Comportamento

Investimentos alternativos: está na hora de investir (literalmente) em bolsas?

Artigos de luxo da marca Hermès se valorizaram 13% em 12 meses, aponta consultoria

Investimentos alternativos: está na hora de investir (literalmente) em bolsas?
Uma bolsa Hermès Birkin modelo diamantes e crocodilos do Nilo (Foto: Mario Anzuoni/Reuters)
  • Segundo a consultoria global Knight Frank, em 12 meses o índice dos acessórios da Hermès cresceu 13%, enquanto o dos selos, segundo lugar na lista, cresceu 6%
  • Emanuelle Nava Smaniotto, professora da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e administradora, diz que investir em acessórios de luxo ou em outros artigos de valor agregado é sempre uma aposta, ainda que haja altas chances de valorização, por motivos como marca ou edição especial
  • O “caminho” a ser tomado é o mesmo que seria feito quanto a uma ação tradicional: muita pesquisa, tanto sobre o mercado quanto sobre o item que se deseja adquirir

(Murilo Basso/Especial para o E-Investidor) – Um investimento alternativo melhor do que obras de arte, selos, uísque raros e carros. Assim foi o desempenho em 2019 das bolsas de luxo Hermès, em especial os modelos Birkin e Kelly. Apesar de itens de outras marcas luxuosas, como Chanel e Louis Vuitton, também serem altamente procurados e colecionáveis, são as produções da Hermès que acabaram conseguindo preços mais altos.

Segundo a consultoria global Knight Frank, em relatório divulgado no primeiro semestre de 2020, em 12 meses o índice dos acessórios da maison francesa cresceu 13%, enquanto o dos selos, segundo lugar na lista, cresceu 6%.

Além disso, no fim de julho, uma Hermès Diamond Himalaya Birkin, modelo de 2016 feito com couro de crocodilo do nilo, espécie africana do réptil, e coberta com ouro branco e diamantes, foi vendida por cerca de US$ 300 mil em um leilão online da Christie’s (cerca de R$ 1,6 milhão na cotação atual). Seriam esses números indícios de que vale a pena investir, literalmente, na bolsa?

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Emanuelle Nava Smaniotto, professora da Escola de Gestão e Negócios da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e administradora, diz que investir em acessórios de luxo ou em outros artigos de valor agregado é sempre uma aposta, ainda que haja altas chances de valorização, por motivos como marca ou edição especial.

Isso porque não há uma segurança de retorno. Por esse motivo, pode ser uma boa pedida para investidores que aceitam riscos e têm noção das perdas que podem ocorrer. O “caminho” a ser tomado é o mesmo que seria feito quanto a uma ação tradicional: muita pesquisa, tanto sobre o mercado quanto sobre o item que se deseja adquirir.

“Há muitos perfis e sites de colecionadores. Por exemplo, existe um vasto mercado de tênis e relógios de luxo. Se começar a procurar pela internet, entrar em contato com colecionadores e leiloeiros, começará a entender como esses investidores atuam. O importante é ter um bom entendimento do item antes de começar a comprar e vender. Da mesma forma que buscamos fazer um valuation correto sobre os ativos quando falamos de ações, é importante que, ao se negociar uma peça de luxo, você tenha noção do quanto aquele item pode valer”, pontua a docente.

Johnny Silva Mendes, professor do curso de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), reforça que se trata de um mercado bastante imprevisível, que está sujeito a mudanças nas tendências e na moda.

“Também pode ser difícil recuperar o dinheiro rapidamente, pode levar algum tempo. Ainda, deve-se levar em consideração o fato de que as taxas de compra e revenda podem representar até 25% dos custos de investimento, além de quaisquer outros custos de armazenamento e avaliação que possam ser necessários” pontua.

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“Para quem deseja investir em arte, sugiro a participação em feiras mais acessíveis, nas quais é possível adquirir itens a preços mais razoáveis. Você vai pegando o jeito. É possível comprar arte a preços modestos e fazer dinheiro mais para a frente, especialmente se o artista se tornar mais conhecido”, completa.

O mito em torno das bolsas Hermès

Não é exagero afirmar que a Birkin, da Hermès, talvez seja a mais mítica de todas as bolsas de luxo, o que contribui, e muito, para seu alto valor. O nome se trata de uma homenagem à atriz e cantora franco-britânica Jane Birkin, a famosa segunda voz de “Je t’aime… moi non plus”. A bolsa foi apresentada pela marca na primeira metade da década de 1980 e rapidamente se tornou sinônimo de elegância, riqueza e exclusividade, sendo que a espera por um modelo pode demorar até seis anos.

Outro modelo da Hermès envolto em bastante misticismo, também criado para homenagear uma estrela do cinema e que, assim como a Birkin, costuma atingir altos valores no mercado, é a Kelly. Essa bolsa é mais antiga e remonta aos anos 1930, mas foi renomeada décadas mais tarde por ser uma das preferidas de Grace Kelly.

A estrela conheceu a peça ao estrelar “Ladrão de Casaca” (1952), dirigido por Alfred Hitchcock. A figurinista da produção, Edith Head, adquirira vários itens da Hermès para a personagem de Grace que, segundo Edith, “apaixonou-se pela bolsa”.

“O sucesso de bolsas como a Birkin, da Hermés, que valorizou em 500% nos últimos 35 anos, está relacionado a fatores como escassez, idealização do ‘eu’ e storytelling. Há muitas lendas relacionadas à bolsa que a empresa não faz questão de desmentir e que fazem aumentar o desejo pelo item, bem como a disposição de se pagar mais por ela. As bolsas são confeccionadas manualmente e a fila de espera pode levar anos. Além disso, não são vendidas para qualquer uma pessoa. Você pode até ter dinheiro para comprar, mas não é o suficiente. Isso, por si só, já é uma das garantias de autenticidade”, explica Paula Sauer, economista e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Como precificar uma bolsa de luxo?

O primeiro ponto que deve ser analisado é a autenticidade. No caso das bolsas Hermès, Paula diz que no Brasil existem poucos profissionais certificados para atestar a veracidade desses produtos. Uma saída são os sites especializados, que pedem que sejam tiradas várias fotos da peça, de diversos ângulos e com luz natural. O nome do proprietário e o número de referência da bolsa também são pedidos. Confirmada a autenticidade, emite-se um certificado, que é essencial para precificar a mercadoria.

“Não se trata de uma avaliação genérica e cada maison tem o seu processo. Caso um avaliador independente não se sinta confortável em realizar a análise, as fotos podem ser enviadas diretamente a um avaliador ligado à marca”, completa.

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Além da autenticidade, pontos como condição de uso, conservação do produto, material utilizado e cor também são fatores que afetam diretamente o valor da revenda. Edições especiais também tendem a ser mais caras.

Emanuelle Nava Smaniotto, da Unisinos, diz que, de forma geral, um produto em bom estado pode gerar até 80% ou mais de retorno em relação ao que o proprietário investiu. Já um produto em excelente estado pode superar o 120% do investimento. Ressalte-se que a clássica comparação entre oferta e demanda também é fundamental: quanto mais exclusivo o item e maior a demanda para adquiri-lo, maior sua valorização.

“No caso das bolsas Birkin e Kelly, a atualização do preço das bolsas ocorre anualmente pela própria marca. A marca sabe do valor do produto que possui e anualmente os preços dos itens novos aumentam em torno de 5% a 10%. O fato da bolsa ser de couro tratado, o que lhe garante uma durabilidade maior, e de cor neutra, o que evita maiores desgastes ao longo do tempo, garante ao item um valor mais certeiro ao longo do tempo”, afirma a administradora.

Sobre a diferença entre a definição de preços de investimentos alternativos e ações tradicionais, a professora da Unisinos explica que as segundas têm seus preços redefinidos diariamente, minuto a minuto, já que o mercado funciona nos dias de semana, em horário comercial, período em que todas as negociações são realizadas. Além disso, as ações são ativos bem mais líquidos do que os bens de luxo, resultando num número elevado de transações diárias.

Quando se fala em bens de luxo, a fama de produtos – ou “ativos” – é bem menor. Uma bolsa exclusiva, por exemplo, não tem seu preço atingido pela especulação cotidiana. Além disso, um artigo de luxo terá seu preço definido por aspectos que envolvem muito mais detalhes do objeto, como os apontados anteriormente.

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Já quanto à revenda de itens de luxo, Laura Graicar, sócia do site paulista de second hand luxury Madame Recicla, recomenda antiquários para jóias e móveis. Já os brechós de luxo de confiança, especializados em roupas e acessórios de marcas cultuadas, seriam, no Brasil, a melhor opção para a compra e venda de acessórios de moda de luxo.

“Você pode até exigir que as peças sejam precificadas e fotografadas, mantendo-as consigo até o momento da venda. Uma bolsa Birkin tradicional usada, mas em perfeito estado, é vendida por aproximadamente R$ 40 mil. Na loja, sairia por R$ 70 mil. Isso, é claro, se ela existisse à pronta-entrega”, pontua.

Conservando uma bolsa de luxo

Quem possui um item tão valioso quanto uma bolsa Hermès deve se preocupar com sua conservação, tanto para mantê-la impecável para uso próprio como para revendê-la futuramente, se assim desejar.

“Você pode conservar essa bolsa em segurança em casa. São peças de tamanho médio para grande, sendo que a mais desejada tem cerca de 35 centímetros de base e 40 centímetros de altura. É importante que fiquem com uma almofadinha dentro e tenham seu couro hidratado cerca de duas vezes por ano; pode usar hidratantes para couro em geral. Nunca acondicione essas bolsas em um saco plástico, apenas de tecido, como as dust bags que vêm com a própria bolsa”, sugere Graicar.

Ela também conta que a Hermès oferece spa treatments para as bolsas da marca, o que faz com que os modelos mantenham aparência de novo mesmo décadas após sua fabricação. Esses serviços podem ser encontrados nos Estados Unidos, na França e em Milão.

“O importante é conservar o item de uma forma que ele não se deteriore. No caso de uma bolsa, por exemplo, deve-se cuidar para que ela não fique exposta ao sol e que se evite o ressecamento do couro. Se houver grande circulação de pessoas na casa, recomendo o cofre pela segurança e pela certeza de que o objeto permanecerá bem armazenado. Além disso, vale guardar e conservar as caixas ou embalagens dos produtos, pois esse detalhe tende a valorizar o preço final”, completa Emanuelle Nava Smaniotto.

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