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- Ter filhos leva a uma grande penalização financeira às mães, principalmente se elas são solo, separadas ou viúvas. Por outro lado, os homens não sentem tamanho impacto no orçamento.
- Logo depois do primeiro filho, as reduções no salário podem chegar até 9% para a mulher
- As mães solo são um dos grupos mais vulneráveis, já que são responsáveis não só pelos cuidados, mas pelos gastos com os filhos
A maternidade é um momento mágico para muitas mulheres. Entretanto, ter filhos leva a uma grande penalização financeira às mães, principalmente se elas são solo, separadas ou viúvas. Por outro lado, os homens não sentem tamanho impacto no orçamento. Os fatores que levam a essa conjuntura são expostos em um estudo da ESPM chamado ‘‘Bem-Estar Financeiro das Mulheres: uma Revisão Sistemática da Literatura e Caminhos para Futuras Pesquisas’, divulgado em abril.
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De acordo com o professor Mateus Ponchio e as pesquisadoras de doutorado Virgínia Gonçalves e Roberta Basílio, responsáveis pelo estudo, as mulheres são obrigadas a assumir múltiplos papéis na maternidade, enquanto os pais conseguem estar mais focados no trabalho. A equipe analisou 130 artigos científicos publicados entre 1990 e 2020 para identificar os elementos que afetam o bem-estar financeiro feminino.
“A questão que identificamos da maternidade é que ela é um ponto de inflexão na vida financeira da mulher, já que aumenta a sobrecarga e o papel como cuidadora de filhos e da casa. Em contrapartida, diminui o engajamento dela no mercado de trabalho. A mulher tende a ter jornada reduzida ou irregular, indas e vindas em empregos, e isso afeta a renda e a percepção de bem-estar financeiro”, afirma Gonçalves.
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Internacionalmente, essa situação é chamada de ‘motherhood penalty’, ou seja, uma penalização da maternidade. “Logo depois do nascimento do primeiro filho, as reduções do salário podem chegar até 9% para a mulher”, diz Gonçalves. “As mulheres também acabam se dedicando mais a cuidar não só dos filhos, mas de todos da família.”
De fato, segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2019 as mulheres dedicavam 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, enquanto os homens apenas 11 horas. Essa diferença afetaria, segundo os especialistas, a forma como a mulher ganha dinheiro e, por consequência, o bem-estar financeiro delas.
Quando ocorre uma separação, os homens geralmente tendem a ficar com a propriedade da casa, enquanto as mulheres ficam com a guarda dos filhos – e precisam arcar com custos que não são devidamente cobertos pela pensão alimentícia.
“As mães solo aparecem em vários estudos como o público que tem a situação financeira mais vulnerável, porque elas ficam responsáveis não só pelos cuidados, mas por arcar com os custos financeiros da criança”, afirma Gonçalves. “E quando a mãe se divorcia e se casa novamente, isso diminui a possibilidade dos pais pagarem a pensão alimentícia para os filhos.”
Políticas públicas de inclusão
As iniciativas para amenizar o impacto financeiro são multidisciplinares e passam por políticas públicas mais eficazes, educação financeira e estudo dos comportamentos. “O protagonismo da mulher no controle da sua vida financeira é fundamental”, afirma Gonçalves. “E as próprias instituições financeiras ou as escolas podem ajudar a suprir um déficit de conhecimento financeiro da mulher em relação ao homem.”
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Um segundo ponto é a apresentação de produtos financeiros que conversem com as particularidades dessa parcela da população. “Os próprios bancos poderiam pensar em oferecer produtos mais aderentes às necessidades das mulheres, que informem melhor as consequências de determinadas ações financeiras. Por exemplo, existe um aumento grande de gastos quando o primeiro filho nasce. Será que essa projeção financeira não poderia ser entregue previamente para que ela enxergasse isso? Oferecer perspectivas de previdência que ela teria com as perspectivas financeiras que a mulher tem no presente?”, afirma a especialista.
A implementação de políticas que contribuam para amenizar as diferenças em relação aos papéis sociais de homens e mulheres e estimular a empregabilidade dessas mães também são essenciais para reduzir essa penalização financeira. Para Gonçalves, reduzir a diferença entre a licença-maternidade e a licença-paternidade, para que o homem também tenha mais cuidados com os filhos, pode reduzir a diferença salarial.
Preocupações com o futuro
A falta de preparação para o futuro afeta as mulheres, principalmente as mães viúvas. Fora o trauma da morte do companheiro, elas também sofrem um grande estresse econômico por ausência de planos de previdência, maior expectativa de vida e menor propensão a se casar pela segunda vez.
“Estudos apontam que a socialização financeira da mulher é mais tardia que a dos homens. É mais frequente encontramos crianças do sexo masculino aprendendo com o pai a como fazer a gestão do dinheiro, planejar, poupar. Mas essa conversa acaba chegando para a mulher mais tarde. O envolvimento delas acaba sendo menor e isso impacta o comportamento dela no futuro”, diz Ponchio.
O professor ressalta ainda que a população brasileira, no geral, não tem o hábito de poupar pensando à frente. “O brasileiro não tem reserva de emergência para a semana que vem, quiçá colchões financeiros para daqui 40 ou 50 anos”, ressalta. E não seria apenas a educação financeira que resolveria esse panorama.
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“Temos que lembrar que as pessoas estão inseridas em tecidos sociais que são ricos, então muitos desejos e vontades vão falar mais alto que os aspectos cognitivos. Não é só a pessoa saber o que é inflação, o que são juros do cartão de crédito. É muito mais que isso, isto é, é necessário entender porquê as pessoas gastam como gastam, levando em conta esse contexto.”, conclui.