O que este conteúdo fez por você?
- O investidor brasileiro espera obter um retorno médio anual de 13,3% pelos próximos cinco anos e de pelo menos 10,2% nos próximos 12 meses.
- A expectativa de rendimento supera a média global, de 10,9%
- Para Daniel Celano, Country Head da Schroders Brasil, essa perspectiva é irreal e alimentada pelo bom desempenho que muitos mercados tiveram nos últimos dois anos
Logo no ano em que um vírus avançou pelo mundo e fez com que países paralisassem grande parte das atividades por meses, os investidores estão expressando um otimismo incomum com o mercado financeiro – principalmente o investidor brasileiro. Durante o auge da pandemia, entre fevereiro e junho, a B3 ganhou cerca de 700 mil novos CPFs, um salto de 36%. E a confiança não para por aí.
Leia também
De acordo com o relatório ‘Estudo De Investidores Globais 2020’, enviado com exclusividade ao E-Investidor pela gestora Schroders Brasil, o investidor brasileiro espera obter um retorno médio anual de 13,3% pelos próximos cinco anos e de pelo menos 10,2% nos próximos 12 meses. A expectativa de rendimento supera a média global, de 10,9% para os cinco anos seguintes e de 8,8% até agosto de 2021. O levantamento ouviu cerca de 23 mil investidores, de 32 locais ao redor do mundo, com intenção de investir pelo menos 10 mil euros nos próximos 12 meses e que fizeram alteram alterações nos investimentos na última década.
Para Daniel Celano, Country Head da Schroders Brasil, essa perspectiva é irreal. “Como os mercados subiram muito nos últimos dois anos, as pessoas projetam que isso deve continuar acontecendo indefinidamente”, diz Celano. De fato, entre janeiro e dezembro de 2019, por exemplo, o Brasil vivia uma fase de otimismo muito grande, com Ibovespa encerrando o ano aos 115 mil pontos após uma valorização de 31,58% nos 12 meses anteriores.
Investidores devem se decepcionar
Na visão de Celano os investidores, principalmente os brasileiros, devem ter suas expectativas de retornos frustradas. “Considerando o juro real de 0,5% (Selic de 2% menos a inflação de 1,5%) no Brasil, acho difícil ter nos próximos 12 meses um retorno nominal de 10%”, afirma. “Nos próximos cinco anos, acreditamos que o retorno para o investidor pode estar mais próximo de 7% a 10%.”
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Isso acontece porque os juros não devem subir tão rápido no longo prazo por conta do afrouxamento monetário, ou seja, medidas do Governo para fazer o dinheiro circular na economia e estimular o consumo na crise. O auxílio emergencial e cortes nas taxas de juros, por exemplo, são algumas delas.
“Acredito que pelos próximos dois anos ainda teremos juros baixos tanto aqui, quanto no exterior, e uma deflação razoável”, diz o executivo. “Devemos ver o desapontamento do investidor, mas isso vai depender de onde ele vai aplicar o dinheiro.”
Na comparação entre países, o mais otimista em relação ao retorno nos próximos anos é o EUA, com uma expectativas média de 15,4%, seguido pela Indonésia (14,8 ) e Argentina (14,6%). O Brasil está na 7ª posição do ranking.
Por outro lado, os investidores mais pessimistas são os japoneses, que esperam 5,9% de retorno anual. Suíça (6,9%) e Itália (7,9%) também estão entre os menos confiantes. A explicação para este cenário é simples: os investidores cujos países viveram um bom momento nos últimos anos estão mais otimistas. Já os que fazem parte das nações com histórico de taxa de juros nas mínimas, e que não tiveram grandes saltos em relação à economia, estão mais realistas.
Publicidade
“Nos últimos anos, o desempenho do mercado nos EUA e na Indonésia foi muito forte. O Japão, no entanto, tem juros baixos há muito tempo e não tem performado tão bem recentemente”, diz Celano. Para o especialista, os investidores têm a tendência de basear a rentabilidade futura nos rendimentos que tiveram no passado – o que não é aconselhável. Essa situação é mostrada de forma clara no estudo: cerca de 80% dos entrevistados afirmam basear suas previsões em retornos anteriores.
Coronavírus modifica carteiras
O levantamento também mostra que a maioria (79%) dos investidores brasileiros fez alterações na carteira durante o auge do impacto da crise no mercado, entre fevereiro e março de 2020. Desses, 27% migraram para investimentos que possuem risco mais baixo e 16% para riscos mais altos.
O cenário se repete em escala global, com 28% migrando boa parte dos investimentos para aplicações de baixo risco e 20% no caminho contrário, em busca de proteção. Para Celano, é natural que em um momento de crise haja maior aversão à aplicações mais arrojadas, mas que a saída não está necessariamente em diminuir o nível de risco.
“A melhor estratégia é ter um portfólio mais equilibrado no longo prazo, com exposição em moedas fortes, como ouro. A chave é ter uma carteira diversificada”, diz. “Não é necessário migrar para aplicações de baixo risco para isso.”