Escrevam nos comentários os serviços e produtos que vocês mais gastam dinheiro, ela pede. Está transmitindo o conteúdo ao vivo no TikTok, acomodada em uma poltrona, com a iluminação intensa de um anel de luz branca. O espaço com decoração clean e a vestimenta sem acessórios conferem a ela uma aparência sem excesso. É desse jeito que a economista e influenciadora digital Beatriz Moraes, de 29 anos, aparece para sua legião de seguidores. São pessoas interessadas em um assunto que anda em alta nos últimos anos: o minimalismo financeiro.
Especialistas dizem que a abordagem nada mais significa do que “viver do essencial”. A ideia, segundo eles, promove uma relação mais saudável com o dinheiro que traga, consequentemente, bem-estar aos adeptos. Mas eles também avisam que não se deve confundir minimalismo financeiro com viver intencionalmente em meio a dificuldades financeiras ou com evitar certas compras. “Ao contrário, a proposta diz que o investidor entende sua jornada de autoconhecimento e determine o que realmente importa para ela naquele momento”, explica Moraes.
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Em um de seus vídeos na rede social, com mais de quatro mil curtidas, Beatriz esclarece que o minimalismo consiste em um estilo de vida que desafia o consumismo predominante na sociedade, abrangendo várias áreas como moda, habitação, transporte, entretenimento e, naturalmente, finanças pessoais. “Ao fazer escolhas mais conscientes e criteriosas sobre onde e como gastar, as pessoas podem perceber um aumento na sua capacidade de poupar dinheiro. Isso, por sua vez, abre portas para novas oportunidades de investimento e permite direcionar recursos para despesas que realmente importam e tragam satisfação”, analisa a economista.
Desafio do desapego no minimalismo financeiro
Para muitas pessoas, desapegar-se de bens materiais vira um desafio. A psicóloga Ana Costa diz que o ser humano culturalmente aprende a valorizar a abundância material e a se apegar aos bens físicos, influenciado pelo status que eles conferem. “O desapego material está ligado a crenças limitantes, muitas vezes enraizadas por pessoas ou situações específicas. Por isso, é importante avaliar se essas crenças ainda são úteis em nossa vida cotidiana”, pontua.
Segundo a psicóloga, o minimalismo financeiro envolve uma mudança de perspectiva e a disposição de reavaliar as prioridades e hábitos de consumo. Essa abordagem não só traz benefícios financeiros, mas também promove uma vida plena, previsível e alinhada com valores e objetivos pessoais. “Ele nos leva a questionar quem somos, por que compramos e acumulamos. É um trabalho de autoanálise, que vem de dentro para fora. Além disso, nos faz refletir sobre nossa relação com os bens materiais e o que eles realmente nos proporcionam e contribui para a sustentabilidade ambiental, incentivando escolhas mais ponderadas e sustentáveis”, conta.
Benefícios do minimalismo para as finanças pessoais
Objetivos de longo prazo
A redução dos gastos desnecessários e a concentração em prioridades financeiras proporcionam maior clareza e controle sobre o dinheiro. “Adotar o minimalismo financeiro significa fazer escolhas conscientes sobre como gastar o dinheiro”, afirma o administrador e consultor financeiro, Lucas Ferreira. “Ao eliminar despesas supérfluas, você pode focar em objetivos de longo prazo, como economizar para a aposentadoria ou investir em educação. Há pessoas que chegam a planejar longas viagens, comprar imóvel e reformar casa”.
Redução do estresse financeiro
Ao manter um estilo de vida mais simples, as pessoas tendem a se preocupar menos com dívidas e com a necessidade constante de consumir. “Quando você simplifica suas finanças, a ansiedade financeira diminui. Você começa a sentir um maior controle sobre sua vida econômica”, explica a psicóloga Ana Costa.
Poupança e investimentos
Com menos dinheiro sendo gasto em compras impulsivas ou em itens não essenciais, é possível direcionar mais recursos para reservas de emergência e investimentos que podem gerar retornos no futuro. “Investir em ativos de longo prazo, como ações ou fundos de investimento, se torna mais viável quando você pratica o minimalismo financeiro”, comenta Ferreira.
Quem mudou de vida com o minimalismo financeiro
Adeptos do minimalismo financeiro frequentemente relatam uma maior sensação de contentamento e paz interior, dizem especialistas. Para eles, esse estilo de vida simplificado não apenas melhora as finanças, mas também promove uma conexão mais profunda com o que realmente importa, proporcionando uma sensação de realização e equilíbrio emocional.
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É o caso da designer gráfica Fernanda Gonçalves, de 35 anos, que enfrentava um ciclo constante de estresse e insatisfação com sua vida financeira. “Não raro, eu costumava gastar impulsivamente com roupas, eletrônicos e jantares caros”, diz. “Sentia uma satisfação momentânea, mas logo depois vinha o arrependimento e a ansiedade. Uma culpa com dezenas de roupas novas, com etiquetas, que eu nunca usava”.
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A designer começou a avaliar cuidadosamente suas despesas e dar prioridade às suas necessidades reais. “Passei a registrar todos os meus gastos e analisar se eram realmente necessários ou apenas desejos passageiros. Descobri que muitas das minhas compras eram impulsivas e desnecessárias. Tinha, na verdade, um problema emocional que eu descontava gastando”, diz.
Fernanda vendeu itens que não usava mais e adotou um estilo de vida mais simples. A designer também passou a promover jantares em casa com amigos e a utilizar transporte público em vez de táxis e aplicativos de mobilidade. “Percebi que, ao reduzir minhas despesas, meu estresse financeiro diminuiu consideravelmente. Consegui pagar todas as minhas dívidas e comecei a investir parte do meu salário. Tenho uma reserva de emergência e até consegui fazer uma viagem para a Patagônia. O minimalismo financeiro me deu uma nova perspectiva sobre o que realmente importa”, relata.
Vida luxuosa
O engenheiro Bernardo Prado, de 42 anos, diz que sempre se sentiu pressionado a manter um estilo de vida luxuoso para acompanhar seus amigos e colegas de trabalho. “Eu comprava carros caros, gadgets (aparelhos eletrônicos) de última geração e frequentava restaurantes sofisticados. Achava que isso era sinônimo de sucesso”, lembra Bernardo.
Mas a vida de aparências do engenheiro o deixou com dívidas crescentes e um sentimento constante de insatisfação. “Eu estava sempre preocupado com dinheiro. Apesar de ganhar um bom salário, nada sobrava no mês”, admite.
A virada veio quando Bernardo não conseguiu financiar o apartamento, às vésperas do casamento. Foi quando ele decidiu reavaliar suas prioridades. “Comecei a desapegar das coisas que não usava e a vender itens de valor que estavam apenas ocupando espaço”, conta. “Reduzi drasticamente minhas compras e passei a focar em experiências, como passar mais tempo com minha família e amigos em atividades que não envolviam dinheiro“.
Sem limite no cartão de crédito
O professor universitário Ruan Marques dos Santos, de 36 anos, sentiu na pele o risco dos exageros financeiros. Viciado em compras on-line, sobretudo em lojas patrocinadas nas redes sociais, Ruan lembra que vivia no limite do cartão de crédito. “Comecei a planejar meu orçamento mensal e a cortar gastos supérfluos. Cancelei assinaturas de serviços que não usava e parei de comprar roupas desnecessárias”, conta.
O professor também adotou práticas sustentáveis, como reutilizar e reciclar, e passou a fazer compras em mercados locais. “Descobri que posso viver com menos e ainda assim ser muito feliz. Agora, valorizo mais as experiências do que os gastos. O minimalismo financeiro me ensinou a viver de forma mais consciente e a apreciar as coisas simples da vida”, afirma.
Cinco livros que ajudam a começar no minimalismo financeiro
- Morra sem nada (Editora Intrínseca, 2024)
Bill Perkins, um dos gestores de fundos hedge mais bem-sucedidos do mundo, apresenta uma filosofia com tom provocativo sobre o valor do dinheiro e qual a relação que ele tem com a jornada da sua vida. O autor oferece um novo viés sobre como e quando é possível transformar economias em experiências, o verdadeiro capital que deveria ser o propósito. Para isso, conduz o leitor por uma espécie de balanço pessoal, ajudando a entender que adiar indefinidamente sonhos e desejos vai de encontro com a lógica de uma vida feliz.
- A psicologia financeira (Editora Harper Collins, 2021)
Abordando a gestão financeira de maneira inédita, Morgan Housel apresenta casos de sucessos e fracassos de investidores que demonstram a importância do fator psicológico no gerenciamento das finanças, oferecendo aprendizados para administrar e fazer o dinheiro render em busca do grande objetivo de todos nós: ser feliz.
- Mente minimalista (Editora Évora, 2020)
O autor Gianini Cochize Ferreira aderiu ao minimalismo em 2015 com o objetivo de criar um estilo de vida mais leve e conectado ao presente. Neste livro, ele traz ao leitor dicas de como iniciar uma vida minimalista, sem exageros e consciente. Explica também que a abordagem é uma prática diária de mudança real no cotidiano.
- Tudo o que importa (Editora Best Seller, 2021)
Aos vinte e poucos anos, o escritor Joshua Fields Millburn achava que tinha tudo o que qualquer um poderia desejar. Mas após a perda da mãe e o fim do casamento no mesmo mês, Millburn começou a questionar todos os aspectos da vida que havia construído e acabou descobrindo um estilo de vida conhecido como minimalismo.
- 100 coisas que milionários fazem (Editora Astral Cultural, 2021)
Os verdadeiros milionários têm uma série de comportamentos conscientes que os levam para o topo da cadeia social. Nigel Cumberland, um dos mais renomados coaches do mundo, usou a experiência de abertura e venda de empresas de sucesso e o treinamento de centenas de líderes para listar os 100 hábitos mais comuns entre os milionários, ensinando o leitor a aplicá-los em sua vida. Cada capítulo apresenta uma nova ideia para mudar a sua mentalidade e criar o portfólio de habilidades necessárias para que possa, enfim, construir e reter riqueza de maneira sustentável.
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