- O processo deflacionário tem como principal motor o corte de impostos promovido pelo governo federal nos preços dos combustíveis
- Contudo, a iniciativa do governo tem efeito de curto prazo, já que a medida deve durar até o fim deste ano. Para Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, a ação é paliativa
- Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, vê uma volta da inflação a partir de setembro
Está começando a faltar fôlego nos pulmões do dragão da inflação. No mês passado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede o avanço da alta de preços no País, veio com a maior baixa desde 1980, início da série histórica: o preço dos produtos caiu 0,68%, em média. Ou seja, houve a chamada ‘deflação’. Veja onde estão as oportunidades de investimento com a queda dos preços.
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A queda nos preços não deve ser um fenômeno restrito a julho. De acordo com o Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (13), o IPCA de agosto também deve vir com uma deflação de 0,19%.
A surpresa positiva fez com que a mediana das expectativas para a inflação no acumulado de 2022 tivesse que ser revista para baixo por sete semanas seguidas, e agora está em 7,02%.
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Esse processo deflacionário tem como principal motor o corte de impostos promovido pelo governo federal nos preços dos combustíveis, energia elétrica, gás natural, comunicações e transporte coletivo, por meio da Lei Complementar 194.
Na prática, o executivo estabeleceu um limite de 17% a 18% para a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que incide sobre esses produtos e serviços. O resultado é a queda no preço final e a consequente deflação, já que principalmente a alta dos combustíveis acaba impactando toda a cadeia produtiva e jogando para cima o valor de outros itens.
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, estima que haja mais redução de impostos, resultando em um corte no preço da gasolina entre agosto e setembro. Sinais de melhora nas cadeias globais também devem ajudar. A economista tem uma projeção ainda mais otimista em relação à inflação do que a mediana de mercado expressa no Boletim Focus, com uma expectativa de 6,2% no acumulado de 2022.
Contudo, a iniciativa do governo tem efeito de curto prazo, já que a medida deve durar até o fim deste ano. Para Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, a ação é paliativa. “Essa redução tem data para durar. É até o final do ano e deve segurar a inflação nesses meses. Foi um ‘gol de mão’ do governo, falando em ano de Copa do Mundo”, afirma.
Carvalho chama a atenção para a reforma tributária, que não foi realizada e teria efeitos de longo prazo. “Não faz a reforma, mas faz esse gol de mão para ter um bom filme durante as eleições. Se tivesse feito a reforma logo no começo do governo, quando tinha forte apoio, sofreríamos menos com a inflação.”
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Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, também vê uma volta da inflação a partir de setembro. Porém, acredita que não deve haver grandes surpresas nos preços, como aconteceu com o choque dos alimentos no 1° semestre de 2022. “Não ficará em um nível compatível com o centro da meta (3,5%), mas o número de itens cujos preços estão subindo mês a mês deve ficar mais próximo da normalidade”, afirma Costa.