operados pela rede Electrify America, uma divisão da Volkswagen, estavam funcionando bem naquele dia. Mas Nicole disse que um deles havia exibido uma mensagem de erro no dia anterior. Quando isso acontece, Nicole avisa aos técnicos da Ford, que trabalham com a empresa de recarga para corrigir o problema.

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Nicole diz que, pela sua experiência, os problemas não são comuns, mas surgem o bastante para que ela às vezes consiga identificá-los só de olhar os carregadores. “Posso dizer de antemão: este aqui vai me mostrar uma mensagem de erro na tela”, afirmou.

Existem poucos estudos rigorosos sobre postos de recarga, mas um realizado este ano pela Cool the Earth, organização sem fins lucrativos de defesa ambiental na Califórnia, e David Rempel, professor aposentado de bioengenharia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, descobriu que 23% dos 657 postos de recarga públicos na área da Baía de São Francisco estavam quebrados.

Os problemas mais comuns registrados pelos testadores eram não aceitar o pagamento ou não conseguir iniciar a recarga. Em outros casos, as telas ficavam completamente em branco, não respondiam a qualquer comando ou exibiam mensagens de erro.

“Aqui temos dados de campo reais, e os resultados, sinceramente, foram muito preocupantes”, disse Carleen Cullen, diretora-executiva da Cool the Earth.

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As empresas de postos de recarga contestam os resultados. A Electrify America disse que houve erros metodológicos com o estudo, e a EVgo, que opera uma rede de postos de recarga, disse que não conseguia replicar os resultados do estudo.

Outra grande empresa do setor, a ChargePoint, teve uma taxa de sucesso de apenas 61%. A empresa raramente é a dona ou quem opera os carregadores que instala em nome de empresas comerciais, embora ofereça manutenção sob garantia. Esse modelo de negócio está repleto de problemas, segundo os críticos, porque atribui responsabilidade aos proprietários, que podem não ter a experiência ou o compromisso necessários para gerenciar o equipamento. A ChargePoint não respondeu às solicitações de posicionamento.

A EVgo e a Electrify America dizem que levam a sério a confiabilidade e fazem com que os funcionários fiquem de olho nos postos de recarga a partir de salas de controle centrais, de onde podem enviar rapidamente técnicos para corrigir problemas. “Eles não estão abandonados por aí”, disse Rob Barrosa, diretor sênior de vendas, desenvolvimento de negócios e marketing da Electrify America. “Não dá para apenas configurá-los e esquecê-los.”

Mas nem tudo está sob o controle deles. Embora essas empresas testem os carregadores com vários veículos elétricos, problemas de compatibilidade podem exigir alterações nos carregadores ou nos carros.

Mesmo os postos de recarga que pertencem a empresas como a EVgo e a Electrify America costumam ficar sem supervisão durante longos períodos. Na maioria dos postos de gasolina, um funcionário geralmente está de plantão e pode dar uma olhada quando surge algum problema. No caso dos carregadores, o vandalismo ou outros danos podem ser mais difíceis de se monitorar.

“Onde há uma tela, há um taco de beisebol”, disse Jonathan Levy, diretor comercial da EVgo.

É um problema que faz lembrar do início da internet, quando modems difíceis de operar e linhas telefônicas antigas eram capazes de tornar o acesso a sites e o envio de e-mails um exercício irritante. As indústrias de automóveis e de postos de recarga esperam em breve superar esses problemas, assim como os setores de telecomunicações e tecnologia tornaram o acesso à internet muito mais confiável.

O projeto de lei com medidas para combate às mudanças climáticas e incentivo à energia limpa que o Congresso americano aprovou este mês inclui créditos fiscais para compras de carros elétricos e carregadores. E no ano passado, os legisladores aprovaram uma lei de infraestrutura que destinou US$ 7,5 bilhões do orçamento federal para ajudar a construir postos de recarga públicos. Ao haver mais carregadores disponíveis, isso significa que os motoristas terão muito menos chances de ficar desamparados ou frustrados se o primeiro ou o segundo onde tentarem recarregar seus veículos não estiverem funcionando.

A verba também vem com a exigência de que os carregadores sejam funcionais 97% do tempo e sigam os padrões técnicos de comunicação com os veículos. Esses postos de recarga também devem ser capazes de atender simultaneamente pelo menos quatro veículos e não devem se limitar a nenhuma marca automotiva.

A Tesla também deve lançar seus carregadores para carros de outras montadoras nos EUA, o que já fez em alguns países europeus. Entretanto, especialistas em automóveis disseram que o bom funcionamento da rede da Tesla se deve em parte ao fato de seus carregadores serem projetados para os carros da empresa. Não há garantia de que os veículos produzidos por outras montadoras vão funcionar sem problemas com o equipamento para recargas da Tesla.

Por enquanto, muitos donos de automóveis dizem que não têm muita dificuldade com os carregadores públicos ou estão tão satisfeitos com a forma como seus veículos movidos a bateria funcionam que jamais considerariam voltar aos modelos movidos a gasolina.

Travis Turner é recrutador do Google na região da baía de São Francisco e recentemente trocou seu Tesla Model S por uma picape Rivian R1T. O veículo não parece funcionar bem com carregadores da rede EVgo, diz ele.

Mas Turner disse que isso não o incomodou tanto, pois já deu um jeito e acha que sua picape Rivian é muito melhor que qualquer outro carro que teve antes. Ele também está confiante de que os demais inconvenientes serão resolvidos em breve. “Estamos apenas no começo disso tudo”, disse ele. “Daqui para frente só vai melhorar.” /Tradução de Romina Cácia

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