Nathalia Arcuri ampliou as horas de programação com a crise coronavírus: orientação financeira e alívio para o marasmo. (Reprodução/ YouTube)
(Murilo Basso, especial para o E-Investidor) – O coronavírus confinou milhões de pessoas em casa, com a preocupação extra de como manter as contas em dia – e o próprio emprego ou negócio – até o fim do distanciamento social. A combinação que tem tirado o sono de muitos exigiu adaptações e aumentou o ritmo de trabalho de uma categoria cada vez mais ativa na orientação financeira dos brasileiros: os digital influencers de finanças pessoais. Se nos últimos meses os vídeos ao vivo, as newsletters e os cursos tinham como mote aproveitar o crescimento da bolsa de valores e o início da retomada econômica, agora o foco é em ajudar os seguidores a sobreviverem aos efeitos da crise – entre os quais, o tédio da quarentena.
“Montamos uma cobertura especial da crise do coronavírus: todo o nosso planejamento de conteúdo foi alterado para poder dar apoio às nossas leitoras e seguidoras neste momento tão difícil. Incluímos na pauta vídeos e textos com a explicação do que está acontecendo na nossa economia. Lançamos um material diário de fechamento dos mercados que traduz os acontecimentos do dia e é postado assim que os mercados fecham e enviado como uma newsletter especial”, explica Carol Sandler, do canal “Finanças Femininas”.
O mesmo caminho foi seguido por Nathalia Arcuri, da plataforma “Me Poupe!”. Desde que a necessidade de isolamento foi estabelecida, a produção de conteúdo de conscientização e dicas práticas foi intensificada. “Já foram quatro palestras ao vivo gratuitas em nosso canal do YouTube, com média de 18 mil pessoas simultâneas e 100 mil acessos em 12 horas”, conta.
“Nossos maiores esforços têm sido pra desmistificar fake news sobre o vírus e ajudar as pessoas a gerar renda. Na semana passada lançamos a campanha ‘Não espalhe o vírus, espalhe informação’, que tem o objetivo de incentivar as pessoas a levarem informações reais umas para outras de forma leve e descontraída. Estamos contando com o apoio de médicos infectologistas, advogados, professores e uma rede engajada de profissionais para garantir que a informação seja coerente com a realidade”, completa Nathalia.
Confinados e engajados
Carol Sandler, do “Finanças Femininas”. (Luiza Ferraz/Divulgação)
Ainda que a crise causada pela pandemia prejudique trabalhos externos dos influencers, ela não interfere na maior parte da atividade deles: a produção de conteúdo, já que a maioria esmagadora dos vídeos, fotos e publicações podem ser produzidos dentro da própria casa. Do outro lado da tela, o conteúdo se torna uma forma de as horas em casa passarem mais rápido. E um estímulo ao consumo, mesmo com as perspectivas financeiras incertas. O avanço da Covid-19 pelo país fez com que as compras pela Internet disparassem – cerca de 40% na primeira quinzena de março, segundo dados da empresa de inteligência de mercado Compre e Confie.
Carol Sandler contabiliza um crescimento expressivo no número de views no YouTube e em posts no Instagram – tanto no feed quanto nos Stories. “O engajamento dos posts cresceu, assim como o número de cliques na nossa newsletter (que era semanal e se tornou diária). Vale também destacar o crescimento do engajamento nas lives: as lives no Instagram ‘bombaram’ e passamos a fazer transmissões diárias – tanto sozinhas, quanto com parceiros”, diz ela.
“Tivemos um aumento de 20% nas visualizações em nossos conteúdos após o dia 12. O que queremos agora é dar base para que as pessoas consigam passar por esse período turbulento, com apoio e conhecimento”, complementa Nathalia.
Engajamento é a moeda corrente no mundo dos influenciadores digitais. Despertar a interação do público, seja com comentários ou compartilhamentos, é capaz de tornar um influenciador mais valioso mesmo que com uma base menor de seguidores. Processo acelerado quando se fala sobre um tema específico e para um público bem definido.
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“Quando falamos de influenciador digital, falamos sobre nicho, mesmo entre os gigantes. O [youtuber] Whindersson Nunes, por exemplo, é menos conhecido do público mais amplo do que uma atriz de novelas da Globo, tenha ele quantos seguidores tiver. O número de seguidores é um fato, mas o tamanho do impacto que aquele influenciador tem junto a um público específico também deve ser considerado”, explica Thiago Sanches Costa, coordenador do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing Digital da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
Impacto que precisa ser muito bem dosado em um momento de grande comoção popular, como o causado pela pandemia.
“Muitas pessoas perderam emprego ou tiveram sua renda reduzida. Faremos o possível para ajudar essas pessoas. Estamos, inclusive, investindo em uma plataforma gratuita que atuará como facilitadora para micro e pequenas empresas, autônomos e desempregados, oferecendo conteúdos descomplicados e conectando esses empreendedores a soluções imediatas”, explica Nathalia.
“Temos de saber ouvir: entender quais são as dúvidas mais frequentes, dores e dificuldades. Com isso, conseguimos produzir conteúdos relevantes e interessantes diariamente. E precisamos apoiar a sociedade. Não dá para ficar produzindo conteúdos alarmistas que só causem pânico nas pessoas para gerar cliques fáceis”, completa Carol.
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Assim, a influência digital pode sair da crise maior do que entrou.A pesquisa “O Brasil e os Influenciadores Digitais”, divulgada pela Ibope Inteligência no fim de 2019, apontou que 52% dos internautas brasileiros seguem algum influenciador digital nas redes sociais. Ainda, metade dos usuários de Internet no país já adquiriu serviços ou produtos indicados e 35% já visitaram algum lugar sugerido por influencers.