Comportamento

O que “Game dos Clones” ensina sobre negócios e economia

O programa de namoro apresentado por Sabrina Sato pode servir de exemplo para conceitos de economia

O que “Game dos Clones” ensina sobre negócios e economia
Sabrina Sato como apresentadora do reality show Game dos Clones, do Amazon Prime Video (Foto: Endemol Shine Brasil)
  • O programa lançado recentemente pela Amazon Prime Video traz uma diferença interessante dos tradicionais reality shows de namoro
  • Os competidores são sete “clones”, similares na aparência e com roupas idênticas, escolhidos e “montados” com base na descrição de par ideal do solteiro ou solteira em disputa
  • Com um olhar mais apurado, no entanto, percebe-se que o programa pode servir de exemplo para conceitos de economia e até mesmo transmitir ensinamentos sobre negócios

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Uma pessoa solteira que precisa escolher seu par ideal, entre vários pretendentes e após uma série de encontros e outros testes. Essa é a premissa de muitos reality shows de namoro que há décadas fazem parte da programação televisiva do mundo todo.

Mas “Game dos Clones”, lançado recentemente pela Amazon Prime Video e com exibição também na rede aberta, pela Record, traz uma diferença interessante: os competidores são sete “clones”, similares na aparência e com roupas idênticas, escolhidos e “montados” com base na descrição de par ideal do solteiro ou solteira em disputa.

No fim das contas, a lição que fica é que o que faz uma pessoa interessante está além da aparência. O objetivo do programa é, obviamente, entreter. E nisso a atração, que tem a veterana de reality show Sabrina Sato como apresentadora, se sai muito bem. Se “Game dos Clones” for analisado a partir de um olhar mais apurado, entretanto, percebe-se que ele pode servir de exemplo para conceitos de economia e até mesmo transmitir ensinamentos sobre negócios. Confira:

Concorrência, oferta e demanda

Há sete pessoas que disputam o coração de apenas uma. A oferta diz respeito à quantidade de um produto ou serviço que se encontra disponível no mercado para ser adquirido, enquanto a demanda está relacionada à quantidade de produtos ou serviços que o consumidor quer (ou está disposto) a comprar.

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Quando há mais demanda do que oferta, o preço de venda do produto ou serviço acaba sendo ajustado para mais. Na situação inversa, produto ou serviço têm seu preço reduzido. O equilíbrio, por sua vez, ocorre quando existe a mesma quantidade de produto disponível e de consumidores que estão dispostos a adquiri-lo.

“Nesse tipo de concorrência, somente a melhor empresa conseguirá obter sucesso e fechar sua conta. Isso nos explica como o mercado pode funcionar em épocas de crise, incluída aqui a causada pela pandemia do coronavírus. Vamos usar um exemplo: uma loja que vende roupas de festa tem uma oferta grande de produtos mas pouca demanda no momento, em virtude do cenário vivido. O que isso nos faz pensar? Que os excedentes, e no caso do reality show isso se refere aos participantes que não foram escolhidos, devem repensar sua estratégia ou trajetória”, afirma a administradora Emanuelle Nava Smaniotto, docente da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Jaércio Barbosa, head da Incubadora de Negócios da ESPM São Paulo comenta que ainda que a lógica inicial seja a de redução de preços, empresas que enfrentam casos de concorrência como a verificada em “Game dos Clones” costumam lançar mão de duas estratégias. A primeira, obviamente, está baseada em preços. Aqui, a companhia busca atrair o comprador vendendo-se como mais barato, mais acessível.

“Mas tem outro tipo de estratégia, que é a do ‘compre o meu produto porque eu sou melhor, sou diferenciado, agrego valor’. Geralmente, essa é uma abordagem que chamamos de ‘abordagem de diferenciação’. A empresa tenta mostrar, em um cenário onde todos os produtos parecem iguais, por que o que ela oferta é o melhor para o público”, diz.

Diferencial

Quando se assiste ao reality “Game dos Clones”, observa-se que a estratégia usada pelos concorrentes, ainda que inconscientemente, é a diferenciação comentada por Barbosa. Isso porque a lição que o programa passa, como já mencionado, é a de que não é somente a aparência que importa. Os diferenciais dos participantes podem ser vários: senso de humor, afinidade com a família, inteligência, entre outros.

Na hora de montar um negócio, pensar na diferenciação também é importante, principalmente quando se trata de uma empresa que não é inédita no mercado – uma pizzaria ou uma hamburgueria, por exemplo. Mas como chegar a esse diferencial? O professor da ESPM diz que o caminho ideal é colocar o cliente no centro da decisão. Para tanto, é preciso que o empresário defina e conheça muito bem qual é o seu público-alvo e o que ele procura.

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“A ideia é colocar o cliente, a pessoa que você está tentando convencer, no centro do processo decisório, e relacionar-se com ela, trazê-la para o seu produto e para o seu negócio. Você precisa, portanto, entender o que ela está buscando. Quais são as dores e as dificuldades relacionadas ao seu produto ou serviço? Depois que você entende isso, precisa comunicar esse diferencial. O que o meu cliente busca é uma pizza com mais queijo? Eu ofereço. É uma pizza com ingredientes orgânicos? Eu ofereço. Tudo isso depende de quem é o seu público-alvo e de qual é a persona da sua empresa”, explica Barbosa.

Emanuelle orienta que se faça uma análise estratégica da empresa e do macroambiente onde ela está inserida. Significa que além de conhecer seu cliente, é preciso conhecer seus concorrentes, como eles se destacam e trabalham, bem como compreender quais são os produtos substitutos que podem impactar no produto ou negócio.

“Para se destacar, não é necessário fazer grandes investimentos; basta procurar captar o seu público por uma memória afetiva, por um propósito ou por uma estrutura de lugar e produto criativa! O café onde os protagonistas da série ‘Friends’ se encontram, por exemplo, é um ambiente aconchegante e que gera uma memória afetiva para todos. Um restaurante pode optar por trabalhar com ingredientes sem procedência animal, lançar mão de uma decoração que remeta a estabelecimentos antigos ou que esteja ligada ao tema de um seriado ou filme. O ponto é ser criativo e saber vender esse diferencial para o público, pois o diferencial, sem dúvida, minimiza as chances de escassez”, pontua a professora da Unisinos.

Leia também: Lições de 7 negócios fictícios para empreendedores reais

A importância do marketing

Se “vender” corretamente o diferencial para o público é crucial para o sucesso de um negócio, pode-se afirmar, desta forma, que as empresas precisam ter uma boa estratégia de marketing.

Em “Game dos Clones”, a lógica é essa: em meio a uma imensa concorrência, o candidato que não sabe vender seu peixe – ou, nesse caso, a si próprio – tem chances maiores de ser dispensado primeiro. Somado a isso, Emanuelle lembra que o mercado possui informação assimétrica, ou seja, a empresa sabe mais sobre si próprio do que o mercado e o público sabem.

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“A partir desse pressuposto, as empresas devem se comunicar com o mercado da melhor forma possível como estratégia para minimizar a assimetria de informação e conseguir estabelecer um canal de comunicação sólido, transparente e de confiança, no qual o consumidor consiga compreender a atuação e propósito da companhia, bem como quais produtos e serviços ela oferta e quais são seus diferenciais. Sem marketing, a empresa gera valor e produz, mas o mercado não fica sabendo. Assim o ‘match perfeito’ entre oferta e demanda não acontece”, alerta.

O papel do instinto

Apesar disso tudo, no fim das contas, “Game dos Clones” é uma competição de namoro e envolve sentimento. Por mais que os competidores tentem traçar um caminho, uma estratégia mais racional, o solteiro ou solteira cobiçada, muitas vezes, decide-se pelo instinto. Nos negócios, isso também acontece. Isso porque quem comanda uma empresa ainda é uma pessoa de carne e osso. Mas até que ponto deve-se deixar guiar pelo instinto e em que momentos é melhor ser puramente racional?

“Há vários estudos que falam sobre o instinto do líder e como o instinto é muito importante. Ele parece ser algo abstrato, até místico, mas na verdade não é. Os grandes líderes, ao longo do seu processo de vida e sua experiência, desenvolvem esse instinto, essa capacidade de reunir informações com base no que ele vê, nas informações que tem, nas conversas que já travou. Isso faz com que o processo decisório desse líder seja melhor e mais rápido. O instinto pode, portanto, ser desenvolvido”, comenta Jaércio Barbosa, da ESPM.

Por outro lado, o especialista alerta que tomar decisões baseadas exclusivamente no instinto é uma manobra perigosa. Números, dados, informações e trocas de
conhecimento também devem ser levados em conta. Ouvir clientes, colaboradores e sócios também é necessário.

“No caso do reality show de namoro, a decisão final do solteiro vai ser instintiva. Ao mesmo tempo, será reflexo do processo de construção que ele viveu naquele período do programa, as conversas que teve com todos os clones, os encontros. Episódios passados de sua vida também vão ter influência, como outras relações, decisões erradas que já foram tomadas”, pontua.

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