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Comportamento

“Índice do medo” atinge na segunda maior nível desde 2020. O que isso indica ao investidor?

Vix, que funciona como um "termômetro de volatilidade", chegou a disparar mais de 115% na segunda-feira (5)

“Índice do medo” atinge na segunda maior nível desde 2020. O que isso indica ao investidor?
O VIX funciona como um indicador da volatilidade do mercado. Foto: Adobe Stock
  • O VIX atingiu na segunda-feira (5) o patamar de 38,57 pontos — o mais alto desde outubro de 2020, quando o mundo ainda convivia com as incertezas da pandemia de Covid-19
  • Segundo analistas, quatro fatores explicam o movimento: elevação dos juros no Japão, intensificação dos conflitos no Oriente Médio, possibilidade de recessão nos Estados Unidos e realização de lucros das gigantes de tecnologia
  • Um aumento relevante do VIX gera uma redução generalizada nas posições de tomada de risco, o que afeta principalmente os mercados emergentes

O VIX (Volatility Index em inglês) – “índice do medo” de Wall Street – tem registrado dias de forte valorização no mercado. O indicador entrou nos holofotes na segunda-feira (5), quando chegou a ficar acima de 115%, batendo a máxima de 65,73 pontos, o patamar mais elevado desde março de 2020, à época do choque inicial da pandemia da covid-19. Nesta terça-feira (6), o índice recua 27,54%, com a melhora do cenário internacional. O índice Nikkei, que na segunda-feira (5) encerrou em baixa de 12,40%, hoje subiu 10,25% em Tóquio. “Parece ser um dia de respiro, de uma correção”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

O VIX mede a volatilidade implícita do S&P 500, um dos mais importantes índices de ações dos Estados Unidos. Ao superar o patamar de 30 pontos, como ocorreu ontem, ele sinaliza uma turbulência extrema no mercado. Por outro lado, quando está em níveis baixos — de 0 a 15 pontos, por exemplo — geralmente indica um otimismo entre os investidores.

Na última semana, o índice VIX rondava patamares próximos a essa pontuação mais baixa. Quatro fatores, no entanto, geraram uma mudança completa no cenário, segundo analistas: elevação dos juros no Japão, intensificação dos conflitos no Oriente Médio, possibilidade de recessão nos Estados Unidos e realização de lucros das gigantes de tecnologia.

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Tudo começou com a decisão do Banco do Japão (BoJ) na madrugada última quarta-feira (31), que determinou o aumento dos juros no país em 15 pontos-base. Com isso, as taxas de depósitos de curto prazo passaram para a faixa entre 0,15% e 0,25%. Até então, elas estavam numa banda entre 0% a 0,1%, após o BoJ ter abandonado sua política de juros negativos em março, quando elevou as taxas pela primeira vez em 17 anos.

A decisão tem forte impacto sobre as chamadas operações de carry trade, que ocorrem quando o investidor pega dinheiro emprestado em países onde a taxa de juros é baixa e aplica em mercados onde ela é mais alta para ganhar com a diferença. Como o Japão era um país que tradicionalmente contava com taxas de juros baixas, muitas dessas operações ocorriam com o iene.

“No momento em que há o aumento dos juros, diminui a vantagem de fazer o carry trade, o que faz com que muita gente queira desmontar essas posições”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. “E eu acho que isso catalisou um cenário de forte aversão a risco em nível global, o que não é bom para nenhuma Bolsa do mundo, especialmente para as de países emergentes”, complementa.

No dia do anúncio da medida do BoJ, o VIX encerrou o pregão a 16,42 pontos, nível que indica um ambiente normal no mercado. Até então, os investidores não pareciam estar sentindo um clima de cautela. Contudo, o cenário começou a mudar a partir de quinta-feira (1°), com indícios de uma piora nas tensões geopolíticas no Oriente Médio. Na data, foi noticiado pela agência Reuters que autoridades iranianas se reuniriam com representantes de seus aliados regionais do Líbano, Iraque e Iêmen para discutir possíveis retaliações contra Israel após o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã.

Com o medo de um possível conflito entre Israel, Irã e seus aliados, as Bolsas de Nova York amargaram perdas em 1° de agosto. Já o VIX, que apresenta uma correlação inversa com o desempenho das ações, terminou a sessão em alta de 24,97%, aos 20,52 pontos — patamar que já sinalizava um aumento das preocupações do mercado. Tudo piorou na sexta-feira (2), quando os dados do payroll (relatório oficial de empregos americano) despertaram o temor de uma recessão nos Estados Unidos e fizeram o “índice do medo” cair mais 25,82% e chegar a 23,39 pontos.

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Conforme informou o Departamento do Trabalho americano, o payroll mostrou a criação de 114 mil empregos em julho nos Estados Unidos, em termos líquidos. O resultado ficou abaixo do piso das expectativas de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, que variavam de 135 mil a 225 mil vagas, com mediana de 180 mil. Outro forte sinal de acomodação do mercado de trabalho foi a alta da taxa de desemprego, que passou de 4,1%, em junho para 4,3% em julho.

Para Alves, da Avenue, apesar dos dados terem vindo mais baixo do que o esperado, eles não sinalizam um cenário de recessão. “Eu acho que esse momento exige parcimônia e calma do investidor. Para mim, a reação do mercado foi exagerada em relação a esse receio de forte ou grave recessão, pois esse não parece ser o cenário-base dos Estados Unidos. Pode haver uma desaceleração sim, mas eu acho que não estamos falando de recessão ainda”, pondera.

Além dos números do payroll, outro fator que gerou uma maior cautela no mercado foi o movimento de realização de lucros no setor de tecnologia. “Apesar dos bons resultados trimestrais, por já terem subido muito, a gente tem visto essa realização das big techs, muito mais para o investidor colocar no bolso os lucros que já aconteceram”, afirma Alves.

Ainda nos Estados Unidos, a Berkshire Hathaway, conglomerado de investimentos liderado por Warren Buffett, vendeu quase a metade da sua posição na Apple (AAPL). Isso, por si só, também já alimentou a desconfiança dos investidores. Analistas consultados nesta matéria destacam, porém, que a decisão foi um ajuste feito pelo megainvestidor após o papel ter disparado nos últimos anos.

Com esse misto de fatores, o VIX terminou a segunda-feira no maior nível desde outubro de 2020. Há uma semana, no dia 29 de julho, o “índice do medo” estava em 16,42 pontos — ou seja, de lá para cá, ele acumulou uma valorização 134,90%.

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Ana Paula Gobbo, especialista em mercado de capitais e sócia da The Hill Capital, reforça que os investidores devem ficar preparados para enfrentar grande volatilidade no curto prazo. “Pode haver alta oscilação nos próximos 30 dias, pois, com a instabilidade econômica, os investidores tendem a manter seus recursos em economias mais consolidadas, aumentando as preocupações com os mercados emergentes”, diz.

O que é o VIX, “índice do medo” do mercado financeiro?

O VIX voltou a ganha destaque na mídia devido à forte valorização recente. No entanto, não são todas as pessoas que sabem, de fato, o que o índice representa. Criado em 1993, seu objetivo é ser um termômetro e indicar qual a oscilação esperada para o S&P 500 nos próximos 30 dias. Quando a volatilidade implícita é elevada, o nível do VIX é alto. O contrário também vale: quando a volatilidade implícita é baixa, o nível do VIX também é menor.

Justamente por atingir níveis mais elevados quando há mais instabilidade no mercado de ações, o índice tende a ser caracterizado como um “indicador do medo”. Por exemplo, em março de 2020, na época em que os investidores enfrentaram a crise gerada pela pandemia de Covid-19, o VIX atingiu um recorde histórico de 82,69.

Em um contexto oposto, quando os preços das ações sobem e não parece provável ocorrer mudanças radicais, o índice tende a cair ou a se manter estável na parte inferior da sua escala, na faixa de 0 a 20 pontos.

Mas como o VIX consegue prever a volatilidade do S&P 500? Isso acontece porque ele é composto por preços de opções de compra e venda, não pelos valores das ações propriamente ditos. Vale lembrar que as opções são instrumentos usados no mercado para diferentes estratégias de investimento. Quem compra uma opção paga um prêmio por isso e tem o direito de comprar ou vender um ativo por um determinado preço até uma data específica.

Dessa forma, os preços que os investidores estão dispostos a pagar pelas opções refletem o quanto eles pensam que o nível do índice relacionado vai mudar. Em lugar de medir a volatilidade “realizada” ou histórica, o VIX projeta então a volatilidade esperada, especificamente dos 30 dias seguintes, através da medição de mudanças nos preços de opções do S&P 500.

O que a alta recente do VIX indica para o investidor brasileiro?

Eduardo Grübler, gestor de multimercados da AMW, a asset management da Warren Investimentos, explica que um  aumento relevante do VIX gera uma redução generalizada nas posições de tomada de risco. “Dado que o Brasil é um país emergente, percebido como mais arriscado que os países desenvolvidos, menor apetite ao risco tira dinheiro de nosso mercado, ou seja, força fluxos vendedores, o que causa queda nos preços”, pontua.

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Com isso, o mercado brasileiro tende a ser penalizado, já que investidores optam por migrar seus recursos para opções de menos risco. “Quem sofre principalmente são os ativos de renda variável, havendo uma pressão sobre a taxa de câmbio e consequentemente sobre a inflação, ficando mais difícil baixar as taxas de juros por aqui”, reforça Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, sobre os efeitos em cascata gerados pela alta do VIX.

Apesar da disparada recente, Grübler, da AMW, acredita que o índice não deve sofrer novos saltos nas próximas sessões. “Para o VIX seguir subindo, precisaríamos de movimentos cada vez mais extremos nos mercados. Uma manutenção dos movimentos dos últimos dias, por exemplo, já é suficiente para que o índice pare de avançar”.

Já Igliori explica que é difícil prever os próximos passos do índice em tempos de incertezas. “Se não tivermos novos fatos importantes é possível que o índice ceda um pouco mais, já que foi perdendo um pouco da força ao longo desta segunda-feira Mas os fatores que causaram sua forte elevação não tendem a desaparecer tão cedo. Então, é razoável imaginar que o VIX opere acima da média por algum tempo”.

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