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Comportamento

Lições de 7 negócios fictícios para empreendedores reais

Um exemplo é o Central Perk, de 'Friends', cujo trunfo foi fazer do local não um mero café, mas uma experiência

Lições de 7 negócios fictícios para empreendedores reais
Imagem de divulgação do Central Perk, café da série Friends (Warner/Divulgação)
O que este conteúdo fez por você?
  • Além de despertar a nossa imaginação quanto ao ambiente e produtos, aos olhares mais atentos os negócios das telinhas e telonas também dão conta de passar valiosas lições de negócios a empreendedores reais
  • Um ótimo exemplo é o Central Perk, de 'Friends', cujo trunfo foi fazer do local não um mero café, mas uma experiência, com seus grandes sofás e poltronas, com a maior cara de “casa de vó”, além de fidelizar uma boa base de clientes
  • Confira esta lista que o E-Investidor preparou com lições de sete negócios fictícios para te ajudar a empreender

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Os seriados, filmes e desenhos animados estão repletos de negócios fictícios que, invariavelmente, despertam a curiosidade do telespectador. Que aficionado por cultura pop nunca desejou, ao menos uma vez, tomar um café naquelas canecas enormes do Central Perk, de “Friends”, ou comer um hambúrguer de siri bem temperado na lanchonete mais conhecida da Fenda do Biquíni, o Siri Cascudo de “Bob Esponja Calça Quadrada”?

Mas além de despertar a nossa imaginação quanto ao ambiente e produtos, aos olhares mais atentos os negócios das telinhas e telonas também dão conta de passar valiosas lições de negócios a empreendedores reais. E não importa se a produção é nova ou mais antiga, já que muitos desses ensinamentos são atemporais. Confira:

Cuidado: spoilers!

1. Central Perk – “Friends” (1994 – 2004)

Não é exagero dizer que o Central Perk, café onde os personagens de “Friends” costumavam se encontrar em Nova York, era tão protagonista da série quanto o sexteto de amigos moradores de West Village. O confortável sofá laranja, as enormes canecas de café, o barista/gerente Gunther e seus cabelos oxigenados… Quem acompanhou as 10 temporadas do seriado se sentia tão frequentador do estabelecimento quanto Monica, Rachel, Phoebe, Joey, Chandler e Ross.

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O grande trunfo do Central Perk foi fazer do local não um mero café, mas uma experiência, com seus grandes sofás e poltronas, com a maior cara de “casa de vó”, além de fidelizar uma boa base de clientes. Imagine só quantos cafés não existem na gigantesca Nova York e mesmo assim os personagens batiam ponto praticamente diariamente nesse estabelecimento.

Emanuelle Nava Smaniotto, administradora e coordenadora da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), afirma que cada vez mais as pessoas buscam o consumo com significado. Segundo ela, essa procura pode ter diversos desdobramentos, sendo que um deles está conectado à experiência do usuário e à sensação de pertencimento. Foi nesse ponto, diz a especialista, que o Central Perk de “Friends” se desenvolveu, uma vez que a maioria das pessoas possui uma memória afetiva relacionada às casas de avós, tias ou de uma casa de férias aconchegante.

“Na correria do dia a dia, sentar para tomar um café significa mais do que apenas suprir uma condição alimentar. Tomar um café está ligado a um ritual para descansar, trabalhar de forma diferente ou, então, para encontrar amigos e descontrair. Os pequenos empreendedores devem entender que não precisam de grandes investimentos para gerar essas diferenciadas experiências para o usuário. Uma decoração simples e aconchegante, como o exemplo do Central Perk, pode ser o suficiente. Já vi cafés e restaurantes se utilizando até de coleções que os próprios proprietários possuem, como brinquedos antigos ou discos de vinil. O importante é criar uma identidade diferenciada e proporcionar essa sensação de pertencimento para um grupo definido de personas”, comenta.

2. Siri Cascudo – “Bob Esponja Calça Quadrada” (1999 – atualidade)

Na Fenda do Biquíni, um restaurante é rei: trata-se do Siri Cascudo, que tem o hambúrguer de siri como seu carro-chefe. É o prato que faz com que a lanchonete seja um sucesso no fundo do mar. A receita da iguaria é mantida em segredo por Seu Siriguejo, o proprietário, e por Bob Esponja, que trabalha no local. Plankton, o vilão e concorrente, quase vai à loucura e se mete nas maiores enrascadas para consegui-la, sempre sem sucesso.

Ter um diferencial, portanto – nesse caso específico, o hambúrguer de siri -, é muito importante para um negócio. Fernando Domingues, coordenador do StartupLab da Escola Superior de Propaganda e Marketing em São Paulo (ESPM), diz que nenhum negócio sobrevive ou prospera sem uma vantagem competitiva muito clara em relação aos seus competidores, que podem ser concorrentes diretos ou até mesmo soluções pré-estabelecidas – caso do táxi e do transporte público em relação ao Uber, por exemplo.

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“Busque qual é o problema que você resolve que os outros caras não resolvem: é assim que se encontra o diferencial. E se você não tem um diferencial, não deveria montar um negócio. A gente tem que criar negócios não para competir, mas para ganhar – e para ganhar, naturalmente você estará competindo. Ao abrir um negócio sem diferencial, a chance de se manter relevante é muito baixa. É preciso entender que ‘dores’ você vai resolver dos clientes”, diz.

Outra característica marcante do Seu Siriguejo é o fato de ele levar as finanças à risca, buscando, ao mesmo tempo, lucrar e economizar ao máximo. Ser organizado com as finanças é crucial para um empreendedor, mas é preciso, também, tomar cuidado para não explorar os colaboradores e não deixar que a procura pelo lucro a todo custo lhe cegue.

“Se você enganar seus clientes ou explorar funcionários, não vai continuar fazendo o que faz por muito tempo. No desenho isso não aparece de forma clara, é o que sempre acontece. A filosofia que muitas startups têm trabalhado hoje é de que o lucro não é um fim, mas um meio. Você ter uma boa taxa de lucro em cima do seu negócio é o que vai fazer dele perene; não é o lucro que se busca, mas o crescimento do negócio”, complementa Domingues.

3. The Gaslight Café – “A Maravilhosa Sra. Maisel” (2017 – atualidade)

É no Gaslight Café, localizado no Greenwich Village, em Nova York, que os fãs de “A Maravilhosa Sra. Maisel” acompanham Miriam “Midge” Maisel ir de uma dona de casa entediada recém-separada do marido a uma estrela do stand-up comedy, debochada e inteligente.

O que muitos não sabem é que o estabelecimento é inspirado num bar real, de mesmo nome, que funcionou entre o fim dos anos 1950 e início dos anos 1970, onde artistas folk e da geração beat se apresentavam – nomes, inclusive, como o de Bob Dylan passaram por lá.

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O ponto principal do negócio é o fato de ele, com sua aura despojada, ser segmentado: quem vai ao bar sabe muito bem o gênero de apresentações que vai encontrar, como é o público frequentador – tipos à la Jack Kerouac -, e que a alta cozinha não é uma característica do estabelecimento.

“Para segmentar, a pesquisa de mercado é muito importante. É preciso compreender o mercado e o setor em que se quer inserir. Muitas vezes, o empreendedor cria um produto ou serviço e desenvolve uma paixão por ele. A paixão, porém, muitas vezes o cega. É por meio da pesquisa que o empreendedor pode conseguir desenvolver uma análise e projeções mais acuradas sobre a demanda do seu novo negócio”, pontua Emanuelle Nava Smaniotto.

Ela completa afirmando que preferências pessoais dos consumidores em potencial também podem ser levadas em contas. Segundo a professora da Unisinos, algo que vem dando certo em muitos negócios é a sensação de participação no empreendimento que vários consumidores desenvolvem, como a possibilidade de participar de votações e pesquisas sobre novos produtos.

4. Michael Scott Paper Company – “The Office” (2005 – 2013)

Apesar de suas atitudes “sem noção” e das péssimas piadas, Michael Scott, à frente da filial de Scranton, Pensilvânia, da fictícia empresa de papel Dunder Mifflin, era o melhor gerente regional da companhia, principalmente por ser apaixonado por seu trabalho.

Na quinta temporada da série, Michael se desentende com um novo chefe e, abruptamente, decide deixar a empresa para montar seu próprio empreendimento, a Michael Scott Paper Company. Consigo, leva Pam, recepcionista que se tornou vendedora e está insatisfeita com o trabalho, e Ryan, antiga promessa da empresa.

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Em pouco tempo, a Michael Scott Paper Company começa a roubar todos os clientes da concorrente. A tática não é das mais sustentáveis, diga-se de passagem: fazer o preço mais baixo que conseguirem. Em pouco tempo, porém, a Dunder Mifflin se vê obrigada a comprar a nova empresa. A lição que fica aqui é: faça o máximo para valorizar seus melhores funcionários e foque na retenção de talentos.

“Deve-se pensar na valorização dos colaboradores e como é importante para eles se sentirem valorizados, sentirem-se parte da empresa. O empresário, contudo, deve entender que faz parte da trajetória natural de vários colaboradores a troca de emprego ou, até mesmo, a saída da empresa para montar um negócio novo e próprio. Para valorizar bons funcionários e mantê-los na organização, o importante é tentar operar com hierarquias desconstruídas, incluindo os colaboradores em votações e decisões da empresa. Além de tudo, é preciso manter, principalmente, um ambiente de trabalho saudável e alegre”, explica Emanuelle.

5. Dragonfly Inn – “Gilmore Girls” (2000 – 2007)

Lorelai Gilmore, a verdadeira heroína de “Gilmore Girls”, é uma mulher batalhadora. Mãe aos 16 anos, criou sua filha praticamente sozinha, concluiu a faculdade com a filha já crescida, fez uma dezena de amigos e, enfim, conseguiu empreender. Em meio a xícaras de café e muitas referências à cultura pop, Lorelai tinha o sonho de abrir sua própria pousada. E ela consegue realizá-lo após algumas temporadas da série sob o nome de Dragonfly Inn.

A protagonista tinha duas importantes cartas na manga: sua expertise no ramo hoteleiro, já que ela trabalhara por anos no Hotel Independence Inn, onde começou como camareira e chegou ao posto de gerente – conhecia, portanto, o funcionamento de uma hospedaria de cabo a rabo -, e a “sócia ideal”, sua melhor amiga, a chef de cuisine Sookie.

Emanuelle, que se diz uma “viciada em ‘Gilmore Girls’”, comenta que o caso de Lorelai e Sooki é interessante porque elas se entendem muito bem apesar das diferenças de perfil – o que não significa que não haja momentos tensos e de discussão.

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Ela ressalta, porém, que um bom amigo não será, necessariamente, um bom sócio. A intimidade, diz a administradora, pode ser um empecilho, pois muitas vezes é mais fácil tomar decisões e se posicionar com pessoas que não se teme magoar.

“Um bom amigo pode ser um bom sócio desde os envolvidos entendam as diferenças que possuem, de que forma podem se complementar e que nem sempre concordarão com tudo. Não existe um sócio perfeito, mas podem existir alguns perfis de sócios mais tranquilos para trabalhar: isso envolve pessoas que possuam uma inteligência emocional desenvolvida, ou seja, que sabem que conflitos são importantes para o desenvolvimento de ideias e do negócio e conseguem fazer isso com profissionalismo e sem se magoar. Além disso, pessoas que não ‘puxam o controle’ todo para si e sabem ouvir e concordar com ideias alheias são sujeitos que possuem características essenciais para o
desenvolvimento de uma sociedade” orienta a docente da Unisinos.

6. Monsters, Inc. – “Monstros S.A.” (2001)

A Monsters, Inc. é uma gigante da energia responsável por alimentar toda a cidade de Monstrópolis. Para tanto, durante muitos anos os monstros que trabalham na companhia visitaram o “mundo humano” para assustar crianças, uma vez que se acreditava que os gritos e choros infantis eram a melhor matéria-prima para a geração de energia.

Em determinado momento, contudo, os protagonistas Sulley e Mike Wazowski descobrem, por meio de um incidente que fez com que a pequena criança humana Boo fosse parar na terra dos monstros, que as risadas dos pequenos geram muito mais energia do que os gritos. Ocorre que no início há uma certa relutância em adotar o novo método, que no fim acaba sendo utilizado.

O que podemos aprender com a fábrica de “Monstros S.A.” é que não é somente porque uma empresa tem anos de sucesso que mudanças não devem ser consideradas. Inovar constantemente e investir em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), afinal, deve estar no DNA de qualquer companhia.

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“O ‘momento certo’ é difícil de precisar, mas há indicativos de quando a diversificação se torna a única saída. O momento para diversificar o seu negócio se dá, principalmente, quando surgem oportunidades para isso acontecer e você tem as ferramentas necessárias para que isso aconteça. Ferramentas, recursos, expertise, alguma vantagem… Mas há outro momento, mais drástico, quando mesmo sem todos esses fatores é preciso diversificar: quando você começa a ver seu negócio perdendo
competitividade, que pode ser quando o mercado está estagnado ou crescendo muito rápido. Diversificar – entrar num novo ramo ou desenvolver um novo produto, por exemplo – torna-se questão de sobrevivência”, esclarece Fernando Domingues, da ESPM.

7. Ghostbusters – “Os Caça-Fantasmas” (1984)

“Os Caça-Fantasmas” é um dos clássicos mais queridos da ‘Sessão da Tarde’. Com seus macacões cáqui e lançando mão de feixes de prótons e armadilhas acionáveis com os pés, os protagonistas do filme perceberam uma importante lacuna de mercado: ainda que Nova York seja conhecida por sua imensa quantidade de ratos, a cidade também é, aparentemente, bastante mal assombrada.

Mas apesar das inúmeras empresas de dedetização disponíveis na lista telefônica (estamos falando dos anos 1980 aqui), os cientistas perceberam que não existia nenhum negócio voltado a exterminar monstros e fantasmas. Bingo!

Emanuelle Nava Smaniotto, da Unisinos, reforça que é preciso que o empreendedor faça uma análise detalhada de mercado e segmento antes de mergulhar num novo negócio. Não dá, segundo ela, para investir em um ramo sem ter uma clara noção do cenário e de como andam os níveis de demanda do setor.

“A análise de mercado e setor pode ser terceirizada ou realizada pelo próprio empreendedor. A análise consiste em pesquisa sobre o segmento, hábitos de consumo, demanda, entre outros fatores. Esses dados estão, inclusive, disponíveis na internet e em várias bases de dados de órgãos econômicos no Brasil, por exemplo. Conversar com pessoas que já atuam ou atuaram no segmento, se isso for possível, também pode ser de grande valia”, orienta a especialista.

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