Comportamento

Que tal transformar Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo em um FUTC?

Como funcionaria os FuteCoins, a venda de cotas de boleiros planejada pelo Mercado Bitcoin

Que tal transformar Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo em um FUTC?
Neymar no Paris Saint Germain. (Foto: Benoit Tessier/Reuters)
  • Com o FuteCoin, empresa quer vender frações dos direitos dos clubes decorrentes do Mecanismo de Solidariedade da Fifa
  • A ideia é criar uma cesta de jogadores em vez de permitir o investimento em um único atleta, para diminuir os riscos
  • Se os direitos sobre o Neymar fossem tokenizados, os detentores dos tokens receberiam uma parcela do valor que o Santos tem direito em uma eventual transferência do atleta

(Murilo Basso, especial para o E-Investidor) – Unir a paixão do brasileiro pelo futebol à possibilidade de obter ganhos financeiros oriundos do esporte. É o que pretende a exchange brasileira Mercado Bitcoin com o FuteCoins (FUTC).

A ideia do projeto, ainda sem data de lançamento, é vender frações dos direitos que os clubes formadores dos atletas detêm. Esses direitos são decorrentes do Mecanismo de Solidariedade da Fifa, previsto desde o início dos anos 2000 no Regulamento de Transferências da organização. Resumidamente, os times pelos quais o jogador passou até completar 23 anos recebem, em divisão proporcional, até 5% do valor total de cada transferência internacional do atleta.

Para fazer jus ao mecanismo, o clube deve seguir alguns requisitos, como fornecer programa de treinamento nas categorias de base, manter alojamento e instalações desportivas em condições adequadas, participar anualmente de pelo menos duas categorias de campeonatos oficiais e ter ficado com o atleta em formação inscrito por, ao menos, um ano, para citar algumas regras.

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Com o FuteCoin, o mercado Bitcoin, por meio da unidade de negócios MB Digital Assets, quer tokenizar (ou seja, vender frações digitais de ativos reais) e comercializar direitos de “boleiros” da base. “Um investidor ou torcedor interessado em investir poderá comprar frações desses direitos e ser recompensado quando houver uma transferência”, afirma Fabrício Tota, diretor do Mercado Bitcoin, que reforça que se trata de uma possibilidade de diversificação de investimentos, com exposição em um mercado que costuma ser de difícil acesso para o investidor “comum”.

Tota ressalta, entretanto, que o rendimento é incerto e dependerá da concretização de uma transferência, que também ocorre por uma série de condições, como desempenho do atleta, do seu clube atual e da maneira como o jogador pode se encaixar em outras equipes.

Como funcionaria o futecoins?

O diretor do Mercado Bitcoin lembra que o futebol é uma área que sempre atraiu atenção, seja pela paixão do brasileiro pelo esporte ou ainda pelo grande volume de dinheiro transacionado. Acompanha-se não somente as partidas e os bastidores do seu clube de coração, mas também as movimentações financeiras que ocorrem. Na prática, contudo, como funcionaria o FuteCoin?

“Para citar um exemplo emblemático, especula-se que o Neymar [hoje no francês Paris Saint-Germain] possa retornar em breve ao Barcelona. Caso a transação de fato se concretize, o Santos, clube formador, terá direito a 4% do valor da transferência. Se esses direitos fossem tokenizados, os detentores dos tokens receberiam uma parcela desse valor”, diz Tota.

O executivo afirma que a ideia da empresa é criar uma cesta de jogadores em vez de permitir o investimento em um único atleta. Ele diz que dessa forma os riscos seriam mitigados. O investimento em um único esportista poderia se tornar problemático caso o jovem sofresse uma contusão mais séria, por exemplo. Se o investimento for realizado em vários jogadores, o risco é atenuado.

O FuteCoin não seria o primeiro token emitido pelo Mercado Bitcoin. Atualmente, o portfólio de ativos alternativos da empresa conta com tokens de precatórios (dívidas da Fazenda Pública com particulares) e de consórcios, com investimentos a partir de R$ 100. Enquanto os primeiros oferecem retornos esperados de 16% ao ano e pagamento final estimado entre nove e 48 meses, as cotas de consórcio já são contempladas e têm pagamento previsto em menos de 180 dias, com retorno estimado de 8,9% ao ano. Tota diz que a empresa também pretende listar tokens relacionados a outros tipos de direitos creditórios, ao mercado imobiliário, de energia, entre outros.

Bitcoins para iniciantes

Por mais que Bitcoins seja um assunto cada vez mais discutido, ele ainda soa como grego para muitas pessoas. O Bitcoin, contudo, nada mais é que do que uma moeda digital, descentralizada e que pode ser usada tanto como meio de pagamento quanto como investimento.

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O Bitcoin foi a primeira criptomoeda (que se utiliza da criptografia) criada. Tem, ainda, a transparência como uma de suas premissas. Seu valor é calculado com base em fatores como oferta e procura, aceitação e papel no mercado e o aumento no número de carteiras digitais.

“Qualquer um pode criar criptomoedas. Posso conferir o valor que quiser, desde que haja demanda para aquele valor, e consigo continuar vendendo. Depois, quando os compradores tiverem essas criptomoedas dentro da carteira delas, podem negociar com outros que quiserem comprar”, explica o professor Johnny Silva Mendes, que leciona nos cursos de Economia e Administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Basicamente:

1) o Bitcoin não é físico e só existe virtualmente, pois se trata de um código. É possível trocar as criptomoedas por reais, euros, dólares ou outras moedas nacionais, mas apenas em transações realizadas digitalmente. O limite estimado de Bitcoins, definido por seu algoritmo, é de 21 milhões – e só se deve chegar a essa quantia por volta do ano 2140;

2) Qualquer desenvolvedor pode ter acesso ao código-fonte do Bitcoin e verificar como ele funciona;

3) Não existe um banco por trás do Bitcoin, uma vez que sua rede não é controlada por uma autoridade central.

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A rede onde os Bitcoins podem ser trocados é chamada de blockchain. Trata-se de uma rede aberta, onde os interessados podem fazer essa troca e registrá-la. Fabrício Tota diz que a blockchain surgiu com o Bitcoin e se trata de uma espécie de “livro-razão”, com informações completas sobre transações e saldos da rede. Já Mendes complementa dizendo que não há necessidade de um terceiro para trocar as moedas, sendo possível indicar diretamente o número de registro para a outra pessoa, que saberá exatamente a quantia enviada. Além de públicas, as transferências são, portanto, descentralizadas, ao contrário do que ocorre nas instituições financeiras tradicionais.

Existe, ainda, o token – caso do FuteCoin ou FUTC. Há quem confunda o elemento com uma moeda digital, mas esse não é o caso. Tota esclarece que enquanto as criptomoedas não possuem um valor intrínseco, o token, tipicamente, está vinculado a um ativo real ou possui algum tipo de utilidade, como o acesso a um serviço. Já a tokenização seria o processo de criar a representação digital de um ativo real, do ponto de vista tecnológico e jurídico. Por isso, é possível traçar paralelos com a Bolsa de Valores.

“Com o ambiente de negociação [como a Bolsa], sim. O Mercado Bitcoin, por exemplo, entre outras atividades, é uma bolsa de negociação de ativos digitais. Possui e controla o livro de ofertas e registra os negócios realizados. Os ativos digitais negociados, contudo, em nada se assemelham a ações”, esclarece o diretor da empresa.

Por onde começar?

O primeiro passo para quem quer começar a investir em criptomoedas é pesquisar as exchanges, que funcionam como se fossem corretoras, e verificar qual é a reputação dessas empresas, inclusive em órgãos como o Reclame Aqui. “Essas exchanges não são monitoradas pelo Banco Central (BC) atualmente, ainda que a instituição e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) [órgão fiscalizador do mercado de capitais] já tenham feito notas permitindo que alguns fundos possam comprar de outros fundos que negociem criptomoedas lá fora. Quando troco reais por criptos, é enviado para a CVM o volume negociado. Também sou obrigado a declarar o que possuo de criptomoedas no meu Imposto de Renda”, diz Mendes.

O professor da Faap reforça ainda que pelo fato de qualquer um poder criar criptomoedas, o cuidado que se deve ter é descobrir qual é o projeto e objetivo por trás de cada uma delas. E, ao contrário do Bitcoin, nem todas têm blockchain. “Ao longo dos anos, você percebe que algumas criptomoedas que têm projetos sérios por trás têm negociado um determinado valor, e esse valor tem sido relativamente estável. Para descobrir isso, é importante saber quem são as pessoas que desenvolveram o projeto, se elas têm seu próprio blockchain ou se a criptomoeda foi feita dentro de algum blockchain, se ela pode continuar existindo pelos anos ou se pode acabar sumindo com o tempo. A melhor medida é comprar com parcimônia e cuidado”, sugere ele.

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